Roberta 05/10/2022
Francesca: uma mulher muito intrigante
Gostei de conhecer a Francesca. Sempre achei muito estranha essa escolha da autora de esperar o livro de cada Bridgerton para apresentá-lo ao leitor, e a Frannie foi uma das irmãs que menos tinha aparecido até o livro 6 (na verdade, eu acho que ela apareceu em apenas uma cena, e teve pouquíssimas falas). Isso faz com que a gente tenha bastante desapego em relação aos personagens, e eu confesso que, apesar de essa série ser sobre uma família, quase não vejo eles realmente sendo como uma família. Os irmãos tendem a aparecer e desaparecer com muita rapidez, e em geral os diálogos entre eles são muito superficiais. A Francesca, no entanto, é diferente, porque ela de fato prefere ficar um pouco distante da família, pois se sente meio sufocada em relação a eles.
Então, considerando esses fatos, eu estava curiosa para conhecê-la, e confesso: adorei. Deus sabe o quanto eu detestei as mocinhas virgens e puritanas dos livros passados, enquanto os cavalheiros eram todos tão experientes e sexualizados. Francesca, no entanto, havia sido casada com John antes de ficar com Michael, e ainda quando estava em seu primeiro casamento, se pode dizer que havia uma veia maliciosa e astuciosa correndo forte dentro dela. Eu gostei disso, gostei mesmo, e gostei ainda mais dela ser uma mulher de personalidade tão forte e tão independente...
Isto é... até ela se aproximar de Michael.
Não sei quantas vezes já repeti isso em minhas resenhas sobre essa série, e não sei quantas vezes mais repetirei, mas eu acho deprimente a falta de capacidade dessa autora de escrever sobre um casal de maneira saudável, e não tóxica. Nesse livro mesmo, as coisas iam muito bem, e eu estava adorando o desenrolar dos acontecimentos, a forma como o Michael era charmoso e sedutor sem ser inconveniente, provocando Francesca e tudo o mais, mas, de repente, como se picados por algum bicho ou coisa parecida, quando os dois finalmente ficaram juntos, puf, a magia se quebrou e Bridgerton voltou a ser o mesmo romance abusivo de sempre.
Eu detestei, detestei, a forma como o Michael se comportou em relação à Francesca, quase que culpando ela por não sentir nada por ele, querendo que ela se apaixonasse a todo custo. E mais ainda, quando ele começou a fazer um joguinho psicológico muito duvidoso para convencer ela a se casar com ele. Chances de isso dar errado? Muitas! E realmente deu, e muito, errado. A pobre Francesca ficou muito culpada por estar "traindo" o marido, e toda hora lá estava o Michael pressionando a ferida, forçando a barra, se impondo para cima dela, sem respeitar o tempo de luto, que pode ser bem diferente de pessoa para pessoa. Imaginem, Michael era o primo do John, praticamente irmão, e eles eram muito próximos. Quando casada com John, Francesca era muito próxima de Michael e o via apenas como amigo, nada mais. Ele era o apaixonado da história, não o contrário. Ele tinha passado anos em silêncio, engolindo o amor no seco, e aí quando a Francesca finalmente deu bola para ele e começou a nutrir algum sentimento romântico, Michael decide que quer mais e mais e mais. Ele não a respeitou em nenhum momento, e isso foi me incomodando muito conforme a leitura avançava. E depois fiquei pensando por que diabos então a autora teria escolhido um assunto tão delicado quanto o luto para basear um romance se ela é incapaz de agir com delicadeza. Como sempre, ela faz com que a mulher se sinta culpada por ser quem é e pensar o que pensa, e faz do homem o coitadinho que não pode passar um trabalho na vida.
Só deprimente.
Mas nem tudo foram espinhos, pois também houve botões de rosa desabrochando. Como eu disse, Francesca e Michael são personagens muito interessantes, e só o fato de a Frannie NÃO SER VIRGEM na primeira vez deles foi uma bênção! Eu juro, eu não AGUENTAVA mais ler as cenas de sexo dessa série. Eram TODAS iguais. Além de elas não serem nada sexy, me davam uma sensação muito ruim na boca do estômago, pois os homens usavam o sexo quase como uma arma contra as mulheres, ou, se não uma arma, um motivo de troça e de fazer com que elas se sentissem diminuídas e humilhadas. Mas a Francesca não... ela se sentia poderosa, e eu estava adorando a forma como ela controlava a situação, ou pelo menos o tanto que a insuportável da autora permitia. De boas, qual é o problema de a mulher ter o domínio de uma situação, ainda mais na cama? Fazia todo sentido para esses dois personagens, e seria uma forma disruptiva de quebrar o tabu dos romances de época e deixá-los mais interessantes, mas nãaaaaaao, Deus o livre uma mulher saber o que quer na hora do sexo. É um horror.
Por essas e por outras, não consigo realmente me encantar por esses livros de Bridgerton. Eu os leio e eles não mudam, são sempre muito parecidos, as histórias muito repetitivas, sempre os mesmos estereótipos replicados uma e outra vez. É entediante.