Lucas.Rocha 13/08/2023
O Mito e o Fato
Neste ensaio, o autor é feliz quando discorre sobre o mito cósmico e o estilo de um dos mais notáveis autores do meio, Howard Phillips Lovecraft. Sobre sua mitologia em que ele criou um estilo próprio e sobre um mundo fantástico e tão enigmático. Enigmático por sua mística, filosofia e densidade, que fazem parte de uma narrativa muito peculiar. Narrativa essa que se propõe em trazer ao leitor, quase sempre por meio de um personagem narrador, um temor extraordinariamente excessivo, temor que traz loucura, insignificância e uma verdadeira pequinês do ser humano, diante de seres cósmicos, infinitamente superiores e anteriores a humanidade.
Caio Bezarias traça um paralelo entre o mito e a realidade em que H. P. Lovecraft acreditava e vivia. A obra por muitas vezes traz uma carga sociocultural, que tem pitadas de uma visão racista, retrógrada e xenófoba do autor. Quando esse paralelo é traçado fica claro que o mestre do horror cósmico impregnou em suas novelas e contos, uma visão sociocultural que ele vivenciou em sua época, essa visão descende de uma cultura muito conservadora e que enxergava na migração de estrangeiros, uma eventual '' destruição '' de seu mundo '' perfeito '', e essas hordas de povos não oriundos de uma cultura basilar e desenvolvida, eram vistas com um olhar preconceituoso e antagônico.
Em sua obra isso fica claro, porque quase sempre um narrador se encontra perante uma ??Raça?? ??estrangeira?? que veio para seu mundo, e essa ameaça significa a loucura, a destruição e o fim do seu mundo idealizado, ou seja, um mundo utópico idealizado com perfeição surreal, porém destruído e que nunca será alcançado, pois é imensamente ameaçado por '' invasores '' maiores, malévolos e indiferentes e que certamente querem obliterar sua existência.
A narrativa sempre carregada de descrições detalhadas, os sentimentos emocionais do personagem aflorados ao extremo, muito uso de adjetivos, ajudam a dar mais imersão ao leitor em sua mitologia. O pouco uso de diálogos também colabora para uma leitura mais densa e às vezes maçante, que não agrada a todos.
Por fim, num apêndice de Carlos Primati, é mostrado como essa mitologia foi explorada na sétima arte. Desde os filmes da década de 1930, filmes como (Drácula de 1931) - Diretores: Tod Browning, Karl Freund, adaptação inspirada na obra de Bram Stoker e (Frankenstein, 1931) - Diretor: James Whale, adaptação do romance de Mary Shelley. Porém por sua totalidade absurdamente assustadora e imersiva, algo inominável e subliminar, torna-se não filmável ou inadaptável muitas das vezes. Primati cita várias outras adaptações, tanto lovecraftianas tanto inspiradas no autor, cita autores famosos como Stephen king, que apresenta muitas adaptações de seus livros, devido ao seu estilo, mais dramático e comercial.
Portanto, este ensaio é um guia, para o leitor de Lovecraft, um estudo mais elaborado sobre a mitologia criada pelo cavaleiro de Providence. Sua particularidade, sua visão cosmogônica e sua característica sociocultural, que em paralelo com mito, mostra-se na realidade em que o autor viveu. Para quem lê Lovecraft ou ainda é iniciante no estilo é um bom livro para se aprofundar mais e conhecer as entranhas do Horror cósmico.