Malle 01/02/2024
Eu desejo ser livre
O Homem Bicentenário é um daqueles livros que te fazem pensar, e pensar muito.
Narrado em tercera pessoa, acompanhamos resumidamente a experiência de transformação e revolução de Andrew Martin, um indivíduo a princípio caracterizado como um robô que, por razões de seu desenvolvimento neural, se aproxima cada vez mais do cerne do que é ser humano. Andrew começa sua vida a serviço da família Martin, aqueles cujo impacto reverbera por décadas em sua existência; são eles que lhe dão seu nome, que lhe dão sua primeira conta bancária e que estão lá pela sua primeira batalha legal.
Seu relacionamento com a família e, posteriormente, com outros que o rodeam ? apesar que Andrew nunca é próximo de alguém, como é da família Martin ? é reinado pelas Três Leis da Robótica, leis que buscam proteger primeiramente a Humanidade, e em segundo lugar, o robô. Asimov escreve com maestria como cada ação de Andrew é uma insurreição para com as Leis, e é maravilhoso acompanhar cada decisão de tomar providências para ser cada vez mais comparado como humano, até que de fato lute para se tornar um.
Andrew é, por vezes, mais "humano" que as outras pessoas de sua vida, mas sem perder a racionalização comum aos robôs independentes. Ele é um personagem cuja vontade e luta provém diretamente do Ser, e na inevitabilidade de sentir: ele gosta, ele pensa, ele sofre, ele enraivece. Cada obstáculo é superado com sua perseverança e não podemos deixar de torcer para que ele vença.
Talvez o único ponto negativo é que, por ser um conto, não vemos muito além ser desenvolvido além da vontade de Andrew ser humano. Tudo acontece no decorrer de dois séculos, portanto vemos somente os pontos principais da trama. Outros personagens, enquanto que permanecem na memória do protagonista, não são explorados, mas não incomoda por não ser este o propósito da história.
Um conto gostoso e fácil de ler, e altamente indicado.