Ana Dido 05/06/2023
Parábolas singulares
"O Louco" é um livro bastante curto (± 50 páginas), que nos traz várias parábolas escritas por Khalil Gibran, um escritor e pintor libanês. São textos cheios de espiritualidade e eu diria até mesmo com morais. Alguns me agradaram mais. Destes, trarei uma análise pessoal abaixo. Portanto, se não quer conhecer o conteúdo do livro, pare de ler por aqui.
- Parábola "O Louco"
O interlocutor nos informa que suas máscaras foram roubadas por ladrões enquanto ele dormia.
"Homens e mulheres riram de mim e alguns correram para suas casas com medo de mim". > Quando abandonamos nossas máscaras sociais, muitos irão rir de nós por termos expostos nossas vulnerabilidades. Outros se esconderão porque não sabem lidar com elas.
"E, em minha loucura, encontrei tanto liberdade como segurança: a liberdade da solidão e a segurança de não ser compreendido, pois aquele que nos compreende escraviza alguma coisa em nós". > Quando loucos e despidos das máscaras, somos tão livres a ponto de nos sentirmos solitários em um mundo disfarçado de convenções e interesses. Ser compreendido de fato é ser escravizado pelo outro através das correntes do afeto.
- Parábola "Meu Amigo"
"Meu amigo, eu não sou o que pareço. Parecer é apenas uma roupa que eu uso - uma roupa tecida com cuidado que me protege de seus questionamentos e a você de minha negligência". > Penso que este texto trata sobre o desconhecimento das pessoas acerca do nosso verdadeiro eu. Nós escolhemos o que queremos mostrar de nós mesmos aos outros. Dificilmente revelamos ao mundo nossos pensamentos mais ocultos e desejos mais íntimos. O "eu" real só existe dentro de mim. O "eu" real nem sempre é agradável. As pessoas conhecem apenas versões de nós.
"O 'eu' em mim habita a casa do silêncio, e nela permanecerá para sempre, impenetrável, inacessível".
"E eu falo com você com sabedoria e cautela. No entanto, estou louco. Mas eu disfarço minha loucura. Gostaria de ficar sozinho com minha loucura. [...] Meu amigo, você não é meu amigo, mas como lhe farei compreender? Meu caminho não é o seu caminho, mas juntos caminhamos, de mãos dadas". > A verdade é que todos somos estranhos uns aos outros e, ainda assim, que respeitemos a loucura oculta em cada um.
- Parábola "Os Dois Eremitas"
Você não pode controlar o que as pessoas falam ou fazem, mas pode controlar o modo com que vai reagir às palavras e às atitudes.
- Parábola "O Astrônomo"
O interlocutor pergunta ao cego sábio qual o caminho de sabedoria ele seguia. "Disse ele: eu sou astrônomo. Então ele colocou sua mão sobre seu peito dizendo: eu observo todos esses sóis, luas e estrelas". > Existe um universo em cada um de nós, devemos, pois, ser astrônomos de nós mesmos, isto é, sermos observadores de nós mesmos. Isso me lembra o famoso aforismo "conhece-te a ti mesmo".