Resenhas -

Lucas 06/11/2023

@leiamesecapaz
Recentemente, abri um projeto pessoal para ler autores premiados com o Nobel. E minha segunda leitura foi ?Um Circo Passa? do escritor francês Patrick Modiano, que ganhou o Prêmio Nobel de Literatura em 2014.

O livro conta a história de Jean, um jovem de 18 anos que vive em Paris nos anos 1960. Ele se apaixona por Gisèle, uma mulher misteriosa e sedutora, que tem um passado obscuro e envolvimento com pessoas perigosas. Os dois vivem uma aventura amorosa, fugindo da polícia e de outros inimigos, pelas ruas e bares da cidade.

A história é narrada pelo próprio Jean, mas em dois tempos diferentes. O leitor nunca sabe ao certo o que é verdade e o que é mentira, o que é real e o que é imaginário, o que é lembrança e o que é invenção. O narrador também não sabe, pois ele mesmo admite que sua memória é falha e que ele pode ter inventado ou esquecido alguns detalhes.

O livro também tem uma outra camada temporal, que é a da Ocupação nazista em Paris, durante a Segunda Guerra Mundial. Esse período é o pano de fundo da história, pois é nele que se originam os segredos e os conflitos dos personagens.

O estilo de Patrick Modiano é marcado pela simplicidade e pela elegância. Ele usa uma linguagem clara e precisa, sem muitos floreios ou descrições. Ele prefere sugerir do que explicar, deixando lacunas e pistas para o leitor preencher. Ele consegue retratar a Paris dos anos 1960 com muita vivacidade e charme, mas também com uma certa melancolia e tristeza.

Os personagens são envolventes, complexos e fascinantes, e o enredo, cheio de surpresas e de reviravoltas. É um livro que mistura ficção e realidade, memória e imaginação, amor e violência, de uma forma muito original e envolvente. Para quem gosta de literatura de qualidade, de romance policial e de história, ?Um Circo Passa? é um tiro certeiro.

EduardoCDias 12/09/2023

Paris e seus mistérios de amor
Prêmio Nobel de literatura, nesse primeiro contato fui fisgado. Um rapaz é deixado pela família em Paris, sob circunstâncias estranhas e tem que desocupar o apartamento onde mora. Mas, na delegacia conhece uma ladra e se envolve com ela, apaixonando-se e envolvendo-se em negócios misteriosos.

Milla 27/08/2023

O protagonista e narrador é Jean, um jovem de 18 anos que não estuda nem trabalha e vive em um apartamento às margens do Sena. Seus pais mudaram-se para o exterior, provavelmente para sempre, a fim de escapar de ?problemas?. Paira o fantasma da ocupação nazista durante a Segunda Guerra Mundial.

Jean conhece Gisèle, pouco mais velha e mais experiente do que ele, quando ambos saem de depoimentos à polícia que ocorrem em circunstâncias nebulosas até para eles. Modiano dá início então a uma trama em que se forma uma pequena rede de desconhecidos. Os personagens vivem um drama típico das obras do autor, a impossibilidade de apreender o outro, assim como a realidade em sua inteireza.

Modiano retoma frequentemente o período antecedente a seu nascimento, em 1945. Seu pai era judeu mas teve ligações com o colaboracionismo durante a Ocupação. Como observa Ajzenberg no posfácio de Um circo passa, o escritor pertence à ?juventude esmagada que viveu entre os horrores da Segunda Guerra e as conquistas comportamentais e políticas que chegariam a partir do final da década de 1960?.

IvaldoRocha 19/06/2023

Um jeito diferente de contar.
No início estava bem incomodado com a maneira como Patrick Modiano, prêmio Nobel de 2014, descrevia seus personagens, tudo pela metade, nada muito esclarecedor, depois percebi, que a estória estava sendo contada muito depois de acontecida, sendo puxada pela memória, aos poucos, de forma imprecisa, mas não sem uma certa magia no contar.

Jean jovem de 18 anos, que (aparentemente) frequenta a faculdade de letras só para fugir do serviço militar, mora no apto alugado pelo pai, que deverá ser entregue em pouco tempo, pois o pai aparentemente fugiu de Paris e deverá morar em definitivo na Suíça, sua mãe, que ele não vê há muito tempo, está em algum lugar da Europa.

Mora junto com Jean, Grabley um secretário/assistente de seu pai, que aparentemente tem como principal preocupação, limpar o escritório do pai de Jean, sumindo com toda papelada, um tanto incriminadora lá existente.

À época em que se passa a estória ainda tem um certo ranço da ocupação nazista em Paris e deixa uma impressão de que o pai de Jean talvez tivesse algum envolvimento com colaboracionistas na época.

Vários personagens vão surgindo, como todos, imprecisos, parecem sempre esconder alguma coisa.

O romance tem início com Jean prestando depoimento à polícia, seu nome tinha aparecido na agenda de alguma pessoa que estava sendo investigada, não se sabe a razão, ao sair da sala onde prestou depoimento, entra uma jovem também para prestar depoimento, e ele resolve esperar que ela sai para tentar descobrir alguma razão pela qual foi chamado a depor. Ela é Gisèle, uma figura mais misteriosa do que todas as outras.

Existem alguns momentos no presente, onde ele encontra lugares ou pessoas daquela época e tentar relembrar com mais precisão do passado, mas agora tudo é passado.

Muito do que está na vida de Jean é a biografia de Patrick Modiano, ter sido praticamente abandonado pelos pais e ser criado pelos avós, depois colocado em um internato e vai para a faculdade de Letras e assim como Jean ele pouco a frequenta, passa a circular no meio literário e publica seu primeiro livro em 1968 e em 1978 recebe o prestigiado prêmio Goncuort, em 2014 recebe o prêmio Nobel.

Edição Ilimitada da editora Carambaia, como sempre muito boa e com um preço pouco acessível.

Val 03/06/2023

Um circo que realmente passa, sem avisar que vai embora.
Com um enredo despretensioso e simples, o Prêmio Nobel francês (2014) Patrick Modiano inicia seu romance Um Circo Passa com dois protagonistas num relacionamento estranho e biografias misteriosas. Aliás, todo terço inicial da obra é propositalmente enigmático visando surpreender-nos lentamente na evolução da leitura.
Narrando na primeira pessoa, como memórias, o autor abusa das citações de localidades e endereços parisienses causando-nos a impressão de um certo exibicionismo referente ao seu conhecimento da capital francesa. Revela nas entrelinhas deste texto ligeiro, sôfrego e ansioso, tudo o que a Segunda Guerra marcou em sua formação.
A tensão aumenta na história elevando o nível de angústia do leitor. As incógnitas começam a se encaixar, mas sem solução. Passados remexidos são surpreendentemente revelados corroborando o clima da obra e aumentando o suspense. Os protagonistas, perambulando por lugares depressivos e apesar de terem muito a esconder um do outro, compartilham os mesmos sonhos.
Uma obra rápida, enigmática e parece-nos relativamente simples por ser curta e abrupta, mas, por ser uma obra aberta, nos desperta inúmeras possibilidades de criar e tomar nossas próprias soluções criativas num raciocínio elucubrado à Umberto Eco. O livro entra em nossa mente como realmente um circo que passa por nossa cidade, trazendo-nos sonhos e emoções e rapidamente indo embora sem aviso prévio.
Valdemir Martins
022.06.2023


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