Roberto 16/04/2024Uma obra multicamadasEssa obra de Jeferson Tenório, é como a pele mesma: formada por várias camadas.
A mais visível - logo, a mais impactante da obra - está relacionada à questão racial. Nessa, o preconceito racial, velado ou não, é patente numa palavra, num chiste, nos olhares, mesmo numa conversa mais séria envolvendo os personagens. E é doloroso perceber o quão arraigada o racismo está em nossa sociedade.
Porém, não é só isso que se pode observar ali.
Percebo uma outra camada, que sugere um romance de formação dos personagens principais, as experiências, as frustrações, as angústias, que os levaram a ser como são na vida adulta.
Há, ainda, a que revela relações interpessoais e intrapessoais em que a busca por um sentido na vida, as culpas, as paixões, o amor, as decepções remetem à complexidade dos relacionamentos e da convivência humanos.
Alinhavando essas camadas está o avesso da pele. É ele que revela que, independentemente do avesso do avesso da pele, todos nós buscamos sentido para a vida, todos precisamos resolver problemas semelhantes, todos temos que lidar com as vicissitudes do viver, todos temos que encarar as complexidades dos relacionamentos, todos buscamos dignidade.
Mas só é assim daquele ponto de vista, o do avesso da pele. Pois quando consideramos a camada visível desta, da pele, é preciso reconhecer que o preconceito, seja ele de que natureza for, acrescenta uma dimensão dramática, odiosa e determinante do destino das pessoas.
O estilo de Jeferson Tenório, nesse livro, não tem rebusco, floreio, enfeite retórico: é direto, preciso, por vezes lancinante.
É uma obra multidimensional, poderosa e indispensável para melhor compreensão de nossa sociedade.