Vania.Cristina 03/11/2023
Um vampiro humanizado e uma realidade assustadora
HQ com cinco histórias com o personagem Drácula, pela visão do argentino Breccia, publicadas em 1984 e 1985. São bastante coloridas, sem texto, com personagens caricatos, grotescos, distorcidos. O traço é cheio de curvas e figuras arredondadas. Não percebemos, à princípio, mas todas as cinco histórias têm uma certa linearidade. As três primeiras são leves e bem humoradas. Drácula nelas é bobo, frágil, decadente. Ainda temido por alguns, na verdade pouco perigo representa. Na terceira história, o vampiro está mais humano que nunca porque está apaixonado. Aqui o traço fica majestoso, bonito e com maior leveza. Na quarta história o bicho pega (e Breccia se expõe). O vampiro não assusta mais ninguém. A narrativa é um soco no estômago: chocante, terrível, sombria e assustadora, com assassinatos cometidos pela ditadura militar, tortura, mães chorando pelos seus filhos desaparecidos, abusos de crianças, diferenças sociais gritantes, miséria e fome. Drácula presencia tudo e fica cada vez mais assustado. Na última história o bom humor volta quando o vampiro segue Edgar Alan Poe num bar. Mas há melancolia porque algo se perdeu. É nesse final que a mensagem que permeia toda a obra se conclui: o terror clássico não é páreo para a realidade cruel.