voandocomlivros 29/03/2023
✨ "Posso não saber meu nome, mas tenho uma certeza na qual me agarrar: sou uma bailarina."
É assim que somos introduzidos a narrativa de "Mikaia", conhecemos uma bailarina que flutua delicadamente pelas primeiras páginas. Uma bailarina que não lembra nem do próprio nome, mas seu corpo a faz lembrar de toda a coreografia que precisa dançar.
✨ "Uma gota do oceano nunca será uma coisa fraturada. A água salgada não perde seu caráter de oceano só porque alguém lhe colocou em uma vasilha. Tampouco existem remendos para a água que volta ao mar. Quero me fazer oceano."
Em um primeiro momento, podemos achar que essa narrativa é silenciosa, mas não, pelo contrário, ela grita! Precisamos escutar Mikaia, sentir com o ritmo do coração e o balanço do corpo.
✨ "Danço porque a coreografia mora no meu corpo. Porque a música não me pede passaporte, não me pergunta por minha nacionalidade, não me trata como quem pisa em ovos para não ativar um gatilho escondido que me faça esquecer de tudo para sempre. Danço porque tudo o que preciso é me entregar para o som do piano, para meu corpo e meu movimentos..."
Mikaia é o nome da nossa protagonista. Ela busca recuperar sua memória com um mergulho no passado. Voltar às origens, revisitar seu país natal: Moçambique, e relembrar a infância são suas ferramentas para se redescobrir. Quem é Mikaia? E o quão dolorosa é essa vida que tinha sido apagado?
✨ "Talvez eu precise aprender uma língua nova para traduzir quem sou."
Mikaia vive o impasse de se sentir brasileira e reaprender a ser moçambicana. Assim como a protagonista oscila entre suas identidades, a narrativa também brinca entre variantes do português brasileiro e moçambicano, e sua língua materna, o emakhuwa.
✨ "Ser mulher é ter medo."
A autora tem uma escrita quase lírica, equilibrando a história pungente de Mikaia. Enquanto Mikaia luta por suas lembranças, sua irmã, Simi, se agarra ao presente e as memórias que ela mesma criou como proteção de um trama antigo. Shaina, a avó de Mikaia e Simi, prefere o silêncio. Cada uma lida com o passado do seu jeito, mas ele cobra seu preço, e não é barato.
✨ "Viver a guerra é fazer com que a vida seja maior do que a morte."
Movimentos temáticos como corpo, importância do passado, identidade cultural, guerra, violência contra a mulher, migração, família... transformam o livro inteiro em uma dança linda e melancólica.
✨ "Chorar é o movimento instintivo das partidas."
✨ Todos têm a minha cor, os meus traços. Onde sou tão diferente?"
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