Gabriel Perez Torres 13/04/2024
As Longuíssimas Estradas da Busca
Mohamed Mbougar Sarr, em "A Mais Recôndita Memória dos Homens", apresenta-se como um digno sucessor de Roberto Bolaño, explorando temas de obsessão literária, busca e desaparecimento que são reminiscências de "Os Detetives Selvagens". No entanto, a promessa de uma narrativa envolvente se perde em meio a uma execução que, a partir da metade do livro, torna-se arrastada e cansativa.
O romance começa com uma premissa fascinante: a busca de um jovem escritor pelo autor misterioso T.C. Elimane, cuja obra-prima, "O Labirinto do Inumano", desapareceu quase tão completamente quanto seu próprio criador. Ponto de partida que sugere um mergulho emocionante nas profundezas da literatura e da memória humana, prometendo reviravoltas e revelações impactantes.
Desde o início, a narrativa cativa com seu estilo lírico e as complexas redes de histórias que prometem entrelaçar o passado e o presente de forma significativa, conquistando através de reflexões literárias e discussões que incluem o colonialismo, a identidade e o poder da literatura em moldar a realidade e a memória.
Contudo, à medida que o romance avança, a jornada do protagonista em busca de Elimane torna-se excessivamente prolixa. O que era uma exploração intrigante de personagens e motivos literários logo se transforma em um relato enfadonho, onde a promessa de descoberta se perde descrições intermináveis, mantendo como recompensa para o leitor que insiste na leitura, apenas boas digressões filosóficas.
O ritmo da narrativa sofre, tornando a leitura uma tarefa mais árdua do que prazerosa. Embora "A Mais Recôndita Memória dos Homens" se destaque por seu belo uso da linguagem e complexidade temática, não pode-se ignorar que a segunda metade do livro carece da energia e direção que inicialmente promete. A busca pelo escritor desaparecido, embora central para a trama, arrasta-se de maneira que testa a paciência do leitor, culminando em um clímax que, apesar de eventualmente satisfatório, chega tarde demais para redimir totalmente a experiência.
Em resumo, enquanto Sarr mostra um talento inegável para a prosa e profundidade temática, "A Mais Recôndita Memória dos Homens" poderia beneficiar-se de uma narrativa mais enxuta e focada. Para os admiradores de romances literários densos e filosóficos, este livro ainda oferece muito a ponderar e apreciar, mas aqueles em busca de uma trama ágil e envolvente podem se encontrar desejando que a jornada tivesse sido mais condensada.