Jade 27/02/2024
Entre conexões e fragmentos
Comecei a leitura em um momento que eu estava rompendo um vínculo da minha convivência. Eu, buscando organização, e a outra pessoa abraçando o caos, me mostrando uma vida menos asséptica e mais oxigenada. Não entendi muito bem o que ela queria dizer até me deparar com esse livro. "A sujeira é agressiva, mas a limpeza é verdadeiramente violenta", nos diz Sofia, e continua logo em seguida: "foi a busca pela purificação que fez com que incorporássemos uma cosmologia colonial, imperialista e sanguinária" (2022, p. 24). Eu fiquei bem impactada com as críticas que Sofia direciona à Psicologia, enfatizando a perigosa intervenção que dociliza os afetos infames e não escuta as sujeiras. Para ela, a Psicologia devia constantemente buscar estratégias de assombramento e de perturbação, que fosse mais resistente aos moralismos e mais próxima dos desconfortos, fragilidades e obscenidades que as sujeiras revelam. Adorei o tom lúdico e poético que Sofia inventa a narrativa, com provocações, relatos pessoais, caça-travas (caça-palavras), palavras-viadas (palavras cruzadas), rabiscos nos textos, linhas para serem preenchidas e, claro, o épico anti mandamentos para atrapalhar a gramática da violência (amei!). As referências bibliográficas foram muito boas também, cito "Descolonizando a Psicologia: notas para uma Psicologia Preta", de Lucas Veiga (2019) e "Relatar a si mesmo", de Butler (2015), entre tantas outras que parecem incríveis. É um texto que não só dialoga com quem lê, mas convoca! É um convite para sairmos da fossilização de um saber que invisibiliza perguntas e se apressa em colonizar respostas. Tantos ecos que essa leitura provocou. Acho que vou ter que retomá-la em outro momento, por ora, vou me contentar com a revisita dos fragmentos que grifei. Aaa, e conheci Sofia pelo artigo "Pesquisando a dor do outro: os efeitos políticos de uma escrita situada" (2020), que por alguns meses foi minha leitura de cabeceira. Recomendo a leitura de ambos.