spoiler visualizarMatheus 22/07/2022
A primeira peça escrita pelo Bardo, não poderia deixar de ser uma tragédia. E com um grau elevado do gênero trágico, Titus Andronicus é literalmente uma carnificina. A história se situa em Roma, já no período de decadência do império, onde Titus é um general que acaba de conquistar uma vitória contra os godos, guerra essa que dos seus 24 filhos, apenas 4 voltam com vida. Ele traz alguns prisioneiros, dentre eles a rainha, seu amante mouro e seus três filhos, sendo um deles morto e esquartejado pelo próprio Titus. O general apoia a nomeação de Saturninus como novo imperador romano, que se casa com a rainha dos godos. Esta motivado pela vingança é responsável por quase todas a catástrofes da trama. Dentre elas o assassinato de seu cunhado, o estupro de sua esposa, assim como a mutilação de seus membros. Essas são apenas algumas dos vários acontecimentos horrendos da peça. Se pudessem espremer as páginas de Titus Andronicus com certeza escorreria sangue. ?Será que um homem bom pode gemer, sem que os céus o escutem compassivos? Marcus, ajude nessa sua insânia, que tem no coração mais cicatrizes, que marcas do inimigo em seu escudo, porém tão justo que ele não se vinga. Que os céus então se vinguem por Andronicus.?
Timon de Atenas, a maior explosão de misantropia em toda a literatura universal, e, no fundo, a comédia de um homem nobre que não sabia adaptar-se a esta vida infame. Timon é um cidadão rico e respeitável em Atenas, que usa a sua fortuna para agradar amigos por meio de presentes e agrados. Em um determinado momento sua fortuna findará, os credores aparecem e Timon recorre ao seus amigos. Mas não recebe a ajuda na mesma mensura que a ofereceu gratuitamente. A partir desse momento Timon torna-se um homem amargo, avarento e egoísta; mostrando uma terrível face do protagonista. Timon morre na sua melancolia e em sua lápide deixa a seguinte mensagem: ?Neste infeliz, alma e corpo não prestam; Sem nome, lanço pragas aos que restam! Aqui jaz Timon, que viveu odiando; Me maldiga ao passar, mas vá andando.?
A terceira das quatro grandes tragédias shakespearianas, Rei Lear, é a peça de dimensões cósmicas, na qual a Natureza inteira começa a girar em torno da crueldade incompreensível da existência humana. Semelhante a Macbeth as principais cenas se passam a noite. Rei Lear é um monarca de idade avançada, que convoca suas três filhos para repartir os seu reino, em função da demonstração de amor de cada uma delas. As mais velhas Goneril e Regan hipocritamente demonstra seu amor ao pai com palavras lisonjeiras, enquanto a mais nova, Cordélia sente-se incapaz de dizer tais palavras. Ela é deserdada, suas irmãs com seus maridos assumem o trono da Bretanha, e como forma de ingratidão, fazem com que o Rei Lear fuja. Paralelamente a isso vemos as tramas de Edmund contra seu irmão e seu pai. Rei Lear perambula por uma floresta, em sua loucura, no meio de uma forte tempestade símbolo de sua tristeza. Cordélia reuni tropas para combater as irmãs, neste conflito ela e seu pai são capturados e condenados, Edmund é morto por seu irmão Edgar, Goneril e Regan se suicidam, e Cordélia enforcada e o Rei Lear também morre com sua filha em seus braços. ?Quando a alma está em sossego, o corpo é mais sensível: a tempestade da minha alma apaga em meus sentidos toda outra sensação senão a que dói aqui.?
E em Coriolano, a vitória da plebe bruta sobre o herói viril é tão revoltante que a atitude do dramaturgo já foi interpretada como violentamente reacionária; na verdade, a peça parece dizer: a história pretende ser tragédia dos heróis e acaba em comédia dos imbecis. O mundo, para Shakespeare, tornou-se problema. ?Vil matilha de cães, cujo mau hálito odeio como o pântano empestado, e cuja simpatia estimo tanto quanto o cadáver insepulto e podre que deixa o ar corrompido e irrespirável: sou eu que vos desterro, e aqui vos deixo com vossa inconsistência. Que o mais fraco rumor o coração vos deixe inquieto, e que só com moverem seus penachos vos insuflem terror os inimigos. Ficai com força para banir todos os vossos defensores, até o dia em que vossa ignorância, que só entende quanto venha a sentir, tiver limpado com todos, menos vós ? os inimigos de vós mesmos ? alfim vos entregando como fracos escravos a algum povo que vos conquiste sem fazer esforço. Por vossa causa desprezando Roma dou-lhe as costas. O mundo é muito grande.?