Fabiola.Valentina 24/03/2024
Vou hablar
Para Pressfield todos temos nosso chamado profissional. No entanto o mundo está cheio de pessoas com vidas não vividas. É o autor que não escreve, o dançarino que não dança, o viajante que não viaja, o fotógrafo que não fotografa, e por aí vai. No fim, para ele, só podemos ser algo movidos pela ação. Se iremos fazer ou não aquilo que somos destinados a fazer.
No meio dessa jornada encontramos um inimigo interno que busca nos impedir de sermos o que estamos destinados a ser.
"Esse inimigo se apresentará sempre? Não. Apenas quando aquilo que você pretende realizar o faz subir um degrau na escalada necessária rumo ao seu crescimento como ser humano. Para aquelas "iniciativas" que o paralisam ou o fazer até descer um degrau rumo ao egoísmo, à estagnação e à alienação, a resistência, como diz o autor, "carimba seu passaporte"." Prefácio, Lúcia Helena Galvão.
Apesar das 200 páginas, muitas delas possuem apenas um ou dois parágrafos, o que torna a leitura rápida. É um livro que você consegue devorar em um dia, no entanto não recomendo, o ideal é ler aos poucos e tentar absorver o que foi lido, afinal é um livro escrito para aqueles que querem vencer seus inimigos interiores e isso exige tempo e reflexão sobre o assunto.
O livro é dividido em 3 partes. Na primeira, o autor se dedica a definir como nossa grande inimiga, a Resistência (ou autossabotagem) trabalha sobre nós. Creio que essa foi a parte em que o livro mais conversou comigo, pois como uma autêntica procrastinadora, me vi em suas palavras e definições.
Mas também foi a parte que mais me motivou, pois o autor dá um vislumbre de que se temos dificuldade de realizar algo, é porque aquele algo é importante para nós.
"Regra de ouro: quanto mais importante para a evolução de nossa alma for a vocação ou a ação, mais Resistência encontraremos para concretizá-las." (p.44)
Gostaria de registrar aqui a definição de "resistência e procrastinação" em que o autor escancara como a procrastinação trabalha no nosso dia a dia.
"A procrastinação é a forma mais comum de Resistência porque é a mais fácil de racionalizar. Não pensamos: "Jamais vou compor minha sinfonia". Pensamos: "Vou compor minha sinfonia. Mas começarei amanhã"." (p.53)
Pressfield deixa claro que a batalha contra a resistência deve ser travada de novo TODOS OS DIAS da nossa vida e nunca postergada para amanhã. E portanto, devemos focar em vencer um dia de cada vez. Não foque na perfeição, foque em fazer. Bata o ponto diariamente, e não importa se o que fez está perfeito ou se ainda há algo que ajustar. Apenas faça!
Aqui nessa primeira parte tive alguns desencontros de ideias com o autor. No capítulo "Resistência e automedicação" (p.58) ele menospreza os transtornos mentais, os diminuindo a apenas jogadas de marketing com base apenas no seu "achismo". Discordo veemente dessa posição do autor e a partir desse momento confesso que fui ficando um pouco desconfortável com a leitura. Meio que o livro perdeu a credibilidade para mim, sabe?
Bom, seguindo. Já na segunda parte do livro o autor diferencia um amador de um profissional, onde o amador é aquele que se curva a resistência e o profissional é aquele que a vence dia após dia. Essa parte ilustra algumas formas de como vencer esse inimigo que tantos temos em comum.
"[...] ao realizar o ato corriqueiro e físico de sentar-se e pôr mãos à obra, ele iniciava uma sequência misteriosa, mas infalível, de eventos que produziriam inspiração com tanta certeza quanto se a deusa sincronizasse o relógio dela com o dele." (p.96)
O ponto mais importante, que o autor destaca em diversos momentos da narrativa, é criar uma rotina diária de sentar todos os dias e começar. Ir lá e fazer.
"O profissional aprendeu mais coisas. Respeita a Resistência. Não ignora que, se ceder hoje, por mais plausível que seja o pretexto, terá duas vezes mais probabilidade de ceder amanhã." (p.113)
É uma batalha diária. Uma luta constante em que o inimigo jamais dará bandeira branca e em que você também nunca pode dar-lhe qualquer sinal de desistência.
Na terceira parte o autor viaja na concepção da musa e da deusa. Diz que elas são nossos guias, a força contrária a resistência. E que quando sentamos diariamente para fazer nosso trabalho (o qual somos destinados desde o nascer) nos sintonizamos com essa força superior e somos guiados por ela. É aqui que tudo começa a fluir, como se algo nos puxasse na direção correta.
Eu chamaria facilmente de inspiração, algo que parece vir do sagrado, que nos eleva. É aquela virada de chave que a gente não sabe de onde veio e se aquilo estava realmente ali dentro de nós mesmos esse tempo todo, sabe?
Minhas considerações:
A escrita é fluída, o que torna a leitura rápida. Algumas reflexões do autor inspiram, outras achei uma viagem muito louca, kkkk e outras como descrevi acima, me tiraram do sério (sem risadinha). No geral achei o livro um pouco raso e repetitivo. Mas se lido com um olhar crítico, conseguimos tirar um ou outro aprendizado (e descartar algumas ideias).
EU, particularmente, também creio que temos um chamado, algo que cochicha em nossos corações um sonho que devemos seguir, e o livro também destaca bastante isso (apesar de que nele isso seja mais voltado para o trabalho, olha o capitalismo querendo guiar nossos sonhos aí, kkk). Mas bem, se você também acredita nisso, te convido a ler "O Alquimista" do Paulo Coelho, creio que ele será mais certeiro nesse diálogo contigo.
Nota geral: 6/10