Contos reunidos

Contos reunidos José J. Veiga




Resenhas - Contos reunidos


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Arquian 16/02/2024

Finalmente terminei esse. já tinha ficado completamente apaixonado com "Os cavalinhos de Platiplanto", e continuei ainda mais com "A estranha máquina...". fantástico, infância e regionalismo, um encontro de três coisas que gosto muito. quando li os "Objetos turbulentos" ficou ainda melhor, com uma dicção mais urbana, mas sem perder o estilo. ficou como um dos meus escritores favoritos.
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Vitor Hugo 25/06/2023

"Tranquilidade catastrófica"

Tomei conhecimento da literatura do goiano José J. Veiga, falecido ainda em 1999, por intermédio do jornalista Reinaldo Azevedo.

Li, de início, A Hora dos Ruminantes, e fui realmente fisgado pelo estilo marcante do autor. Após, li Sombras de Reis Barbudos, até chegar nesta compilação com mais de 500 páginas, totalizando 52 contos de diferentes fases da carreira do escritor.

O volume ainda conta com um belo posfácio da jornalista Socorro Acioli, que, citando o crítico literário Antonio Candido, caracteriza os textos de Veiga como de uma "tranquilidade catastrófica".

Em boa parte eu diria que se trata disso mesmo, daí porque o autor foi "catalogado" como integrante do movimento literário chamado de realismo mágico, o que, no entanto, era refutado pelo autor.

De todo modo, uma boa parte dos contos leva mesmo o leitor a imergir, na companhia do narrador, em um mundo de estranhamento extraordinário, que acaba por se firmar como uma realidade aceita pelas personagens como ordinária.

Há, todavia, contos que não se caracterizam pelo mágico, são mais, digamos, "pé no chão", mas que possuem uma ternura própria do olhar infantil, tão valorizada por Veiga. Nesse sentido, o belíssimo e triste conto "A viagem de dez léguas".

Em suma, estamos diante de um contista mestre em seu ofício, que capta com extrema facilidade o interesse do leitor, este restando ávido por acompanhar mais e mais as extraordinárias e bem construídas narrativas.
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EduardoCDias 01/06/2023

Merece ser mais conhecido
Um autor importante que eu não conhecia! Misturando realismo fantástico com lembranças da infância e a vida no interior, os contos são fluidos e gostosos de ler, com pitadas de mistério, comédia e aventura. Escrita simples e envolvente.
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Anderson 05/03/2023

Tranquilidade catastrófica
Socorro Acioli nos conta no posfácio do livro que Antonio Candido dizia que o mundo de José J. Veiga era uma "tranquilidade catastrófica", sensação essa que é muito verdadeira quando lemos, sobretudo, as histórias de "Os cavalinhos de Platiplanto".
A reunião da ficção curta de José J. Veiga foi sem dúvidas uma excelente iniciativa da Cia. das Letras. O autor goiano certamente está entre os grandes mestres brasileiros do gênero.
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Biblioteca Álvaro Guerra 24/11/2022

Este lançamento é uma justa homenagem a um dos maiores prosadores da literatura brasileira e também oportunidade para as novas gerações conhecerem a obra de José J. Veiga.
A antologia reúne os contos publicados em Os Cavalinhos de Platiplanto (1959), A Estranha Máquina Extraviada (1967) e Objetos Turbulentos (1997), assim como uma seleção de textos publicados em jornais e revistas no período de 1941 a 1989, sendo complementada por um posfácio esclarecedor de Socorro Acioli e cronologia biográfica de Érico Melo.

Livro disponível para empréstimo nas Bibliotecas Municipais de São Paulo. Basta reservar! De graça!

site: http://bibliotecacircula.prefeitura.sp.gov.br/pesquisa/isbn/9786559210817
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Cassionei 12/11/2021

