Aione 14/07/2023O amor que partiu o mundo é o romance de estreia de Emily Henry — e quem conheceu a autora por suas comédias românticas, achará essa obra no mínimo intrigante. Com tradução de Larissa Helena, o livro não só é voltado para o público jovem adulto — e, portanto, difere das demais obras adultas da autora — como é também uma ficção científica.
Prestes a entrar na faculdade, coisas estranhas passam a acontecer com Natalie. A principal delas é voltar a ver a Avó, uma entidade que a visitou durante seu crescimento e sempre lhe contou histórias. No entanto, a visita agora vem com um alerta: “você tem três meses para salvá-lo” — e Natalie não faz ideia sobre a quem a mensagem se refere.
"— Posso te dizer que a dor de viver vale a pena. Que, se você viver, sua vida será tão plena de amor quanto é sombria, e para cada momento de dor você terá um de alegria também. (…) Mas também, valer a pena não é uma questão quando estamos vivos ou somos amados."
página 323
Com uma escrita envolvente em primeira pessoa, Emily Henry me capturou desde os primeiros parágrafos. Desde início, é perceptível que o tom de O amor que partiu o mundo é também diferente do bem-humorado das comédias românticas da autora, adotando uma atmosfera mais melancólica. O romance versa principalmente sobre identidade, uma vez que Natalie está tentando entender quem é e quem deseja se tornar. Seu momento de vida é crucial nesse sentido, uma vez que é carregado pelo peso das decisões que precisam ser tomadas e que têm o poder de impactar o futuro. Achei também muito positivo o fato da protagonista ter ascendência indígena e as diferentes questões debatidas na obra a partir disso.
"A Avó queria que eu amasse as histórias, que eu as levasse para o meu coração através dos meus ouvidos e permitisse que elas se tornassem parte de mim, me conectando a todas as pessoas que as contaram antes."
página 78
Se inicialmente eu estava adorando a proposta do livro por seu toque sobrenatural e, sobretudo, pelos inúmeros debates nele contidos — fiquei encantada, em especial, pelas discussões sobre psicologia e neurologia, além da importância da cultura da oralidade na transmissão de histórias em inúmeras sociedades —, fiquei surpresa ao descobrir que não havia uma questão espiritual, e sim de ficção científica. Ao mesmo tempo em que essa nova camada deixa, sim, a trama interessante, é também seu calcanhar de Aquiles. As explicações a respeito do que está por detrás do mistério de O amor que partiu o mundo são um pouco confusas, e terminei a leitura em dúvida se haveria ou não um furo no desfecho — ainda que eu tenha gostado muito do impacto que ele trouxe. A história de amor, ainda que importante na trama, não é central — o que pode gerar uma diferente expectativa por conta da capa e do próprio estilo de histórias que consagrou a autora.
Apesar disso e do meio do livro ser um pouco lento, gostei bastante da leitura. A escrita de Emily Henry é muito bonita e trouxe várias reflexões sensíveis, até mesmo com um toque poético. Fiquei admirada em como a autora conseguiu unir temas e debates diferentes, mas que conversam entre si nesse universo, além de ter ficado curiosa para entender os enigmas envolvendo Natalie. O amor que partiu o mundo é um romance de estreia ousado e, provavelmente, imperfeito, mas que me impactou e causou uma ótima impressão.
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