Faty. 05/06/2024
Como terá sido ser uma adolescente sino americana descobrindo sua sexualidade em plena década de 50, nos EUA?
Esse é o mote de A noite passada no Telegraph Club, livro que eu devorei nesse mês do Orgulho. Uma ficção histórica com protagonismo sáfico da escritora lésbica Malinda Lo.
Ela vai nos contar a história de descobertas de Lily, uma adolescente de 17 anos de ascendência chinesa que vive em uma das épocas mais repressoras para as mulheres nos Estados Unidos e também, para a população LGBTI e que, nesse contexto, vai se percebendo diferente dos demais amigos, conhecendo mais de si mesma e de sua própria sexualidade, com as dores e as delícias que isso implica.
Não foi difícil me identificar em vários momentos, com a curiosidade nascente, a estranheza inicial ou as dúvidas e incertezas de quem, de repente ou aos poucos, a depender de cada trajetória, se vê diversa.
Com uma ambientação irretocável, a autora nos traz uma linha histórica entre os capítulos a fim de nos situar no contexto social e político pelo qual viviam aqueles personagens. Um período marcado pelo combate fanático ao comunismo, a perseguição à comunidade sino americana e o esforço destes por se estabelecerem nos EUA num período político tão conturbado e, ainda, o tabu e à repressão sobre a população LGBTI.
Telegraph Club, é uma boate queer em que Lily, junto a sua amiga Kath, visitam nas madrugadas de Chinatown escondidas dos olhares de seus pais e da sociedade. Ali elas estão diante de toda uma efervescência cultural que borbulhava e também de novas possibilidades de existir, até então apenas imaginadas em páginas de livro em prateleiras de farmácia. O universo se apresenta perigoso, mas ainda mais pulsante e libertador. Lily vai, aos poucos, se encantando e se encontrando nesse universo, ao passo em que também encontra um grande e primeiro amor. Um amor entre iguais.
Destaque para o incrível trabalho de pesquisa que Malinda Lo fez para chegar num livro tão cuidadoso e factível como é esse, embora seja ficção, certamente falou bem próximo ao coração de muitas de nós e tenho certeza que se aproximou da história de tantas caminhoneiras ou menininhas por aí.