livmchdo 25/02/2023Seria melhor ter ido reler CredenceRaw se apresenta com uma proposta de ser um dark romance taboo que apresenta as situações de forma crua, daí o título. Agora, crua de que forma, você se pergunta? E te respondo que tantas quantas maneiras existem de escrever sobre um tema complicado, a autora com certeza escolheu uma das piores.
Aqui temos um livro que se concentra numa família, que nem me recordo se o sobrenome é mencionado, que consiste em quatro pessoas e um agregado. Temos a Mama, uma mãe controladora e narcisista, o Papa, um homem que tem suas críticas ao capitalismo, mas não consegue expressá-las de forma coerente e nosso casal romântico (sim, é um livro de incesto), os irmãos Vespyr e Fennec. O agregado é o vizinho deles que serve de chofer sempre que alguém precisa ser levado do ponta A ao ponto B.
Começamos o livro entendendo a dinâmica dessa família. O Papa mora no meio da floresta no Alasca. Odeia gente, odeia o capitalismo e se recusa a participar da vida em sociedade. Ele gosta de caçar tudo que ele come e mora numa tenda, mesmo após anos no meio do mato. Ele parece ser uma pessoa aceitável apesar de reclusa. Sinceramente o menor dos problemas nesse livro.
A Mama mora numa cidade no meio do Alasca com seus trinta mil e tantos habitantes. Uma cidade do interior do ponto de vista brasileiro, uma cidade grande do ponto de vista Alascano. Ela demonstra traços de ser uma mãe extremamente controladora e narcisista ao decorrer do livro. Não aceita que lhe falem não em casa, controla todos os aspectos da vida de seus filhos e por mais que seja bem intencionada, suas atitudes são questionáveis.
Já nossa ingênua irreparável, Vespyr, é uma jovem que acabou de terminar o ensino médio e gosta muito do estilo de vida seu pai. O sonho dessa menina era ir morar no meio do nada e na primeira oportunidade que tem, ela se muda para uma região com nada mais nada menos do que 21 habitantes segundo o censo dos gringos lá. Ela sempre sofreu bullying no colégio e não tem grandes sonhos na vida. Aqui vemos a primeira negligência parental. Essa menina muito provavelmente foi depressiva a vida toda e a mãe dela tava lá, olhando pro teto.
O grande problema do livro se traz na forma do personagem do Fennec. Irmão mais velho da Vespyr por 11 meses, eles cresceram juntos e sempre fizeram tudo juntos. Vespyr é bem solitária e dá para perceber que seu único amigo é seu irmão. Não consigo nem imaginar porque ela começa a projetar amor romântico nele. /s
Fennec também ouve vozes. Coisa que sua mãe sabia, uma vez que já tinha obrigado ele a ir ao psicólogo quando ele era criança, mas aparentemente nada foi feito e deixaram ele lá, pimposo e ouvindo vozes. Culmina que esse menino se torna um manipulador de carteirinha e adevonha só quem é a maior vítima dele? Isso mesmo, sua irmã solitária, ingênua e dependente dele para aprovação social.
Esses irmãos moraram juntos da Mama sua vida toda, passando sempre seus verões com o pai. Quando eles terminam a escola, ambos decidem ir se mudar e morar com o pai no meio da vida selvagem. Fennec vai primeiro, uma vez que ele termina a escola antes e, um ano depois, Vespyr também vai.
Chegando lá, Vespyr começa a relembrar uns sonhos meio realistas que ela tinha quando era mais nova. Sonhos sobre beijar seu irmão de noite e fazer coisinhas com ele. Ela mesma começa a se colocar num papo de "não é real, é um sonho lúcido" e quando ela conta pro Fennec sobre isso, ele só usa essa desculpa para começar a fazer gaslighting nele enquanto durante a noite... ai galera, é meio nojento, mas ele bebe o sangue dela quando ela tá menstruada mais de uma vez nesse livro. Tudo isso quando a Vespyr está meio chapada de sono e não sabe dizer o que está acontecendo direito.
Com o tempo a Vespyr vai ficando mais corajosa pra dar em cima dele também, provocar ele e até que eles se beijam e começam a ter um relacionamento. Eles fazem coisas que não estão dentro do meu espectro de kink, então não vou julgar, mas confesso que li que nem a Feyre de ACOTAR leria: com a bile subindo na garganta. Para não dizer que você não foi avisado, nesse livro eles bebem xixi um do outro, tomam sangue de menstruação, comem órgãos crus, tem uns knife play... acho que só deixamos de lado o scat, de resto tudo tem.
O quadro psicótico do Fennec vai piorando conforme as coisas vão ficando mais perigosas e a partir daí coisas acontecem. Vou dizer que o final do livro é bem meia bomba e não faz o menor sentido. Tudo isso que eu apontei aqui, pra me chegar em 90% do livro e a mãe deles quer do nada começar a apontar dedos e falar "nananinão, AGORA que tal evento aconteceu vocês passaram dos limites". Ah, faz favor.
Como pode-se imaginar, Fennec é diagnosticado com esquizofrenia e psicopatia no final do livro, mas sabe como tudo é resolvido? Dois meses de terapia e eles voltam a viver no meio do nada.
Não tem nada pra dar errado. Nadica. Confie no seu potencial!
Pra não dizer que tudo é criticas, teve algo que eu gostei muito nesse livro: a estruturação dos capítulos. Todos eles são curtinhos e com poucas páginas, então parecia que eu estava lendo muito mais rápido do que realmente estava e isso me fez chegar aos 40% em uma sentada. Quando eu vi que estava tão longe, não quis parar e perder mais de 200 páginas lidas, mas saiba que o plot foi um DFN no meu coração.
Queria ler mais coisas da autora, mas parece que ela é bem dada dos watersports e bloodplay, então vamos ler com uma pitada de receio.
Recomendo? De maneira nenhuma. Foge disso. Credence tem a mesma vibe e consegue ser menos pior.