Lau 26/09/2023Reportagem super interessante, impossível de terminar sem repensar alguns dos nossos preconceitos. Impossível terminar sem desconstruir alguma percepção pessoal sobre as questões do crime, da religião ou o sentido de vida. Pode parecer um assunto nichado, mas em se tratando também de segurança pública, é algo que toca a todos nós. Como podemos pensar a violência urbana a partir das origens que ela realmente tem?
Não é profundamente incômodo pra vocês pensar que para centenas de milhares de pessoas, a vida parece oferecer um único caminho que leve à dignidade?
Esqueça os verbetes da honestidade e da moral. Dignidade, aqui, é a de ter alguma coisa num mundo que te cobra possuir coisas, sejam elas apenas o mínimo para sobreviver ou até respeito, poder. Não deveria ser difícil de imaginar, pois todo mundo sofre por dinheiro, deseja por dinheiro, morre trabalhando por dinheiro para ter essas coisas. E quando um sistema coloca altas barreiras à sua volta que te privam de ter o mínimo, pense: porque alguém não iria contra o sistema?
Mas ainda tem gente que insiste em dizer que bandido nasce bandido. Rouba porque é mau por natureza, não porque a sociedade apela à crueldade. E quando o pentecostalismo surge com uma explicação para "lavar as almas" dos homens no crime e os perdoa ou justifica, surgem novos problemas, mas também uma solução que as instituições não puderam dar. Assim como as facções. A consequência da nossa falha enquanto sociedade foi essa: o peso político de uma religião e diversas gangues sobre decisões públicas em troca de um mínimo de controle sobre o crime
O livro é muito bom. As informações trazidas são muito relevantes, os casos, interessantes. Achei a conclusão meio genérica, mas as últimas 6 páginas não desmerecem todas as outras, né
Esse livro me lembrou de "Entre o céu e o sal", ficção que curiosamente explora essas exatas questões em forma de romance distópico. Vale a pena ler também para ilustrar