spoiler visualizarMarilda 22/11/2021
Opinião e Fragmentos
“Já conheci muitos homens”, disse Sophia, pousando os braços esguios na mesa, cuja toalha branca estava coberta de guardanapos amassados, manchas de vinho e pedaços de pão meio comidos, “de muitas partes diferentes do mundo, e os homens deste país”, disse ela, piscando os olhos pintados e sorrindo, “são os mais encantadores, mas também os mais infantis. Por trás de todo homem existe a mãe desse homem”, disse ela, “que se preocupou tanto com o filho que ele nunca vai se recuperar disso e nunca vai entender por que o resto do mundo não se preocupa com ele da mesma forma, em especial a mulher que substituiu sua mãe e em quem ele não consegue nem confiar nem perdoar por tê-la substituído. O que esses homens preferem é ter um filho”, disse ela, “porque aí o círculo todo se repete e eles se sentem confortáveis. Homens de outros lugares são diferentes”, disse ela, “mas no fim das contas não são nem melhores nem piores: são amantes melhores, mas menos corteses, ou então são mais seguros, porém menos atenciosos. (110/111)
“Isso faz pensar que a democracia no final das contas não foi uma ideia tão boa assim”, disse ele. (114).
“Talvez em consequência disso, falou, as pessoas que moram no sol não assumam responsabilidade pela própria felicidade.” (118)
“O truque, constatei, era chegar perto o suficiente do que parecia ser a verdade sem permitir que aquilo que você de fato sentia em relação a ela retomasse o controle sobre você.” (11)
“Acho que isso me fez pensar sobre ter um filho”, disse ela por fim. “Você sobrevive à própria morte”, emendou, “e depois não sobra mais nada para fazer exceto falar a respeito disso.” (44)
“Quando ela escrevia não estava nem dentro nem fora de seu corpo; estava apenas ignorando-o.” (44)
“Sabia apenas que o sofrimento trazia consigo uma certa honra, caso você sobrevivesse a ele, e o deixava numa relação com a verdade que parecia mais próxima, mas que na realidade talvez fosse idêntica à verdade de permanecer no mesmo lugar.” (47)
“Vez ou outra”, continuou ela pouco depois, “encontrei pessoas que tinham se libertado de seus relacionamentos familiares. Mas sempre parece haver nessa liberdade uma espécie de vazio, como se para abrir mão dos parentes essas pessoas tivessem sido obrigadas a abrir mão de uma parte de si.” (58)
“(...) fazia parte da natureza humana as pessoas desejarem o mal do outro pelo simples fato de elas próprias terem sido maltratadas; a repetição dos padrões de comportamento era a curiosa panaceia com a qual a maioria das pessoas buscava aliviar o sofrimento causado exatamente por esses mesmos padrões.” (65)
“Talvez, falou, nós só vejamos que estávamos livres desde o início quando já é tarde demais para fugir.” (77)
“A única coisa que se pode afirmar com certeza sobre as pessoas”, disse Ryan, “é que elas só se libertam se a liberdade for do seu interesse.” (79)
“Pelo menos ela ama o meu filho, disse ela, embora eu tenha reparado que as pessoas que mais amam as crianças na maior parte das vezes são as que menos as respeitam.” (95)
“Mas talvez, disse ele, seja a própria intencionalidade da nossa vontade que nos torne cegos para outras realidades.” (115)