Edson Lima 26/06/2022
A transcrição do percurso de vida de uma família, durante um cortejo inusitado. As seções de expressões são rigorosamente atribuídas e secretam uma linguagem interna próxima ao pensamento fluído, que se exterioriza à medida que a exposição dos eventos se tornam necessários para que a família continue a se mover, mesmo que seguindo esse cortejo.
O realismo trágico do banal que Faulkener extraí de pessoas que são a paisagem do que os Estados Unidos era e ainda é em muitas regiões. A morte só aparece verdadeiramente no esquecimento e é o pilar central, a parede de sustentação da casa que está desmoronando. Quando deixarem de se importar uns com os outros, quando deixarem de se amarem e que esse amor os mantenha unidos, ainda então é que ruirão as bases da família. E é através das feridas que se alargam entre as relações interpessoais que a morte se espalha pela realidade, quando se torna algo cotidiano.
É uma leitura exigente, quase um enigma cujas pistas estão espalhadas e hermeticamente encerradas em esconderijos escuros. Faulkner não informa, ele esconde as peças desse quebra-cabeças com a imagem de um outro tempo e, assim, cabe ao leitor juntar as peças da história. O leitor deve se adaptar à psicologia de cada personagem, pois cada capítulo contado por um personagem é uma espécie de monólogo. Este método faz parte do que se chama fluxo de consciência e que também se encontra em Virginia Woolf e outros. Então, a narração polifônica nem sempre segue um desdobramento puramente cronológico; flashbacks, elipses narrativas e às vezes delírios reais ou palavras infantis entram em jogo.Não esqueçamos que os narradores são diversos e representam idades tão diferentes e uma infinidade de personagens.
Trata-se mais de expressão íntima e monólogo interno do que de narração real; em outras palavras, o narrador não procura informar o leitor, mas expressar seus sentimentos, justificar seus atos, julgar os atos dos outros e, às vezes, dar rédea solta às suas divagações.