theus33 02/07/2023
? ? aquele com uma tia bem excêntrica;;
Clássico dos anos 50, A Mulher do Século figura uma típica comédia americana da metade do século XX. Envolvente e divertido, o livro consegue prender o leitor facilmente, que vira refém das aventuras da protagonista. Entretanto, o enredo não é limitado ao entretenimento, e se estende a criticar as convenções sociais conséquentes do conservadorismo estadunidense por meio de uma personagem extremamente intrigante; Tia Mame.
Mame Dennis é uma figura extravagante e excêntrica da elite de Nova Iorque dos anos 20, que é entregue aos leitores como grande defensora do progressismo liberal característico das vanguardas culturais. Mesmo com a rasa autonomia feminina na época, Mame não sente medo ou deixa de expressar suas opiniões e convicções, vivendo em meio às pessoas mais importantes da metrópole americana.
Entretanto, Mame tem de adaptar seu estilo de vida após ser nomeada responsável legal de seu sobrinho Patrick, devido a morte de seu pai. A partir disso, ambos os parentes vivem uma vida conturbada, passando por períodos históricos como A Grande Depressão e a Segunda Guerra Mundial, enfrentando as convenções sociais do período.
Ao analisar a obra, é perceptível a ideia do autor: criticar a sociedade americana por meio do humor. Chega quase a ser algo machadiano. E de fato. Patrick Dennis consegue colocar pautas sociais em meio a sua obra e abordar temas um tanto delicados, como o antissemitismo estadunidense, a xenofobia, o racismo do sul e claro, a autonomia feminina.
Em diversas partes da obra, é possível enxergar em Mame Dennis o aspecto modernismo, do progresso, indo sempre contra a intolerância, por mais que às vezes ela faça isso da forma mais caricata possível. Ora em comentários sutis, ora discutindo com nazistas, Dennis representa também, de certa forma, a importância de combater o radicalismo da extrema-direita.
Porém, vale ressaltar que tudo isto é feito de um ponto de vista burguês e branco da sociedade americana. Portanto, Mame Dennis, por mais progressista que seja, representa a mesma burguesia e seus valores. É possível perceber na personagem, à parte de todas suas convicções positivas, uma postura anti consciência de classe e portanto, a representação dos movimentos sociais que se restringiram à classe média alta americana e não atingiram a classe trabalhadora. Por isso, reforço: ela representa o progressismo liberal.
Por fim, ressalto também que o fato de o livro ser escrito por um homem também interfere na história; quando Mame perde sua fortuna, o mesmo apresenta para ela como solução o casamento com um milionário, o que acho de muito mal gosto, já que afasta todo o caráter de autonomia que o enredo tenta adicionar à personagem. Sendo assim, finalizo dizendo que, apesar de muito divertido e envolvente, é importante ler A Mulher do Século, com um olhar bastante crítico, pois periga o anacronismo e a interpretação errônea de certas passagens.