Contos de relativa grandeza

Eu sou chato quando leio o que os editores denominam de “contos reunidos” ou “contos completos”. Falta um conto nessa obra de José J. Veiga, que a Companhia das Letras está lançando, até três, se considerarmos as narrativas do livro De jogos e festas. Como o próprio autor as chama de novelas, inclusive “Quando a terra era redonda”, com 10 páginas, ignoremos esse detalhe. O positivo dessa edição que chega às mãos do leitor é que podemos ler contos que José J. Veiga publicou em diversos meios e deixou de fora de suas três coletâneas, formando praticamente um novo livro, chamado de “Contos esparsos”.
O livro abre com a obra que, de cara, catapultou o nome de José J. Veiga como um dos grandes escritores da literatura brasileira. Em Os cavalinhos de Platiplanto, de 1959, os contos, em sua maioria, têm crianças como protagonistas e narradores. A visão infantil ou adolescente aproxima os leitores mais jovens da obra, porém os temas são árduos, pesados. A literatura de José J. Veiga é para incomodar. As melhores literaturas incomodam.
No conto que abre o livro, “A ilha dos gatos pingados”, por exemplo, que conheci na escola através da clássica coleção Para gostar de ler, a crueldade do adulto com seu cunhado, o jovem Cedil, faz este fugir de casa, indo para uma ilha abandonada de um rio. Uma história nada infantil, que hoje seria rechaçada pelo pais supostamente mais ciosos da educação de seus filhos. “A usina atrás do morro” também tem olhar do jovem que começa a conhecer o mundo e seus habitantes cujo caráter é sempre duvidoso. A chegada de algo novo na pequena cidade traz a discussão sobre o progresso e suas consequências nem sempre benéficas. Pela primeira vez aparece a questão do “quem são eles?”, que nos remete a Julio Cortázar e seu conto “A casa tomada”, e que permeará toda a obra do escritor goiano.
O conto que dá título ao primeiro livro de José J. Veiga talvez seja o mais infantil. O mundo onírico atravessa o mundo real da criança, que não consegue diferenciar um do outro. É uma narrativa que erroneamente rotulam como realismo mágico, mas é bem claro que a fantasia da história é apenas um sonho do protagonista. Os elementos fantasiosos disfarçados através de sonhos de crianças também são observados em “A invernada do sossego”, em que o menino revê seu cavalo que havia morrido.
Já em “Era só brincadeira”, o narrador é adulto, porém sua visão sobre a realidade é infantil, ingênua, não vendo maldade nas coisas, acreditando ser tudo apenas uma peça pregada no seu amigo pelas autoridades. Outro conto, “Os do outro lado”, nos remete a nossa própria infância, afinal quem não lembra daquela casa diferente das demais, estranha, cujos habitantes eram um mistério para a vizinhança?
O ponto de vista infantil ou adolescente é a tônica também em A estranha máquina extraviada, de 1967, assim como as questões políticas revivem devido ao país ter recém-entrado numa ditadura militar. A perspectiva das narrativas é alegórica, recurso desenvolvido nos romances breves que o consagraram, como A hora dos ruminantes e Sombras de reis barbudos. Quem deixou a máquina na pequena cidade? Por que as pessoas a aceitaram passivamente, inclusive limpando-a e a transformando num ponto de encontro? Por que aceitamos passivamente e nos encantamos com os absurdos que nos são impostos goela abaixo? Os contos de José J. Veiga foram rotulados por alguns críticos como realismo mágico, mas se a realidade brasileira era (e é) surreal, não estaríamos diante de contos realistas?
Meu conto preferido desse livro é “Diálogo da relativa grandeza”, em que dois irmãos discutem sobre o que é grande ou pequeno no mundo. Tudo depende do ponto de vista: “– Está vendo como você não sabe nada? Isso não é monte de lenha. É um monte de pauzinhos menores do que pau de fósforo”. Também relativo é o tamanho do bicho que aparece do nada assustando todo mundo em uma estrada recém-inaugurada, tudo dependendo da imaginação do povo. Trata-se do conto “O galo impertinente”: “as descrições feitas pelos viajantes emocionados iam de pinto a jumento”. Mais um ser que estranho que fere a tranquilidade de um lugar.
O próximo livro reunido no volume só apareceu 30 anos depois do anterior, em 1997. Objetos turbulentos se afasta um pouco mais do fantástico, salvo um ou outro conto, como “Espelho”. Aqui a unidade se dá, como sugere o título, nos problemas que os objetos ou outros utensílios do dia a dia podem trazer aos personagens: o cachimbo que dá certo status mas também pode causar inveja, o caderno de endereços que provoca um equívoco de proporções inimagináveis, um manuscrito perdido num táxi (possivelmente inspirado num episódio que aconteceu com o amigo Murilo Rubião), o cinzeiro que é, literalmente explosivo (no conto mais fraco do livro, devido aos equívocos históricos cometidos pelo autor, que se arriscou a datar seu relato). São bons contos, mas sem o mesmo brilhantismo dos anos 60 e 70.
Aliás, a última parte, “Contos esparsos”, vai retomar alguns textos antigos de José J. Veiga, publicados em jornais, revistas e antologias, entre 1941 e 1989. Não há nenhuma explicação sobre não terem sido reunidos antes em algum livro ou por que ficaram de fora dos publicados, salvo um, “Cai Umahla, sobe Umahla”, que é um capítulo do romance Os pecados da tribo. Para os fãs do escritor, é um belo presente poder ler alguns esquecidos e bons contos, como “Uma simples formalidade” e “Reversão”, este escrito logo depois do segundo livro. Como curiosidade, podemos ler o que provavelmente foi o primeiro conto do autor, o fraquinho “As plumas”, que já tem uma criança como protagonista, e também uma crônica escrita para o Jornal do Brasil, em 1989, por ocasião da eleição presidencial, em que o então candidato Lula é retratado a partir de um diálogo de uma família.
Invejo o leitor que vai ler pela primeira vez José J. Veiga através desses Contos reunidos. A sensação será, garanto, parecida com a de seus personagens, a do espanto, do estranhamento com o diferente. Nesse caso, é positivo nos entregarmos e não questionarmos o mundo ficcional do escritor. Como escreveu o crítico Silviano Santigo, “é preciso que o leitor aprenda a adentrar-se pelo mundo do faz de conta – da escrita ficcional, da esperança e do sonho”.
(Cassionei Niches Petry)

