jota 01/07/2023GOSTEI: livro interessante, goste você ou não de sentir a sua língua roçar a língua de Luís de Camões, como quer Caetano VelosoLido entre 22 e 30 de junho de 2023.
O livro de Caetano W. Galindo, cujo título foi inspirado na canção “Língua” de outro Caetano mais conhecido, o Veloso, citado aí em cima - e o compositor baiano canta: “Flor do Lácio, Sambódromo Lusamérica, latim em pó / O que quer / O que pode esta língua?” -, é exatamente aquilo que diz seu subtítulo: “Um passeio pela formação do nosso português”. Ou seria do nosso idioma brasileiro? Conforme já queria décadas atrás outro famoso compositor, tal qual Caetano, um dos melhores talentos de nossa música, o carioca Noel Rosa? Que não é citado por Galindo.
Com sua canção “Não tem tradução” Noel dizia que “Tudo aquilo que o malandro pronuncia é brasileiro, já passou de português.” Verdade que Noel Rosa parecia então querer com sua letra criticar os estrangeirismos presentes em nossa língua (ou no nosso samba) que vinham, sobretudo, através do cinema e da música estrangeiros, mas no fundo ele também estava dizendo, ou refletindo, que era preciso “valorizar a fala popular brasileira como patrimônio linguístico e forma legítima de identidade nacional.” Ou, como quer Caetano Veloso, “A língua é minha pátria / E eu não tenho pátria, tenho mátria / E quero frátria”, mais uma vez citado por Galindo.
Justamente a fala popular é um dos fatores que impulsiona a nossa língua, que não é imutável, estanque, então Galindo mostra com seu livro a transformação (evolução) do que viria a ser o nosso português (ou brasileiro) desde a Europa, passando por Roma, depois por Portugal e recebendo aqui a enorme contribuição dos povos originários e também dos negros africanos escravizados. Um longo processo que o autor paranaense não transformou num aborrecido (para leitores comuns) ensaio acadêmico, mas num livro que todos podem ler com bastante interesse e sempre aprender alguma coisa. Eu aprendi várias.