spoiler visualizarJussara 19/05/2024
Cadê o foco?
Só concluí a leitura de "Amanhã, amanhã e ainda outro amanhã" por estar envolvida numa leitura coletiva. Do contrário, teria abandonado nos primeiros capítulos tamanha a lentidão da narrativa que, ainda por cima, não chega em lugar nenhum. Resolvi insistir na leitura, não só pelo compromisso com a LC, mas também pra me dar a chance de ler algo totalmente fora da minha zona de conforto. Não curto games, sequer sei ligar o aparelho no qual se joga, então, ficar aguentando referências desse nicho a cada três parágrafos foi um desafio grande. Acontece que, num determinado ponto do livro essas referências a games diminuem bastante, mas isso ao invés disso melhorar minha experiência de leitura, pelo contrário, só a fez piorar. Piorou porque descobri que, a meu ver, a sinopse não combina em nada com o livro, pois fala que a obra é sobre dois amigos que criam jogos juntos. Dois amigos? Talvez numa realidade alternativa não mostrada do livro. O que eu li foi que Sam e Sadie não se respeitam, não se tratam com gentileza, passam mais tempo sem se falar do que convivendo... só posso concluir que a definição da autora sobre a amizade é totalmente diferente da minha. E Sam e Sadie criam apenas um jogo, ao longo dos vários anos em que a história se passa. Para colocar um pouco mais de amargor na minha experiência de leitura, a autora matou o personagem que eu achava mais interessante (é só por ele que avaliei o livro com 2 estrelas), de um jeito totalmente aleatório só pra colocar mais um assunto no livro do qual ela ainda não tinha falado até então: a associação entre violência e o hábito de jogar games e o ódio pela população LGBTQIA+. Aliás, aleatoriedade é a palavra chave desse livro, é impressionante como a escrita da autora não tem foco. Uma quantidade enorme de assuntos são abordados (depressão, dificuldade em se aceitar como amputado, a dificuldade de viver como imigrante nos EUA, transtornos alimentares, relacionamentos abusivos, dificuldade em lidar com a sexualidade, preconceito de vários tipos, grupos extremistas...) Mas nada é aprofundado e, pior, no meio desses assuntos sérios outros, bem nada a ver, são colocados. Há uma situação em que a autora numa página está explicando o coração partido do Sam quando ele descobre que Marx e Sadie (aliás, que menina insuportável!!!), estão juntos e na seguinte está contando como o Sam encontrou a cadela que adotou e como ela é constantemente confundida com um coiote... Enfim, o livro carece de foco, de um fio condutor o que tornou minha experiência com ele bem ruim.