spoiler visualizaranna v. 12/01/2022
Bem fraco
Não curti essa leitura. Não tendo lido o primeiro livro, Mulheres sem nome, que fez muito sucesso, não sei o quanto este sofreu da “maldição do segundo livro”. Lendo o Epílogo, percebi que muitos personagens foram inspirados em figuras histórias reais e em suas biografias, o que ajuda a tornar o livro menos brilhante, uma vez que é preciso ater-se aos fatos.
Temos três narrativas que vão se alternando: Eliza, nos EUA, Sofya, na Rússia, e Varinka, também na Rússia. O livro começa em 1914 com as amigas Eliza e Sofya juntas nos EUA. Elas são muito amigas, muito ricas e muito aristocratas (Sofya é prima do czar), e Sofya acaba dando à luz antes do tempo, e o bebê Max nasce na propriedade de Eliza. Em seguida elas duas vão para Petrogrado/São Petersburgo, onde frequentam bailes etc. e presenciam o início dos levantes populares, às vésperas da Primeira Guerra.
Eliza volta para os EUA, e a partir de então a ligação entre ela e Sofya ficará só em pensamento e cartas que elas se escrevem, mas honestamente, são histórias independentes. Eliza é casada com Henry, por quem é apaixonada, e eles têm uma filha de 11 anos, Caroline. Eles vivem em NY mas compram uma propriedade rural em Southampton, que Henry quer reformar. Mas pouco depois, Henry sai para jogar tênis na chuva com o amigo Merrill, e quando volta para casa pega uma pneumonia fulminante e morre, deixando a esposa e a filha inconsoláveis. Algum tempo depois, no entanto, Eliza reencontra Merrill na casa de amigos em comum, e sei lá por quê, eles começam um romance (deve ter havido referência a alguma ligação romântica prévia, mas se houve, eu perdi). A Primeira Guerra está rolando (já é 1917) e Eliza constrange Merrill por não ter se alistado. Então ele se alista como aviador, e no final do livro sofre um acidente quase fatal. Logo depois de terminada a guerra, Eliza se despenca até Paris para encontrar Merrill (oi?), num momento tipo “loucos de amor”, mas ele está muito debilitado, desfigurado com gás mostarda etc. Por um milagre, ela consegue localizá-lo facilmente em um hospital de campanha e levá-lo de volta para os EUA, onde vai ser enfermeira dele. E, grosso modo, este é o arco da história de Eliza. De relevante, além disso, só seu trabalho altruísta ajudando imigrantes aristocratas russas que conseguem chegar nos EUA, na penúria, fugindo dos bolcheviques.
Já Sofya sofre um bocado mais. Órfã de mãe, ela vive com o pai, Ivan, a madrasta Agnessa (uma mulher fútil) e a irmã mais nova, Luba, que é intelectual e adora astronomia. Quando a situação começa a ficar muito ruim para a aristocracia russa, eles fogem da cidade para a casa de campo, em Malinova. Lá, contratam Varinka, uma camponesa local, para trabalhar como babá de Max. Varinka vive numa isbá miserável com sua mãe, Mamka, que costura muito bem, fala francês e joga cartas de tarô (personagem sui generis), e com Taras, um lenhador/caçador que entendemos que foi meio adotado pelos pais de Varinka, mas o pai já morreu. Taras fica então meio cuidando das duas mulheres, mas tem um crush esquisito por Varinka (que no começo da história tem só 14 anos), que envolve principalmente vê-la nua, a distância. No fim do livro entendemos que Taras é fruto de outra ligação do pai, e portanto ele e Varinka são meio irmãos.
A família fica então vivendo nessa casa de campo, alheia a tudo o que está acontecendo no país, e ainda desfrutando de privilégios que acabam por provocar sua ruína. Agnessa é o maior exemplo da falta de noção das classes altas, mas mesmo Sofya acha normal chegar em casa e ter um criado para “tirar suas luvas”. Só Luba parece se preparar para o pior.
E o pior acontece. O povo toma a residência de assalto e mantém a família presa em um quartinho insalubre. Max, de 2 anos, fica com Varinka, o que deixa Sofya histérica. Sofya consegue subornar empregados e foge. Vai para a capital pedir ajuda do czar, e inacreditavelmente consegue entrar no palácio sem que ninguém veja, e encontrar suas primas, mas elas também já são reféns dos bolcheviques e nada podem fazer para ajudar. Inacreditavelmente-2, ela consegue sair do palácio sem ninguém reparar, e volta para Malinova. Mas então já é tarde e toda sua família já foi morta e queimada.
Ela resolve então seguir, de carroça puxada por uma égua, para Paris, sozinha (!!!). Leva mais de 1 ano nessa viagem, e durante esse tempo não temos muitas notícias. A não ser que, durante esse tempo todo, ela levou uma muda de rosa, enviada dos EUA pela amiga Eliza, junto ao seu corpo. Aí para mim foi o limite do ridículo. Uma aristocrata que nunca trabalhou na vida, entre 1917 e 1918, vai sozinha de carroça da Rússia até Paris, e ainda levando uma muda de rosa que não morre? Menos!!
Quando chega em Paris, outro choque de realidade. Sofya não tem mais amigos na cidade e não tem um tostão, e para não se prostituir, arranja um trabalho de contadora de um bordel, e depois ganha dinheiro vendendo o cabelo comprido. Com o dinheiro, ajuda outras imigrantes russas em situação ruim. Sofya sempre altruísta.
Varinka, Mamka e Taras também vão para Paris, e levam 1 ano e meio nessa viagem. Eles estão por cima agora, são bolcheviques. Varinka cria Max como filho, mas Mamka desaprova. Eles matriculam Max numa creche, e Sofya acaba encontrando o filho, ao se aproximar da comunidade russa em Paris. Ela reencontra uma prima, que sobrevive tocando piano num bar, só para ver a prima morrer no dia seguinte, assassinada por “vermelhos” que perseguem “brancos” (aristocratas). Esse me pareceu um dos vários momentos em que a autora quer contar um fato histórico e usa uma cena ficcional que fica simplesmente gratuita e perdida no meio do livro.
Varinka passa por várias mudanças. De camponesa retraída e tímida a revolucionária bolchevique. Em São Petersburgo ela conhece outro cara, Radimir, e eles se apaixonam, mas ela não pode ficar com ele porque Taras é possessivo e não a deixa falar com ninguém. Em Paris ela reencontra Radimir, e eles vivem um romance secreto. Ela é jovem, quer curtir a vida, mas tem que cuidar de Max, o que a certa altura parece ser um capricho. Mamka insiste que ela tem que devolver a criança à mãe. Mamka arranja um emprego de costureira na Maison Lavin, e vai bem de vida. No fim, Sofya consegue reencontrar seu filho, e encontra também Eliza, que foi para Paris procurar Merrill. Tudo termina bem, até mesmo para Varinka, que vai curtir a vida.
Eu honestamente não sei por que resolvi ler o livro e muito menos por que fui até o final. Não achei empolgante em nenhum momento. E ainda por cima a edição brasileira é impressa em papel fino e ruim de ler.