site: https://cassionei.blogspot.com/2021/10/escrevo-sobre-os-contos-reunidos-de.html
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Leila de Carvalho e Gonçalves 15/08/2021

Uma Enciclopédia De Espantos
Numa bem-vinda iniciativa, a Companhia das Letras acaba de reunir em um único livro todos os 53 contos do goiano José J. Veiga (1915-1999), um nome fundamental de nossa literatura, em especial, pelo caráter pessoal e inovador de sua obra.

A bem da verdade, a crítica jamais foi hegemônica na classificação estilística do escritor. Boa parte tende a considerá-lo como integrante do Realismo Mágico, enquanto que outra, apesar de apontar marcas do fantástico, não o insere nessa corrente. Entretanto, também é inegável a presença de aspectos do Impressionismo e do Surrealismo, aliás, Veiga jamais negou a influência de Kafka na sua formação.

Resumidamente, sua obra é uma ?enciclopédia de espantos? que suspendem a tranquilidade do dia a dia e a partir daí, tudo se transforma. O efeito é insólito, uma estranheza impregnada de lirismo que, brutal e até dolorosa, flerta com o onírico e redimensiona a inocência, em especial, da infância mediante uma perspectiva realista, marcada pela crítica social e alegorias políticas.

Como afirma Socorro Acioli no Posfácio, O Jogo dos Dez Encantos que acompanha o livro, esses espantos ou ?sustos são de toda qualidade. Pode ser uma máquina abandonada no meio da rua, que não funciona, não faz absolutamente nada e modifica uma cidade inteira. Pode ser a chegada de uma dupla de forasteiros trazendo uma categoria particular de armagedon. Um objeto mágico encontrado por um indígena, que faz barulho de música, alegra a alma e que vem depois destruir sua ideia de paraíso. Pode ser a lembrança de um passado distante, quando a terra era redonda, junto com a análise dos indícios que podem provar essa realidade.?

O referido texto fundamenta e amplia a discussão sobre a obra de Veiga de maneira didática e despretenciosa, portanto não deve ser deixado para trás, assim como a cronologia biográfica, assinada por Érico Melo. Tais bônus debruçam-se sobre um autor cujos livros são indagativos, não explicativos e que escrevia para conhecer melhor o mundo e as pessoas. Eles ?são um exercício, ou uma aventura, ou um passeio intelectual. Não?acabam? no sentido tradicional, e nesse não acabar é que entra a colaboração do leitor.?

Uma colaboração em que a economia é uma das maiores virtudes do escritor. Por sinal, ela é indispensável para escrever uma narrativa curta, e neles, nunca ?há um detalhamento exagerado, uma coisa fora do lugar, algo que poderia ser cortado sem prejuízos?. O resultado são três livros dedicados ao gênero ? Os Cavalinhos de Platiplanto (1959), A Estranha Máquina Extraviada (1967) e Objetos Turbulentos (1997) ? mais 16 contos esparsos com as respectivas fontes, isto é, jornais e revistas.

