albertoscerri 04/01/2024
A Geni, ao mesmo tempo em que defende um ponto de vista radical sobre a monogamia (a de que ela é uma imposição colonizadora) faz isso com leveza ao sempre salientar que nada na obra é uma regra e que os leitores podem absorver o conteúdo de formas diferentes.
Ela resgata cartas de jesuítas para mostrar como os modos de vida de povos originários envolviam separações e convívio amigável entre ex-companheiros, sem a necessidade de ter um parceiro/a por toda a vida - e sem violência contra mulheres devido a essas questões. Geni associa monogamia à necessidade formatar uma relação familiar capitalista para que a propriedade privada possa ser passada adiante. Ela também tenta responder os principais questionamentos acerca do tema e, por fim, fala sobre sentimentos de insegurança.
Apesar de embasado teoricamente em alguns pontos, o livro tem um formato ensaístico, com muitas elaborações baseadas nas vivências de Geni. Ao final de alguns capítulos, ela compartilha poemas que fez a respeito do tema em discussão. O livro leva muito em conta a perspectiva indígena, de mulheres, pessoas não binárias e com deficiência. Senti falta de um reforço sobre o fato de que mesmo homens brancos cis e héteros sofrem com a imposição das normas que eles reproduzem sem pensar, apesar de se beneficiarem em muitos aspectos (relacionamentos fechados que só são fechados para as esposas).
Termino a resenha com duas frases de Geni:
- "A promessa de exclusividade não garante cuidado, afeto e, paradoxalmente, nem a própria exclusividade".
- "É importante que nos perguntemos: se alguém beija ou se relaciona com uma, nenhuma ou várias pessoas, por que isso incomoda terceiros"?