Suzana.Kawai 19/11/2023
A geração do quarto
É infalível: sempre que sou descoberta como professora de 200 adolescentes, lá vem uma manifestação de solidariedade, pois o mundo está acostumado a pensar nessas criaturinhas como seres difíceis. Eu agradeço sempre a empatia, mas, de verdade, na maior parte do tempo, gosto muito de acolher e compreender tais figuras. Isso exige preparo e, por isso, foi tão certeiro ler "A geração do quarto". Em seu livro, Hugo Ferreira compartilha depoimentos de pais e adolescentes, ouvidos durante uma pesquisa acadêmica. Em pouco menos de 150 páginas, reconheci o perfil de vários dos meus alunos e de suas famílias, especialmente daquelas que chegam confessando o completo desconhecimento de seus filhos. Levei três dias para ler tudo e teria terminado antes, não estivesse organizando uma feira de ciências em fim de ano letivo. O autor não se conforma com a explicação rasa de que a adolescência é rebeldia natural e passageira. Ele observa pais perdidos, adoecidos mentalmente e que, por um motivo ou outro, não construíram laços afetivos com seus filhos. Sozinhos, esses jovens refugiam-se em seus quartos, conectados com estranhos pelo celular. Faltam-lhes competências socioemocionais e, portanto adotam mais comportamentos violentos ou de risco, ainda que tenham acesso a todo tipo de informação. Praticam e sofrem bullying, por vezes, se automutilam num sinal claro de que não sabem o que fazer com o que sentem. Quem está com eles? Quem os reconhece? Quem lhes ensina os caminhos para lidar com as frustrações? A geração do quarto é filha de pais igualmente ansiosos e perdidos, mas que podem encontrar um caminho de aproximação e autoconhecimento através de seus próprios filhos. Sim, o livro tem uma perspectiva otimista e nos encoraja a abraçar os inomináveis. Super indicado para pais. Obrigatório para pedagogos e professores.