Lodir 03/05/2011Em 2008, o jornalista Laurentino Gomes lançou seu primeiro livro, “1808”, sobre as mudanças ocorridas com a vinda da família real portuguesa para a colônia Brasil no ano ao qual o título se refere. Como o jornalista fazia parte da editora Abril, e havia trabalhado em várias revistas da casa (incluindo Veja), o livro teve uma boa divulgação por essa parte da imprensa, ganhando rapidamente notoriedade. Desde então, três anos depois, o livro continua como best-seller na lista dos dez mais vendidos de não-ficção, um feito notável para um livro de história. O segredo, dizem os leitores, é uma linguagem simples e agradável, feita para atingir o grande público, que nada se parece com os livros didáticos adotados pelas escolas.
Em 2010, Laurentino lançou seu segundo livro, “1822”, uma continuação de sua estréia de sucesso. O tema agora era a independência do Brasil. Esse é, segundo Laurentino, outro período importante da história brasileira que é rodeado de mitos e desconhecimento, o que justificaria o lançamento da obra.
Assim como o livro anterior, Gomes se destaca por trazer um tema complexo e cansativo – como qualquer livro de história geralmente é – e tornar a leitura agradável. Essa é uma característica do autor que parece ter dado certo.
Ainda assim, o livro não consegue ser tão cativante quando “1808”, e a leitura não flui tão rapidamente, ainda que não seja ruim. Não sei dizer exatamente o porquê – talvez o problema nesse segundo volume seja o tema. Trata-se de um período de muitas guerras, que marcaram a luta dos brasileiros pela independência, o que não acontece tanto no anterior. Como nunca fui fã de descrições ou narrações de batalhas – nem na ficção nem na não-ficção – talvez esse seja o problema. Confesso que pulei algumas partes, principalmente páginas que traziam a biografia de personagens nem tão conhecidos e importantes. Como tudo é uma questão de gosto, vai do leitor encontrar ou não um defeito aí.
O destaque do livro fica por conta da importante participação de Dom Pedro I na luta. Sua trajetória é contada desde o início, assim como sua decisão de lutar pelo Brasil, mesmo contrariando sua própria família, incluindo o pai que comandava Portugal. Gomes traça um perfil interessante do personagem, desde sua vida na guerra até os aspectos mais pessoais, incluindo sua relação com as mulheres, os filhos, o pai e o irmão, com quem travou batalhas. Também gostei bastante dos capítulos dedicados à imperatriz Leopoldina e ao rei Dom João XI.
O mais interessante na obra de Laurentino Gomes é a capacidade do autor em levar o leitor de volta à época a qual ele retrata. Assim como alguns autores fazem em belos romances, Laurentino traz uma narrativa detalhada que torna o leitor capaz de se imaginar no período abordado, como se acompanhasse as cenas de perto. É como uma viagem no tempo.
Gomes vem sendo fortemente criticado por historiadores, que vêem seus livros como uma mera reportagem jornalística, e não uma pesquisa histórica de fato. Não é justo, já que ele se baseia em uma farta biografia (citada do livro), além de viajar aos lugares onde se passaram os grandes acontecimentos. Recentemente seu site pessoal foi invadido por hackers com essa justificativa. É uma lástima, levando em consideração o trabalho que o autor vem fazendo, levando os livros de história a outro patamar na cultura brasileira, e fazendo-os best-sellers como ninguém jamais conseguiu. Com a ajuda de Laurentino, agora se pode dizer que história no Brasil vende livros. No entanto, não é do perfil do brasileiro reconhecer o trabalho de seus bons escritores – como a relação com a obra de Paulo Coelho mostra – então não é de se admirar que os livros de Laurentino Gomes sejam mais prestigiados em Portugal que no Brasil.