Rachel M. Mendes 08/04/2024
Enganoso é o Coração do Homem!
Indubitavelmente, uma de minhas características preferidas na Literatura Gótica é a noção central de que toda vez que o homem cede aos próprios desejos, ele encontra a sua própria destruição. Victor Frankenstein cede ao vício doentio pelo conhecimento e, assim, se autodestroi; Heathcliff cede à sede por vingança e se autodestroi; Dorian Gray entrega-se à vaidade e se autodestroi; Dr. Jekyll deixa-se levar por seus desejos hostis e se autodestroi. O desejo humano é enganoso, destrutivo e envenena àquele que a ele doa-se.
Em "O Médico e o Monstro", tal ideia foi retratada de maneira magistral em una estruturação de história fora do comum e surpreendente! De fato, o relato final de Jekyll é o ponto alto da trama. Ademais, ainda que todos saibamos a real identididade de Henry Jekyll e Edward Hyde, a maneira que os eventos são revelados a nós leitores não falham em trazer-nos surpresa e interesse!
Devo confessar que a escrita de Robert Stevenson não me agradou, por mais que sua capacidade criativa e filosófica seja admirável. A demasiada objetividade e uso bastante superficial da função poética e das figuras de linguagem me decepcionou. Mesmo que tais fatores não mudem o fato de a trama ser excelente, creio que uma escrita mais rebuscada e sensível (como a de Shelley) teria muito a agregar à leitura da história. Ainda assim, é um ótimo livro!
Outrossim, a edição que possuo contém o conto Markheim: uma história psicológica e sombria debruçada sobre um repentino assassinato. Pergunto-me a respeito da identidade do misterioso visitante. Ouso dizer que, guiando-me pela filosofia dupla de Stevenson, o visitante seja um reflexo do ID e da atrocidade presentes no próprio Markheim.
Finalmente, "O Médico e o Monstro" foi una leitura sensacional que desejei (e creio que, a depender do autor, poderia) ter sido mais longa! Recomendarei essa história, sem dúvida alguma!