Queria Estar Lendo 25/08/2023
Resenha: M de Monstra
M de Monstra é uma sensível releitura de Frankenstein, pela autora Talia Dutton. O quadrinho foi lançado pelo selo Suma HQ, da Editora Suma (que cedeu este exemplar em cortesia), e acompanha uma cientista que, ao tentar ressuscitar a irmã, cria outra pessoa.
Frances perdeu a irmã, Maura, em um acidente no seu laboratório. Grande pesquisadora e cientista, a doutora Frances Ai finalmente consegue reconstruir o corpo da irmã e dar vida a ele através dos seus aparatos. A ideia era trazer Maura de volta à vida, mas quem acorda no corpo dela é outra pessoa.
Essa pessoa não tem as lembranças de Maura, e nem as vontades ou a existência dela. Em uma espiadinha no espelho do quarto, essa pessoa vê o fantasma de Maura, e descobre que realmente é outra pessoa. Decide se chamar de M, e também decide que não vai contar a verdade para Frances. A verdade pode matar M para tentar trazer Maura de volta, e M quer viver.
M de Monstra é uma história emocionante sobre identidade, amor e luto. Uma releitura sensível do clássico Frankenstein, de Mary Shelley, que faz muito jus ao original, ao mesmo tempo em que entrega um sopro de ar fresco com a nova abordagem.
A relação entre as irmãs nos é apresentada através do amor que Frances tem pela Maura, e pela amargura que carrega por ter sido "responsável" pela morte dela. A doutora Frankie dá vida a M porque precisa de Maura de volta, e se prende às memórias e ao amor, cega para a possibilidade de sua criação não ser realmente o que buscava ter criado.
O conflito em volta disso é bastante tenso, porque a sensação de perdição da M é nítida nos traços da personagem, e na sua maneira de reagir às situações. M de Monstra usa bastante da relação criador e criatura que Frankenstein apresentou, mas principalmente de uma relação irmã e impostora.
Gostei muito de todo o desenvolvimento do quadrinho, que é simples em abordagem, mas carrega uma mensagem forte sobre liberdade e identidade. M descobre quem é e o que ama no decorrer das páginas, mas precisa de coragem para apresentar isso a quem ama.
Os paralelos com o original e a roupagem nova que Talia Dutton apresenta na trama são notáveis. Como a grande apaixonada por Frankenstein e Mary Shelley que sou, fiquei de coração quentinho com a releitura. É fiel, e é uma homenagem, mas também é moderno e aproveita a abordagem tóxica do criador e da criatura para discutir sobre família e possessão.
A edição da Suma HQ ficou linda demais. O papel é naquele estilo folha grossa que já usaram em Lore Olympus (que eu adoro, e que é cheiroso demais!). A tradução de Helen Pandolfi também tá ótima, com uma boa adaptação para o português.
M de Monstra é uma leitura rápida e querida para quem ama o clássico, para quem quer conhecer o clássico, e mesmo para quem nunca chegou perto de Frankenstein. Fala sobre uma monstrinha que está se entendendo pessoa, e sobre uma família quebrada que precisa aprender a seguir em frente sem um dos seus pedaços mais importantes.
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