Yeda 15/09/2022
É impossível não reconhecer as obras de Charlotte Brontë, sempre permeadas de seus princípios e opiniões únicas sobre estudos, dever, mérito e honestidade, além de seus personagens austeros. "O Professor" parece um protótipo de Jane Eyre, que pende mais para o lado psicólogico das personagens do que uma trama propriamente dita. Histórias e protagonistas similare , no entanto as características tão apreciadas em Jane Eyre são desmedidas em William Crimsworth e se tornam quase defeitos. O amor próprio se torna orgulho, a educação se torna tirania, a austeridade se torna crueldade e o senso de superioridade é tao exacerbado que caminha junto com a ingratidão. Nesse livro, todas as personagens são dissecadas sob aspectos psicológicos e julgadas de acordo com os ideias de Brontë . O detentor desse julgamento tão crítico, William Crimsworth, assim como Eyre, enfrenta diversas dificuldades as quais supera com sua pungente sensação de dever e seus princípios inabaláveis. Charlotte Brontë era uma impecável analista de personalidade e caráter, e já em seu primeiro romance isso fica claro. E, mesmo o protagonista sendo o professor Crimsworth, Frances é quem traz a leveza necessária para a narrativa e expressa os pensamentos mais ardorosos da escritora: a liberdade e a intelectualidade da mulher.
Ainda assim, "O Professor" também tem em seu âmago a originalidade, que aparece através de Hunsden, provavelmente a personagem mais inteligente da trama, que é sempre desprezado pelo complexo de superioridade de Crimsworth, pois sua inteligência é prática e vem da vida. É uma leitura gostosa, apesar de perder quase todo seu fulgor nos últimos dois capítulos e, por ter lido a obra mais famosa de Brontë, reconhecer temas, aflições e ideias não tão exploradas em seu primeiro livro, mas com certeza com menos filtro(em diversos momentos a narrativa quase toma o tom de desabafo) é interessante, tal como ver a evolução de sua narrativa.
Sobre Emma, só posso dizer que é infeliz que a obra não tenha sido terminada; a leitura de dois capítulos tão promissores foi agridoce, pois parece que traria uma nova faceta da autora. Ter esse vislumbre de algo tão único e que isso seja arrancado do leitor de forma tão brusca e rápida chega a ser trágico.