Uma lista marcada pela oralidade em que é possível notar o quanto Veiga demorava escrevendo, com espaços de anos entre um livro e outro. Nisso, ele era parecido com seu contemporâneo, Murilo Rubião, que publicou pouco, mas nunca parava de escrever e reescrever. Entre Os Cavalinhos de Platiplanto e o romance A Hora Dos Ruminantes foram sete anos, por exemplo. Talvez, isso seja reflexo por ter começado a publicar maduro, aos quarenta e quatro anos, sem pressa ou ambições. Talvez por ter encontrado o prazer do trabalho com a palavra. Não é todo autor que encontra. Não são raros os depoimentos de escritores com a ideia do escrever sofrido, lastimoso, custoso, dolorido.?

Enfim, Contos Reunidos é um livro que não pode faltar na biblioteca ? física ou virtual? de quem aprecia e prestigia a nossa literatura.

Nota: Adquiri o e-book que, além de ser uma opção econômica, permite transitar entre os contos com mais rapidez.

?Absurdo é o mundo real em que vivemos.? (José J. Veiga)
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Alexandre Kovacs / Mundo de K 08/08/2021

José J. Veiga - Contos reunidos
Editora Companhia das Letras - 536 Páginas - Capa: Kiko Farkas / Máquina Estúdio - Ilustração da capa: Deco Farkas - Cronologia de Érico Melo - Posfácio de Socorro Acioli - Lançamento: 2021.

Este lançamento é uma justa homenagem a um dos maiores prosadores da literatura brasileira e também oportunidade para as novas gerações conhecerem a obra de José J. Veiga (1915-1999). A antologia reúne os contos publicados em "Os Cavalinhos de Platiplanto" (1959), "A Estranha Máquina Extraviada" (1967) e "Objetos Turbulentos" (1997), assim como uma seleção de textos publicados em jornais e revistas no período de 1941 a 1989, sendo complementada por um posfácio esclarecedor de Socorro Acioli e cronologia biográfica de Érico Melo.

Nas narrativas curtas o autor é dono de um estilo único que mescla as reminiscências da sua infância na área rural com um realismo por vezes brutal, sendo por isso considerado em algumas coletâneas – erroneamente ao meu ver – tanto no gênero infanto-juvenil quanto no realismo mágico. Em alguns contos ocorre uma inclinação para o gênero fantástico com tendência surrealista, muito próxima ao estilo de Murilo Rubião (1916-1991), seu contemporâneo. Outra característica marcante é a utilização de protagonistas-narradores, sejam eles crianças ou não, que conquistam o leitor logo nas primeira frases despertando a empatia por meio de textos bem-humorados e de muita sensibilidade.

Com o premiado "Os Cavalinhos de Platiplanto" (1959), sua estreia tardia na literatura aos 44 anos de idade, o autor surpreendeu público e crítica ao apresentar um universo ficcional com base no sonho – em confronto à dura realidade do cotidiano – e na melancolia de um tempo perdido. Somente sete anos depois publicaria um novo livro, o romance "A Hora dos Ruminantes" (1966), o que comprova a sua preocupação com a qualidade e originalidade do texto.

"O meu primeiro contato com essas simpáticas criaturinhas deu-se quando eu era muito criança. O meu avô Rubém havia me prometido um cavalinho de sua fazenda do Chove-Chuva se eu deixasse lancetarem o meu pé, arruinado com uma estrepada no brinquedo de pique. Por duas vezes o farmacêutico Osmúsio estivera lá em casa com sua caixa de ferrinhos para o serviço, mas eu fiz tamanho escarcéu que ele não chegou a passar da porta do quarto. Da segunda vez meu pai pediu a seu Osmúsio que esperasse na varanda enquanto ele ia ter uma conversa comigo. Eu sabia bem que espécie de conversa seria; e aproveitando a vantagem da doença, mal ele caminhou para a cama eu comecei novamente a chorar e gritar, esperando atrair a simpatia de minha mãe e, se possível, também a de algum vizinho para reforçar. Por sorte vovô Rubém ia chegando justamente naquela hora. [...]" - Trecho do conto Os cavalinhos de Platiplanto (p. 38)

