Pandora 23/01/2024Instinto MaternoGrandes amizades são imunes a tudo? Por experiência própria acredito que não. É possível ter um amigo, dividir muitas coisas com ele, rir e chorar junto e um dia a amizade acabar. Demorei para aceitar isso, mas amizades acabam e tudo bem, às vezes as pessoas mudam e deixam de ter coisas em comum, às vezes seguem rumos diferentes. Mas e as amizades que estavam no auge do companheirismo e da confiança e são abaladas por um trágico evento?
Os casais Laetitia e David Brunelle, Tiphaine e Sylvain Geniot moram em casas vizinhas num subúrbio tranquilo. Tornam-se ótimos amigos, daqueles que se vêem quase todos os dias e quando as mulheres engravidam quase ao mesmo tempo, ficam ainda mais unidos. Milo, o filho dos Brunelle e Maxime , dos Geniot, tornam-se melhores amigos, quase irmãos. Até que um grave acidente doméstico muda tudo.
Eu gostei da escrita de Abel e de questões que me fizeram refletir lendo este livro, mas não sei se foi porque li em e-book (não, ainda não me acostumei a este formato), achei a narrativa um pouco extensa, ainda que intrigante. A autora leva um bom tempo descrevendo a amizade antes do nascimento das crianças, um bom tempo após o nascimento até chegar no ponto-chave que é o acidente. Aí, sim, afloram sentimentos, surgem desconfianças, atitudes estranhas, dualidades com o intuito de nos deixar um tanto perdidos, o que é muito bacana. Apesar de escrito em terceira pessoa, tendo o foco principal em Tiphaine e Laetitia, é desta última que a narração mais se aproxima em termos de emoções.
Eu acho que a autora fez um bom trabalho em nos aproximar dos personagens e suas vidas. Eu, pelo menos, consegui entender certos sentimentos e atitudes, mesmo quando não concordava com eles. Consegui até mesmo sentir o desconforto da personagem ao mesmo tempo em achava que ela estava exagerando. Também me peguei refletindo sobre o que eu faria em determinada situação, ainda que antes eu achasse que já tinha a resposta pronta. Enfim, muitos pontos positivos aqui.
E então… chegamos ao final. O polêmico final, que muitos não gostaram, incluindo eu. No meu caso, menos pelo caminho escolhido e mais pelo tanto de furos que esta escolha deixou. Aquele tempo lá atrás que eu falei que foi extenso desenvolvendo os relacionamentos antes e depois das crianças, aqui não houve. Foi entregue e pronto. Faltou substância, coerência, lógica. Infelizmente pesou muito no todo.
Ainda assim considero um bom livro. Gostei de ter lido. Quero ver as adaptações. Estou curiosa especialmente pela mais recente. Sendo um filme americano, apostaria na mudança do final, mas o diretor é francês. Quem ganha essa batalha?
E ah!… como anda seu instinto materno?
NOTAS:
1. Barbara Abel nasceu e vive na Bélgica. Seus thrillers psicológicos exploram temas sombrios e a complexidade dos relacionamentos humanos;
2. O livro foi publicado no Brasil pela Globo Livros com o título de Instinto Materno, com tradução de Érika Nogueira;
3. Foi adaptado para o cinema em 2018 com o título de Duelles, dirigido por Olivier Masset-Depasse, com Verlee Baetens e Anne Coesens nos papéis principais. A trama foi situada nos anos 60 na Bélgica;
4. Uma nova versão foi feita em 2023 (estreia prevista em 21 de março de 2024), com o título de Mother’s Instinct, dirigida por Benoît Delhomme, com Jessica Chastain e Anne Hathaway nos papéis principais. O cenário da trama passou a ser os EUA nos anos 60.