lais.paulino 08/05/2024
Pimenta e mel, entrelaçados
Esse livro tem gosto de chocolate.
Esse livro pode ser sentido como uma tarde quente e tranquila, com o sol em meu rosto me fazendo querer viver. Viver mais.
Esse livro pode ser ouvido como um som de deleite de uma música de amor intensa de R&B.
Esse livro tem cheiro de café sendo passado no meio da tarde.
Esse livro é exatamente como Pimenta e mel. Intenso, doce e...
Um livro de uma mulher preta escrito para mulheres pretas, que prova que o amor preto existe, que a amizade preta existe, e nós, mulheres pretas, merecemos e podemos viver exatamente isso. Okay, isso pareceu um discurso motivacional fajuto, mas ei? Eu juro que a sensação de lê-lo é maior que isso. É como encontrar um lugar que parece que você sempre quis estar, vivenciar.
Li criticas a esse livro e tentei compreendê-las, mas de verdade? Nenhuma fez sentido para mim (digo, para minha experiência individual). Bolu Babalola consegue criar um mundo divertido, entre pessoas pretas reais, em um ambiente universitário, e o que é a universidade se não surtos, fofocas e intrigas bobas? Eu realmente não sei. E ela traz isso de uma forma alegre, com desenvolvimento de personagens únicos e bem construídos, inclusive os secundários. Estereótipos? Um pouco, mas quem nunca olhou para alguém apenas pelo estereótipo principal do seu grupo de amigos? Mais uma vez, isso é o ambiente universitário e autora trabalha excelentemente com isso, porque, queridos, não vamos mentir, não vamos fingir que há tanta maturidade assim para sermos superiores a tudo isso (digo, quem não ama uma fofoquinha de vez em sempre?).
A trama principal do romance não é mais do que espetacular. A autora constrói uma personagem feminina forte, mas bagunçada (ops, nós mulheres pretas meio Kiki), e a desenvolve, conseguimos sentir com ela, entendê-la, entender seus maiores medos e também seus maiores desejos. E o que dizer de Malakai? Que nego doce, meus queridos, que nego doce. Sua história é bem desenvolvida e acabamos nos apaixonando junto com Kiki, porque sinceramente? Dá pra entender, né?
A questão de discussões sociais e raciais permeia todo o livro, mas não de uma forma cansativa, já que obviamente não há aprofundamento das pautas, porque de verdade: você está lendo um livro de romance, não um artigo acadêmico sobre "a solidão da mulher negra" , "colorismo" ou o "racismo institucional no ambiente universitário". Pessoas pretas merecem viver para além do racismo e acho que é isso que o livro passa, meio: "ei, podemos discutir o racismo aqui sim, podemos também fazer piadinhas sobre e também podemos simplesmente viver". Feminismo liberal? Não, em nenhum momento a autora trás a luta individual como sua principal pauta, Kiki é uma mulher negra, incentivando a coletividade entre mulheres pretas. A militância de Kiki é apenas uma de suas faces, acho não só isso incrível, mas também lindo como isso se entrelaça com suas amizades ao longo do passar do livro.
Para além disso, as referências pretas que estão em todo o livro são perfeitas! Nunca tinha lido um livro com referências de músicas somente pretas e isso foi inovador e incrível de se ler, principalmente junto com uma playlist inspirada nas músicas. Sinceramente? Maravilhoso, o amor pela música durante todo o livro fica evidente e não é simplesmente jogado no livro, como em muitos que já li, a música aqui é uma personagem, ela tem voz e se entrelaça no enredo dos protagonistas, é lindo de se ver (e escutar rs).
Obrigada Bolu Babalola por entregar essa obra de arte. Favoritado com 5 estrelas.