Carla.Parreira 22/12/2023
Criando uma vida que seja ideia minha: Crônicas sobre coragem, acolhimento e felicidade feminina (Nina Coelho). Melhores trechos: "...Quando vivemos com medo, as coisas da nossa vida nos assustam, sabe? Arriscar nos assusta, tentar algo diferente nos assusta, nos expor nos assusta, perseguir uma carreira que realmente queremos nos assusta... Então, afinal, o que é coragem? Para mim, coragem é dar espaço para os nossos desejos se manifestarem. É ouvir essa voz baixinha dentro da gente, que precisa de atenção para ser ouvida... É acreditar que somos capazes de tudo que quisermos. E, no fundo, só nós sabemos o que realmente queremos. O que nos move, o que nos faz vibrar, o que nos dá orgulho. Só nós sabemos o que está escondido dentro de nós. Coragem é ouvir esse chamado. Coragem é ter medo, e fazer mesmo assim... O nosso auge jamais vai ser a nossa versão que vivia para agradar o outro, e sim a que construímos cuidadosamente, dia após dia, para agradar a nós mesmas... Colocando na balança todas essas personalidades (e já pedindo desculpas para aquelas que esqueci), resta me perguntar como fazer para não anular uma em detrimento da outra — ou, ao menos, conseguir escolher a versão de mim que me convém a depender do dia e das tarefas que preciso realizar (e da quantidade de carisma necessário)... Só sei que, enquanto tento construir a versão de mim que (1) junte cada parte estranha, sincera e realista de cada um desses sonhos, (2) me faça sentir bem comigo mesma e (3) não abra mão de nenhuma vontade própria em detrimento da aprovação alheia, continuo sendo uma pessoa diferente a cada dia, na torcida para que ninguém me flagre e descubra que sou uma grande impostora inconsistente... Outro dia encontrei uma 'autobiografia' que escrevi quando tinha uns oito anos e lá estava escrito que - pasme - eu queria ser uma grande advogada e morar numa mansão com os meus cinco filhos. É claro que grande parte das crenças que eu tinha quando criança (e até na vida adulta) era formada por ideias de outras pessoas que eu absorvi. Quer dizer, eu realmente admiro quem tem cinco filhos, mas certamente essa não foi uma ideia que surgiu do meu pequeno cérebro de oito anos... Nós adoramos nos sabotar chamando nossas ideias de bobas, de infantis, de loucas, mas quão mais gostosa poderia ser a nossa vida se nos permitíssemos ser bobas, infantis ou loucas? Esses são adjetivos que partem do medo que temos do que os outros podem pensar. E, de novo, essa é a direção oposta à que queremos tomar. Afinal, não estamos aqui para viver os nossos próprios sonhos? Nascemos para criar, para usar todo o universo que temos dentro de nós e compartilhá-lo com o mundo... Quando focamos no resultado e não no processo, nos perdemos no meio do caminho. Quando nos esquecemos de fazer as coisas de que gostamos só porque gostamos, uma parte nossa fica para trás... Apesar de achar linda essa ideia de “jogar para o universo”, acho que nada acontece sem (muita!) preparação, ação e planejamento do nosso lado. O universo, coitado, só consegue ir até certo ponto. Dali para a frente, meu bem, precisamos tomar as rédeas... A forma como nos sentimos durante o nosso dia define, sim, quem somos, como nos sentimos e como tratamos as pessoas ao nosso redor... Precisamos parar de dar tanto valor ao que a audiência espera de nós e finalmente nos preocuparmos em entender o que esperamos de nós mesmas... Talvez seja possível viver a vida, em vez de tentar solucioná-la o tempo todo... Talvez a melhor saída para lidar com um mundo caótico e acelerado seja nos conectar com a nossa criança interior — e ir com calma, dando risada por onde passamos, espalhando o melhor, compartilhando o que aprendemos e olhando para o futuro com otimismo... O que deve sempre continuar é a nossa curiosidade diante da vida, o nosso otimismo diante do desconhecido. Não é esse o objetivo, afinal, irmos criando uma vida que faça cada vez mais sentido? E, à medida que vamos mudando, crescendo, aprendendo e errando, naturalmente vamos querer buscar coisas novas. As primeiras vezes sempre vão estar lá, esperando por nós. Se dermos sorte, elas podem virar uma paixão que vai ficar com a gente por anos. Podem virar aprendizados ou até nos ensinar quais caminhos não queremos seguir... A paz interior que dá quando aceitamos a nossa própria limitação dentro de cada ciclo é reconfortante... Temos uma ideia muito errada sobre o que é dar certo ou errado. Em primeiro lugar, porque esses conceitos só vivem na nossa cabeça, e cada um vai ter uma ideia totalmente diferente. Em segundo lugar, porque eles nos paralisam e nos impedem de ir atrás de coisas que ainda não sabemos se queremos. Já pensou nisso? Por que a única opção precisa ser dar certo ou errado? E se a gente explorar possibilidades que até deram certo, mas acabaram não sendo o que a gente queria? Ou se elas derem errado, e for assim que a gente percebe o tanto que a gente queria aquilo? Para mim, o 'dar certo' tem muito mais a ver com a coragem que precisamos ter para encontrar caminhos na direção da nossa própria felicidade. A partir do momento em que fazemos, em que concretizamos algo, aquilo já deu certo, pois já cumpriu o seu papel e já se tornou realidade... Crescemos com essa ideia de que, para sermos amadas, precisamos corresponder a todas essas expectativas. Precisamos obedecer. Fazer o que é correto. Parece até que não somos o suficiente como já somos, precisamos sempre ser mais... É muito difícil nos sentirmos suficientes de verdade quando não fortalecemos a nossa autoestima. Em algum lugar dentro da gente mora um medo da rejeição, do abandono, da solidão. E talvez esses sentimentos caminhem com a gente por toda a vida. Mas precisamos começar de dentro. Precisamos entender que já nascemos com o suficiente, mesmo quando sentimos que não demos o nosso melhor. Mesmo quando nem queremos dar o nosso melhor. Mesmo quando não fizemos o que queríamos ter feito. Ou não fomos o que queríamos ter sido. Nós somos o suficiente mesmo quando erramos, mesmo quando nos arrependemos, mesmo quando temos vergonha. Nós somos o suficiente... O engraçado é que vamos ficando mais velhas e, em vez de ficar mais leves e despreocupadas, só passamos a nos preocupar com coisas diferentes (mas continuamos achando que elas são o fim do mundo). O que muda é que começamos a achar que não vamos mais ter tempo de fazer o que queríamos... É muito triste estar num relacionamento em que sabemos que precisamos performar para sermos amadas, e isso inclui o nosso relacionamento com nós mesmas..."