Evy 07/09/2022"Torne 1984 ficção novamente" Eu li 1984 há uns 10 anos atrás e fiz a releitura nessa edição lindíssima publicada pela DarkSide Books. Em ambas as leituras, os sentimentos foram os mesmos: medo, pavor, angústia, opressão e desesperança. Embora esteja classificado (e como um dos maiores e mais famosos) no gênero distopia, para mim é um exemplar do pior terror que pode existir: o humano.
Narrado em terceira pessoa, 1984 nos apresenta a vida de Winston no ano em que dá nome à obra numa Londres que agora pertence à Oceânia, uma superpotência controlada por um governo totalitário, o Partido, e comandada por um líder conhecido como o Grande Irmão. Há outras duas superpotências: a Eurásia e a Lestásia que vivem em constante guerra entre si.
O protagonista pertence a uma classe social intermediária e trabalha no Ministério da Verdade, onde sua função é editar reportagens de jornais antigos alterando os fatos para que o passado esteja de acordo com as diretrizes do governo atual. Assustador não? E isso é apenas o começo. Outras características terríveis dessa sociedade nos são apresentadas ao longo da leitura e vamos ficando cada vez mais incomodados.
O governo não busca somente poder político e a centralização num único líder absoluto, mas o controle total da sociedade através da dominação de todas as instâncias da vida. Tudo é controlado pelo governo, inclusive o pensamento, a forma de se expressar, a linguagem, a alimentação, a literatura, enfim... Tudo! Os livros, inclusive, assim como as notícias, estão sendo todos traduzidos para a nova linguagem imposta pelo Partido e todas as casas possuem teletelas que servem como televisores e câmeras pelas quais todos são observados.
Winston vive numa dualidade de sentimentos, pressionado a aceitar o sistema vigente, mas sentindo uma necessidade de se rebelar contra ele, quando começa a ter mais contato com sua colega de trabalho, Júlia, uma jovem rebelde que odeia o Partido. Winston acaba se apaixonando por ela e ambos decidem partir em uma revolta secreta contra o governo, unidos pelo amor e pelo desejo de liberdade.
Não me sinto de forma alguma capaz de colocar em palavras a grandiosidade dessa obra e todas as importantes nuances de sua abrangência política, social e cultural, mas me atrevo a trazer minha humilde opinião em relação ao ponto alto dessa obra para mim, que é sua vertente psicológica. A forma como o governo consegue influenciar a mente das pessoas e o nível aterrador e cruel a que chegam em suas ações (sala 101, nunca me esquecerei) demonstram que a crítica de Orwell não era somente a um governo totalitário, mas a corrupção e desintegração humana.
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O meu ponto de partida é sempre um sentimento de partilha, uma noção de injustiça. Quando me sento para escrever um livro, não digo para mim 'vou produzir uma obra de arte'. Escrevo porque existe alguma mentira para ser denunciada, algum fato para o qual quero chamar atenção, e acredito sempre que vou encontrar quem me ouça". afirmaria o autor em seu ensaio Por que Escrevo de 1946.
Uma obra essencial, assustadoramente atual, dolorosa, difícil demais de ser lida e absorvida, mas extremamente necessária. Recomendo demais a leitura, em especial nesta edição que traz introdução e um perfil do autor por Romeu Martins, posfácio de Carlos Orsi e ainda cartas e ensaios do próprio autor que complementam e ajudam a compreender a obra!
Se ainda não leu, o que está esperando? CORRE!!