Tainateixeira92 17/11/2023
Uma Pérola
Esta história me remeteu ao livro "Não Conte Nosso Segredo" da escritora Julie Anne Peters, onde apresenta uma narrativa que, embora compartilhe algumas similaridades e divergências, promove uma reflexão profunda sobre a comunidade LGBTQIAPN+. É visível a diferença temporal entre as publicações, sendo esta de 2023 e a de Peters de 2003, destacando duas épocas distintas, mas a abordagem sobre a temática permanece coesa ao longo das duas décadas. Apesar de ser classificada como juvenil, a obra traz reflexões bastante pertinentes, especialmente para aqueles que estão em processo de assumir sua identidade.
Os adolescentes encontrarão nela uma valiosa fonte de reflexão, compreensão mais aprofundada sobre o respeito às diferenças e a importância de cultivar o respeito. Um aspecto crucial explorado no livro é o comportamento de mães narcisistas, ressaltando a importância do diálogo sobre a não romantização dos pais ou das famílias.
A abordagem do comportamento narcisista da mãe de uma das personagens principais destaca atitudes que impactam profundamente o bem-estar emocional da filha. Essa dinâmica mãe/filha fica ainda mais desafiadora para pessoas LGBTQIAPN+, considerando a possível falta de aceitação ou compreensão por parte da mãe narcisista. O livro destaca a constante necessidade de validação e atenção por parte das mães narcisistas para sustentar sua frágil autoestima.
Esse tipo de comportamento cria um ambiente doméstico em que as necessidades e emoções dos filhos são frequentemente negligenciadas em favor das demandas emocionais da mãe narcisista. No contexto LGBTQIAPN+, já permeado por desafios relacionados à aceitação e compreensão, a presença de uma mãe narcisista pode intensificar o impacto psicológico.
As críticas constantes e as regras impostas, conforme descritas no livro, contribuem para a formação de uma autoimagem negativa e sentimentos de inadequação por parte da filha. O medo da rejeição resultante desse comportamento pode gerar ansiedade, inibindo a expressão autêntica da identidade da pessoa LGBTQIAPN+. Isso dificulta o desenvolvimento de um senso saudável de identidade e pertencimento, agravando ainda mais os desafios já presentes no contexto LGBTQIAPN+.
Diante desse cenário, é crucial que indivíduos que vivenciam situações similares busquem apoio psicológico para enfrentar os efeitos emocionais, desenvolver estratégias para estabelecer limites saudáveis, preservar a autoestima e construir relacionamentos mais positivos. Em minha perspectiva, o livro se revela uma ferramenta excelente para apoiar aqueles que se sentem deslocados e perdidos durante o processo de autoconhecimento e autoaceitação.
*******OBS: 28 nov. de 2023
Resolvi fazer uma observação sobre minha resenha, por conta de algumas mensagens que recebi no privado, por ter gostado do livro que, na opinião delas, é "ruim". Reconheço que a trama é simples, mas a qualidade de uma história não se mede apenas pela complexidade dos enredos. Além disso, recebi críticas sobre a falta de aceitação de uma das personagens. Sim, em vários momentos, "ambas" as personagens mostram imaturidade. Contudo, até hoje, não conheci (e nem fui) um adolescente de 17/18 anos que fosse verdadeiramente maduro e desconstruído. Para mim, essa reflexão foi o fundamental no livro. Às vezes, através de narrativas como essa, as pessoas conseguem compreender melhor suas próprias atitudes e imaturidades. Acredito que o valor do livro reside na capacidade de provocar reflexões. É fundamental entender que a literatura não se restringe a tramas mirabolantes ou a personagens perfeitamente resolvidos. Ela também tem o poder de retratar a complexidade da jornada de autodescoberta e aceitação, especialmente em uma fase tão tumultuada como a adolescência. Vejo esse livro como uma oportunidade para aprofundar a reflexão sobre as nuances da experiência humana, mesmo que alguns o considerem "ruim" à primeira vista. Afinal, a verdadeira magia da literatura está muitas vezes nas lições que ela nos oferece, mesmo nas histórias aparentemente simples.