Carla Verçoza 16/03/2021
Gostei do olhar do autor sobre o cotidiano e a guerra.
Alguns recortes:
"As páginas que eu virava soavam como asas.
?A alma é um pássaro?, disse ele uma vez.
No meu livro cheio de figuras
Uma batalha rugia: lanças e espadas
Formavam uma espécie de floresta fria
Com meu coração cravado e sangrando em seus galhos."
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"Preocupados Anônimos
Somos uma seita apocalíptica
Com adeptos que chegam a milhões.
A garçonete que sai para um cigarro rápido
E o cachorro amarrado à porta do banco,
Não precisamos de crachás para nos reconhecer.
Internos de prisões, hospitais e hospícios invisíveis,
É chegada a estação de vagas premonições,
Pensamentos tempestuosos, espirais de pânico.
Ontem algum sortudo ganhou na loteria
Uma senhora morreu atingida por um tijolo.
O modo como o casal de velhinhos enlaça as mãos ?
Talvez recém-saídos de um elevador
Onde ficaram presos por horas,
Gratos pelo alívio, antes que uma nova preocupação
Se aproxime para escurecer seu dia."