Naty__ 09/06/2021O livro já começa com uma frase que nos faz refletir: “Qual interesse nós, brasileiros, poderíamos ter na autobiografia de um homem que foi escravizado nos Estados Unidos e que viveu e morreu há dois séculos?”.
A trajetória de Frederick pode ser classificada como uma das mais impressionantes da história mundial. Antes de partir, ele nos deixou relatos que permitem assistir e refletir como funcionavam as sociedades escravocratas. E é por meio deste livro que nós, caro leitores, podemos sentir, bem pouquinho, o quanto ele sofreu. Douglass deixou registrado nesta obra, de sua própria autoria, suas dores e sua superação. Nasceu escravo, aprendeu a ler, escrever e conseguiu fugir, se tornando um líder abolicionista norte-americano.
Eu sei, muitos não gostam de ler biografias. Inclusive, sou uma delas. Mas quando vi não pude recusar, sabia que a leitura mexeria comigo – e não estava enganada. Encontramos na narrativa os horrores vivenciados pelo autor. Após se libertar e se engajar na luta abolicionista, Frederick percebeu que a abolição não era a solução definitiva – e foi então que tornou-se o principal pensador sobre a precariedade vivida no século XIX.
Durante a leitura, conhecemos pessoas através de suas fotografias, a exemplo de Harriet Tubman, nascida escrava, fugiu e depois ajudou pessoas no caminho da liberdade.
“Nossos compatriotas nas correntes!
O chicote na carne feminina!
E ainda o solo em mancha enrubescente,
Quente, quando a chibata mal termina!
Mãe afastada do seu filho amado!
Eis imagem de Deus em venda e nada mais!
AMERICANOS postos no mercado
A preço de ouro, feito uns animais.”
O conhecimento da narrativa de Douglass para nós, brasileiros, é essencial, pois nos permite pensar a história da escravidão aqui no Brasil e fazer um comparativo, com muitas semelhanças e diferenças a serem consideradas. Iniciando pelo tamanho dos territórios, a situação de colônias que se tornam independentes de suas metrópoles, a importância econômica e social da importação de seres humanos como escravos, a intensidade e as formas de tráfico de pessoas escravizadas em larga escala, o recurso à reprodução interna de pessoas escravizadas como forma de substituir o tráfico, as amplas consequências sociais que fazem da escravidão algo sempre presente – inclusive nos dias atuais. Além de muitas outras.
É um livro que pode ser trabalhado nas escolas, nas faculdades e em qualquer disciplina. Ficamos indignados com a forma que as pessoas tratam as outras, com preconceito, racismo. Até hoje muitas pessoas são vítimas de trabalhos escravos. Não é porque houve a abolição que parou de existir. No estado de Minas Gerais, uma mulher, negra, de 46 anos, ficou 38 anos, TRINTA E OITO ANOS vivendo em condições análogas à escravidão. Ela não recebia salário, não tinha direitos, e vivia reclusa, sob a vigilância dos patrões até o final de novembro de 2020, quando foi resgatada de um apartamento no centro de Patos de Minas.
Desde 1995, mais de 50 mil pessoas foram resgatadas em situação de escravidão no Brasil. Infelizmente, isso ainda existe. E é revoltante.
Inclusive, hoje, enquanto faço essa resenha, uma mulher grávida, negra, chamada Kathleen Romeu, foi vítima de uma bala perdida no Rio de Janeiro durante um tiroteio entre (adivinhem!) policiais e bandidos. E os argumentos dos policiais são sempre os mesmos… Os bandidos começaram a atacar e eles apenas se defenderam. Não tem nada a ver com escravidão, é só para mostrar que os negros ficam numa posição desfavorável, como se a cor da pele fosse mais importante do que o seu caráter. Como eu disse, é revoltante!
Espero que vocês leiam este livro e analisem mais as coisas ao nosso redor.
site:
http://www.revelandosentimentos.com.br/2021/06/resenha-frederick-douglass.html