spoiler visualizarAnabeezus 01/06/2024
Uma versão de A História Secreta censurada.
É inegável como a mídia, principalmente o TikTok, vem influenciando quais livros estarão em maior sucesso momento e, por muitas das vezes muitos livros bons mas desconhecidos acabam por ficarem populares o que, na minha opinião não acontece nesse caso.
Como se fossemos vilões retrata um grupo de amigos de uma faculdade de teatro que precisam lidar com a morte de seu amigo, ao terem uma grande parcela de culpa para esse resultado, durante o ano letivo entre muitas peças shakesperianas, affairs e problema familiares.
A primeiro momentos nós somos jogados em um grupo de 7 amigos que já se conhecem a 4 anos e já tem muitas dinâmicas internas estabelecidas o que me deixou muito insatisfeita porque nós não conhecemos os personagens por completo, ao começar a história já no ultimo ano letivo o leitor não é imerso na história mas privado de ser apenas um espectador.
Entrando com spoilers agora, a morte do Richard não podia ser mais mal elaborada. Ele é o único personagem que apresenta defeitos graves e que faz com que o leitor realmente desgoste dele, essa mudança abrupta não é nem um pouco condizente com "ele ficou com o ego ferido por conta da mudança dos papéis", se ele teve essa reação, ele já era uma pessoa muito agressiva mas não nos mostram isso.
Todos os outros personagens são inteiramente identificáveis e, mesmo que com alguns erros, gostáveis o que, numa história em que se levanta a dúvida sobre um assassinato de um integrante do grupo, não é nem um pouco favorável para a narrativa. Desde o primeiro surto de Richard não havia dúvidas de que seria ele o morto.
Sua presença fantasma não tem sucesso em nos assombrar por mais que o narrador insista incansavelmente nisso. A morte de Richard é um alívio da violência sem sentido e jogada na história.
Não vou negar que a leitura é cativante e por isso as 2.5 estrelas, porém minha opinião é que Como se fossemos vilões se apresenta como uma narrativa ousada mas que na realidade tem medo de ousar, tem medo de brincar com o leitor e permanece na esfera do confortável. É um pré-adolescente querendo se passar por adulto.
É impossível não comparar esse livro com A História Secreta por Donna Tartt: o começo já evidenciando a morte de um dos personagens mais detestáveis, a ambientação dark academia e esse sentimento de superioridade que os personagens passam com os demais que não entendem a arte como eles, até mesmo os estereótipos de alguns personagens (uma mulher desejável pelos homens do grupo, um líder nato, um figurante como protagonista e um babaca como o morto).
No entanto História Secreta acerta onde Como se Fossemos Vilões peca, por mais que Bunny fosse totalmente grotesco assim como Richard, depois de sua morte o leitor passa o resto do livro sentindo falta desse personagem assim como seus amigos, há uma lacuna visível na história. Ele não morre por nada, não é um alívio mas fora necessário, nós sentimos o arrependimento como se nós mesmos tivéssemos matado um amigo.
No mais polêmico desse livro e o que muitos julgam como plot twist, o que pra mim sempre foi bem óbvio, a relação homossexual entre James e Oliver chega a soar exploratória. Totalmente mal construída e usada como um "vou terminar o livro pra ver se esses dois ficam juntos" só pra matar o personagem depois? E mesmo que tenha essa conclusão porca de "o corpo dele nunca foi achado" o que isso muda pro leitor? Agora a gente tem a dúvida se o James lidou com a culpa a vida inteira ou se foi? O que isso agrega?
Enfim eu acho que tendo lido A História Secreta eu espera muito desse livro como narrativa e esperava que me surpreendesse de alguma forma o que nunca aconteceu.