juLuiLes 07/05/2024
"Conhecimento é poder"
O livro "Oppenheimer: O triunfo e a tragédia do Prometeu americano" é resultado de 25 anos de pesquisa histórica. Apoiando-se em uma vasta gama de fontes, que vão de entrevistas a cartas, relatórios do FBI, gravações de áudio e vídeo e etc, Kai Bird e Martin J. Sherwin fizeram um trabalho excepcional.
A biografia do ambíguo J Robert Oppenheimer, "Pai da bomba atômica", retrata toda a formação do personagem, partindo desde a união de seus pais ao fim de sua vida. Além disso, devido à qualidade excepcional da pesquisa, também ficamos sabendo, de forma aprofundada, sobre várias pessoas que foram cruciais na vida do Oppenheimer, como seu irmão Frank, sua esposa Kitty, seu amigo Chevalier e etc.
Para mim, acompanhar toda a formação acadêmica e humana do Robert foi algo CRUCIAL para fazer com que eu compreendesse um pouco mais sobre esse ser humano ímpar e sobre seus pensamentos e ideais. O texto martela bastante na posição política de Oppie ao longo da vida e mostra as suas inconsistências, deixando de lado uma parcialidade. Afinal, o objetivo da obra não é fazer juízos de valor, mas sim retratar a verdadeira vida de J Robert Oppenheimer.
A leitura é extremamente rica e densa, além de ser totalmente acessível. Contudo, ainda que a obra te ambiente bem no contexto sociopolítico do século XX, é necessário um conhecimento prévio para que o proveito seja máximo.
A adaptação, grande vencedora do Oscar, é bastante fiel ao livro. Porém, ela deixa muuuita coisa de lado, visto que o seu objetivo é tratar de um único segmento da vida de Oppie: a construção da bomba e o seu julgamento. Porém, querendo ou não, esse trecho é o auge da obra. Foi muito bom ler e ver a adaptação tratar desse trecho que me gerou tantos questionamentos.
Por isso, acho que além de tratar do Oppenheimer, sua biografia busca trazer diversas reflexões sobre a relação entre a ciência e a política e sobre o uso da ciência como forma de dominação.
Sendo assim, vou destacar as reflexões principais da obra abaixo:
O desenvolvimento da bomba só foi possível graças a uma nova ciência: a física quântica. Suspeitando de que a Alemanha Nazista estivesse desenvolvendo essa arma, devido a descoberta da fissão do átomo por Heisenberg, em 1939, os EUA não perderam tempo e deram início ao seu próprio projeto atômico.
J Robert Oppenheimer, um físico com um histórico de esquerda, foi o responsável por encabeçar o Projeto Manhattan, em 1942, devido a sua genialidade e pioneirismo na física teórica. Inicialmente, diversos cientistas convidados a participar do Projeto Manhattan (programa atômico dos EUA) não aceitaram participar devido as implicações de uma arma jamais vista pela humanidade.
Com o desenvolvimento do projeto, chegou um momento em que não havia mais sentido tático em fazer uso da bomba, visto que a Alemanha já estava derrotada e o Japão estava encaminhando para uma rendição. Muitos dos responsáveis pelo desenvolvimento da arma se opuseram a sua utilização. Outros, como Niels Bohr, propuseram que o mundo deveria ter conhecimento da existência da bomba antes de sua utilização. Oppenheimer, por sua vez, posicionou-se de maneira ambígua, ainda que tivesse ciência das consequências do uso de tal arma, o cientista foi bastante "passivo" em relação às decisões militares dos EUA.
O sucesso militar das bombas, que levaram à rendição japonesa em 1945, elevou muito a posição social dos cientistas e da ciência. Robert se tornou uma verdadeira celebridade, sendo convidado para lecionar em diversas universidades e participar de diversos órgãos científicos, como a Comissão De Energia Atômica, em 1946. Onde ele permaneceu até o ápice do Macarthismo. De herói da nação a infiltrado comunista, em 1954, Robert não teve a sua habilitação de segurança renovada devido a perseguição de Lewis Strauss, que alegou que Oppenheimer representava um "perigo à nação"
Durante o fim de sua vida, Oppenheimer lutou para que fossem criadas políticas de segurança em relação a produção dessas armas, baseando-se no princípio da transparência e cooperação científica mundial. Na visão dele e de vários outros cientistas, somente assim seria evitada a corrida armamentista no tempos de Guerra Fria.
Infelizmente, as políticas vieram tarde demais e hoje vivemos as consequências disso. Nosso mundo é extremamente militarizado e vive sob pressão constante. Sabemos que a qualquer momento a Guerra De Todas As Guerras pode acontecer e terminar a vida humana. As políticas de transparência não são adotadas da forma correta, afinal de contas "Conhecimento é poder". Vale tudo para ser a nação hegemônica, até mesmo lançar bombas atômicas sobre inocentes, ceifando cerca de 220 mil vidas.