Em "A Estranha Máquina Extraviada" (1967), o conto que empresta o título ao livro é um exemplo do humor irônico de Veiga ao descrever uma máquina sem qualquer serventia que se transforma em motivo de satisfação para a cidade: "Ela é o nosso orgulho, e não pense que exagero. Ainda não sabemos para que ela serve, mas isso já não tem maior importância." Um texto que bem poderia ter sido escrito por Julio Cortázar. Outro destaque é Uma pedrinha na ponte, no qual um jovem narrador, nada confiável, cede aos encantos de uma certa Geny, namorada de um soldado que é descrito de forma perfeita: "mãos de dedos cabeludos, como se andasse brincando com água que lavou coador de café; e tem uma brecha grande na testa, acento agudo gravado a pedrada, paulada ou golpe de facão".

"Você sempre me pergunta pelas novidades daqui deste sertão, e finalmente posso lhe contar uma importante. Fique o compadre sabendo que agora temos aqui uma máquina imponente, que está entusiasmando todo o mundo. Desde que ela chegou, não me lembro quando, não sou muito bom em lembrar datas, quase não temos falado em outra coisa; e da maneira que o povo aqui se apaixona até pelos assuntos mais infantis, é de admirar que ninguém tenha brigado ainda por causa dela, a não ser os políticos. / A máquina chegou uma tarde, quando as famílias estavam jantando ou acabando de jantar, e foi descarregada na frente da Prefeitura. Com os gritos dos choferes e seus ajudantes (a máquina veio em dois ou três caminhões), muita gente cancelou a sobremesa ou o café e foi ver que algazarra era aquela. [...]" - Trecho do conto A máquina extraviada (p. 213)

A preocupação com a palavra exata fica clara no conto "Cantilever" que parece demonstrar o fascínio do próprio autor pela linguagem (ler o trecho abaixo). Os protagonistas de José J. Veiga não têm nomes comuns, ele sempre encontra uma forma original de nomeá-los criando um universo ainda mais estranho e único que conta com personagens como: Cedil, Camilinho, Estogildo, Tenisão, Zoaldo, Zaco, Milila e dona Zipa, somente para mencionar o conto de abertura desta antologia: A Ilha dos Gatos Pingados, por sinal também uma linda referência à infância.

"Era um garoto muito curioso, sempre ligado a novidades – e não só: gostava também de explorar palavras. Sempre que via ou ouvia uma palavra desconhecida, antes de ir ao dicionário a revolvia na cabeça se estava no meio de outras pessoas, como um gatinho que pegou um inseto e passa longo tempo esquecido do mundo revirando-o, jogando-o para cima, deitando-se sobre ele, até ele parar de se mexer; se estava sozinho, repetia a palavra em vários compassos, conversava com ela, como se provocando para ver se ela se abria e se revelava. Conforme as respostas, as sugestões que julgava receber, atribuía à palavra um ou mais sentidos; e só então ia conferir no dicionário, como quem confere um bilhete de loteria. E frequentemente se decepcionava também. [...]" - Trecho do conto Cantilever (p. 328)

A habilidade em capturar a atenção é bem resumida no posfácio "O jogo dos dez encantos" de Socorro Acioli: "No caso de Veiga, todo começo de conto é uma promessa, um pacto: escute um bocadinho, tenho algo impressionante a dizer. Em alguns casos a narrativa chega completa. Em outros, é preciso supor, deduzir adivinhar, pressupor [...]". José J. Veiga é um mestre na arte de contar histórias ao atribuir a tão necessária verossimilhança a seus personagens – mesmo nas situçoes mais absurdas – porque eles são criados a partir da essência do ser humano.

Sobre o autor: José J. Veiga nasceu no dia 2 de fevereiro de 1915, em Corumbá de Goiás. Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou na Faculdade Nacional de Direito. Foi comentarista na BBC de Londres e trabalhou como jornalista em O Globo e Tribuna da Imprensa, entre outros veículos. Aos 44 anos, estreou na literatura com Os cavalinhos de Platiplanto. Seus livros foram traduzidos para diversos países, entre eles Portugal, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra. Pelo conjunto da obra, ganhou o prêmio Machado de Assis, outorgado pela Academia Brasileira de Letras. Morreu no dia 19 de setembro de 1999.
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