Gabo, cronista da América

Gabo, cronista da América Felipe de Paula Góis Vieira




Resenhas - Gabo, cronista da América


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filipetv 11/08/2021

Desde o início da pandemia, em março de 2020, que venho preparando um podcast literário cuja primeira temporada será sobre Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez. Um dos aspectos desse podcast é a participação de pesquisadoras e pesquisadores que escreveram sobre o escritor colombiano e sua obra-prima. E um dos primeiros com quem tive contato foi meu quase xará Felipe Vieira, autor de Gabo, Cronista da América.

O livro é fruto da sua tese de doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em História pela Unicamp, porém o texto, nem de longe, tem o hermetismo da linguagem acadêmica, a não ser na introdução, em que o nível de abstração demanda uma atenção mais minuciosa do leitor.

Ao longo dos outros quatro capítulos e da conclusão, o texto é fluido e acessível, mesmo que trate de temas complexos como a política e a história latino-americanas, sua relação com a literatura não só de García Márquez como de vários outros autores da região e, por fim, a própria vida do autor colombiano, cujo esporte favorito era criar histórias sobre si mesmo, o que punha à prova a capacidade de analistas e biógrafos.

A obra de Gabriel García Máquez é totalmente voltada para nosso continente, e essa dedicação ultrapassa sua produção literária, pois o escritor se aproximou de vários líderes nacionais da região, como o ditador panamenho Omar Torrijos, o presidente colombiano Alfonso López Michelsen e, claro, Fidel Castro, amizade lhe rendeu muitas polêmicas. Essa relação com o poder é tema de um capítulo inteiro do livro e podemos concluir que, se não fosse escritor, García Márquez poderia ter sido um diplomata de muito destaque.

Outro momento interessantíssimo da obra é a conturbada relação do mestre colombiano com o prêmio Nobel peruano Mario Vargas Llosa. A amizade que lhes unia foi minada por alguns eventos e culminou num acontecimento tão peculiar que só poderia ter ocorrido entre dois latino-americanos contadores de histórias.

Para mim, o grande momento da leitura foi a reflexão sobre a máxima de que a História não só é contada pelos vencedores, mas também esquecida por eles. Esse esquecimento é recorrente na obra de García Márquez, que tentou, em sua vida e obra, devolver a história da América Latina aos vencidos.
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