Tuca 21/09/2022Regina Maria Roche foi uma romancista irlandesa que viveu entre os séculos XVIII e XIX. “Os filhos da abadia: Oscar e Amanda” (1796) foi seu terceiro romance e na época, um fenômeno de vendas, sendo referenciado por grandes nomes que vieram após ela como Jane Austen em “Emma”, Lucy Maud Montgomery na trilogia de Emily e Georgette Heyer em “Arabella” segundo a página do livro na Wikipedia, e sendo influenciada pelo estilo gótico de Ann Radcliffe (autora de Os mistérios de Udolpho e de Um romance na Sicília). Coincidência ou não Ann e Regina nasceram no mesmo ano e iniciaram suas publicações após 1790. A própria literatura gótica de Regina Maria em “Os filhos da abadia” misturava-se com o romance sentimental criando uma narrativa que se fosse adaptada para uma telenovela seria muito provavelmente campeã de audiência.
Oscar e Amanda são dois irmãos que sofrem uma vida de infortúnios. A mãe deles havia sido privada de sua herança pela crueldade da madrasta, a qual usou do casamento sem aprovação da enteada como uma forma de envenenar o pai contra ela. Além disso, a madrasta também usou de várias artimanhas para impossibilitar qualquer reparação na relação entre pai e filha de modo que apenas ela própria e sua filha fossem as únicas herdeiras do marido. Apesar das dificuldades, Oscar e Amanda foram criados com amor, mas a sociedade não perdoava o “defeito” da pobreza, e isso foi lhes impossibilitando de viver outro tipo de amor, o amor romântico com aqueles por quem os irmãos haviam se apaixonado.
Enquanto Amanda, foco da história, se apaixona pelo charmoso Lorde Lortimer; Oscar vai se encantar por Adelia, filha de um oficial de alta patente do seu regimento. Mas ambos vão ser de início privados do amor por um mesmo vilão: Coronel Belgrave. No entanto, não é apenas Belgrave que entra no caminho de Oscar e Amanda Fitzalan, há toda uma sociedade preparada para julgar principalmente Amanda. Por sua pobreza, por sua origem e por inveja da sua beleza e boas maneiras. E o pior, o próprio Lorde Lortimer, apesar de apaixonado, é um mocinho influenciável e orgulhoso. Ele é um personagem que amamos em uma página para odiarmos na seguinte, assim como Amanda, a qual por vezes eu quis torcer o pescoço, pois a personagem é criada para ser uma representação da virtude, sempre disposta a se sacrificar por tudo e por todos.
A trama lembra muito “Emmeline” de Charlotte Smith, porém eu compreendi Emmeline como uma persona mais madura que Amanda e que não atraia para si tantos sofrimentos desnecessários na busca por proteger sua virtude e sua moral. Emmeline é também, assim como Amanda, a personificação da virtude, porém ela consegue ser mais racional. Com o livro cheio de personagens maquineístas, o que é comum na literatura gótica, os poucos personagens que são mais falhos findam por se destacar. E por mais que eu saiba que é uma característica normal do estilo, achei que esse foi um dos romances góticos em que essa dualidade de personagens 100% bons ou maus era muito extensiva, bem mais do que outros do mesmo gênero que eu já li.
É importante falar como essa é, além de um romance, uma história sobre como as ações dos pais afetam seus filhos, e tendo há pouco terminado de ler “O moinho à beira do Rio Floss” de George Eliot em que isso também acontece não tenho como não comparar como os caminhos dos irmãos Oscar e Amanda foram diferentes dos de Tom e Maggie. Não apenas pelo fato do Sr. Fitizalan escolher uma via mais amorosa, mas também por Oscar ter uma essência bondosa e altruísta que o ligava por completo a sua irmã. A solução do conflito dos irmãos Fitzalan ocorre justamente por eles terem algo que faltava aos Tulliver: confiança e fé um no outro.
Se você ama dramas daqueles dos mais parecidos com novelas mexicanas, vai amar “Os filhos da abadia”. É um livro impossível de largar. A cada segundo a história muda e o casal enfrenta obstáculos gradativamente maiores para alcançar o seu feliz para sempre. Amanda e Lorde Lortimer são protagonistas de uma história de amor das mais emocionantes. A cada página virada eu tinha uma expectativa de que algo iria acontecer para que eles ficassem juntos; quando juntos, eu aguardava o que iria separá-los dessa vez. Até o final, não há um minuto de paz no enredo. Repleto de aventura, de mistério, de romance, de fé e de amizade, “Os filhos da abadia” é um dos melhores livros publicados pelo Clube de leitores da editora pedrazul até o momento.
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