livrosepixels 22/05/2023Muito império pra pouca coisaPrimeiramente, devo dizer que esse livro não é dignatário de 5 estrelas como a maioria está avaliando aqui, pelo simples fato que, se fosse possível resumir o livro nas partes em que realmente fazem bastante sentido, daria um livro de no máximo umas 60 páginas.. Os demais capítulos são histórias relacionadas, mas facilmente descartáveis também, não influenciando na estrutura principal.
Dito isso, vamos adiante. A história começa mostrando como é a vida dos tapeceiros de cabelo, que dia após dia trançam os intricados fios para formar o que no final de uma vida resultará em um tapete. É o trabalho feito pelo pai, que foi feito pelo avô, pelo bisavô e assim consecutivamente. Perder um desses tapetes significa o fim da vida para muitos deles, já que passam a vida toda empenhados nisso. Para outros, questionar a função dos tapetes é quesito para morrer.
O primeiro capítulo do livro já nos dá um grande impacto, ao mostrar o qual enraizada está essa cultura, a ponto de que um pai tapeceiro só pode ter um filho homem, e caso tenha um segundo, precise matá-lo. Afinal, os tapetes são feito de cabelos longos, não curtos. Além disso, esse ofício só pode ser passado de um pai para um filho, não para dois ou mais.
Tem toda uma discussão religiosa entorno disso, tanto é que há pregadores a favor do imperador, e pessoas que fazem as simples pergunta de "por que fazemos isso?" são acusadas de heresia, apedrejadas, presas e na maioria das vezes, mortas. É uma sociedade tão arcaica e não evoluída, que o papel das mulheres na sociedade é apenas servir de esposas e concubinas aos homens tapeceiro. Tanto é que há um capítulo em que uma mulher, que nunca se casou nem foi concubina de ninguém, lamenta sua posição social de mera caixeiro-viajante, já que agora já não tem mais idade para algum homem se interessar por ela. Soa machista, sim, mas entendo que foi proposital para mostrar como ideias que não evoluem se tornam permanentes em sociedades que não evoluem.
A construção de mundo é rápida, mas interessante: há toda uma estrutura envolta, como os mercadores de tapetes, os marinheiros imperiais, entre outros. Cada capítulo do livro nos leva a conhecer um personagem diferente que, se conecta com a história, expande o universo, mas que não está diretamente ligada a trama principal, que é o mistério dos tapetes, para onde eles vão, para que servem, já que logo no começo ficamos sabendo que não há um único tapete de cabelo no salão imperial.
O que segura a narrativa até o fim, de fato, é este mistério sobre os tapetes, pois fora isso, a leitura às vezes caminha por lugares bem desinteressantes e cansativos. Após quase 200 páginas sem relevar muita coisa, aí sim chegamos aos capítulos finais que nos darão as respostas esperadas. E digo para vocês, não é uma solução "nossa, que incrível". É aceitável, mas fica aquela sensação de "tanto barulho para no fim ser só isso?"
O livro deixa-nos pensativos sobre temas como religião, evolução social, negacionismo, fanatismos religioso, entre outros. Tanto que se fosse avaliá-lo só por "opera espacial" daria uma nota bem baixa (pois esse livro tá bem longe do que é comumente chamado de opera espacial. Tem sim elementos disso, mas bem poucos). Mas, analisando toda a estrutura, ideias e conjecturas, acaba por se tornar uma obra mais apreciável e com nota melhor.
Ah, e o capítulo final se conecta diretamente com o primeiro, e achei estupendamente bom a forma como o autor mostra a mudança de realidade dessa sociedade. O final é muito, muito bom.
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