A visão das plantas

A visão das plantas Djaimilia Pereira de Almeida




Resenhas - A Visão das Plantas


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Ana Sá 29/07/2023

O cultivo de uma pessoa tenebrosa
Em "A visão das plantas" (2019), a escritora luso-angolana Djaimilia Pereira de Almeida decide provocar suas leitoras. Nessas breves páginas, somos apresentadas ao Capitão Celestino, um homem de idade avançada que após cometer crimes brutais em seus anos em alto mar, volta a sua casa e passa a estabelecer uma relação bastante afetuosa e delicada com seu jardim. Sem demonstrar vontade de redenção, a personagem é o que é: um idoso convictamente inescrupuloso capaz de zelar e contemplar os mínimos detalhes de cada folha e flor por ele cultivadas.

E aqui encaminho a resenha pro fim, pois tudo sobre o livro está dito. Em quase 100 páginas, a narrativa nos mantém num lugar de desconforto semelhante ao dos vizinhos de Celestino: inquietos, passamos a leitura toda tentando identificar pelas frestas qualquer explicação pra aquela junção do grotesco com o afetuoso. Parece pouco pra uma trama, mas é um "pouco" tão intenso.

Eu já tinha gostado muito do premiado "Luanda, Lisboa, Paraíso" (2018), e agora sinto que me tornei sua leitora de carteirinha, mesmo havendo aspectos de estilo que escapam um pouco ao meu gosto literário. Devido a excessos de poesia, eu considero que o lirismo é a dor e a delícia da escrita da autora; ora me encanta, ora me confunde ou me cansa. Mas apesar disso, exalto novamente Djaimilia... Num tempo de maniqueísmos e reducionismos, ela nos convida a uma leitura com poucas respostas, marcada por um modo gentil, mas não por isso condescendente, de encarar de perto o (des)humano.
JurúMontalvao 29/07/2023minha estante
?


Flávia Menezes 29/07/2023minha estante
Bela resenha, amiga. ??????




Leila de Carvalho e Gonçalves 14/03/2021

O Jardim
A angolana Djaimila Pereira de Almeida é uma das mais promissoras vozes da literatura lusófona. Para se ter ideia, aos 28 anos, ela foi vencedora do Prêmio Oceanos com o livro Paraíso e no ano ano seguinte, 2020, travou o segundo lugar na mesma premiação, dessa vez com uma novela.

Intitulada A Visão das Plantas, ela reúne reflexões filosóficas e uma invulgar beleza poética, para apresentar em 80 páginas, uma narrativa bastante peculiar sobre as condições que uma pessoa deve impor a si mesmo para poder sobreviver.

Sua história foi inspirada num trecho de outro livro, Os Pescadores de Raul Brandão, que se distingue por ser um dos preferidos de Djaimila. Nele, o escritor comenta ? en passant ? sobre as pessoas que conheceu, quando era levado pela mão até ao colégio. Entre elas, está o capitão Celestino:

?Tendo começado a vida como pirata a acabou como um santo, cultivando com esmero um quintal de que ainda hoje não me lembro sem inveja. Falava pouco. ...A sua vida anterior fora misteriosa e feroz. De uma vez com sacos de cal despejados no porão sufocara uma revolta de pretos, que ia buscar à costa de África para vender no Brasil. Outras coisas piores se diziam do capitão Celestino? Mas o que eu sei com exactidão a seu respeito é que para alporques de cravos não havia outro no mundo.?

Cravos cultivados pelo capitão no quintal da casa onde nasceu e partiu ainda adolescente, para seguir uma vida de aventuras. Seu regresso, já idoso, foi marcado pela má fama que o precedera, provocando medo e distanciamento dos habitantes da vila. Entretanto, isto jamais lhe incomodou, pois apenas nutria uma certa simpatia pelas crianças, ?criaturas perfeitas, sem dores, ressentimentos ou crendices?.

Em linhas gerais, a novela descreve os últimos anos de vida desse capitão. Uma lenta decadência enquanto ele constrói um jardim e esse convívio com a natureza, algo que realmente lhe apraz, assume contornos cada vez mais complexos, conforme sua cegueira avança e a demência embaralha as lembranças.

?As plantas viam?no como um olho de vidro vê a passagem das nuvens. Elas e o seu amigo eram seiva da mesma seiva, da mesma carne sem dó nem piedade. Atrás das costelas, no lugar do coração, o corsário tinha uma planta. E, por tudo isso, não o julgavam.?

Por sinal, essa cegueira pode ser entendida como uma metáfora para o afastamento das culpas de Celestino, condição que lhe permite uma consciência tranquila e pende sobre uma temática recorrente na obra de Djaimila: as relações assimétricas que não deixam claro com quem está o poder, no caso, quem domina e quem está sendo dominado.

?Não era mais Celestino que tomava conta das flores, mas elas que tomavam conta dele. Tinha medo delas, medo de que o agarrassem pelas pernas e o estrangulassem...
Quase fora deste mundo, o jardineiro deixara de ser o jardim, porque o jardim se tornara jardineiro do jardineiro.?

Curiosamente, A Visão das Plantas é uma história isenta de julgamentos que multiplica questões ao invés de respondê-las, permitindo ao leitor explorá-la sob distintas perspectivas. Para tanto, a escritora escolheu escapar do óbvio, focar no passado do protagonista, para priorizar sua última realização: um jardim. Essa escolha ocorreu após Djaimila ver numa revista a fotografia de um homem cego no jardim que ele mesmo cultivava e quem quiser conhecê-la, a imagem está na capa da edição portuguesa do livro; já na edição brasileira, ela foi substituída provavelmente por conta da lei dos direitos autorais.

Enfim, se você pretende escapar do óbvio como Djaimila, recomendo.

?O quintal amanhecia sob o nevoeiro salgado. Aos poucos, a neblina levantava, revelando a cor das flores. Os borrões grená, amarelos e turquesa, esbatidos na palidez aguada, sem deixarem perceber o contorno das pétalas e a realidade dos caules, pareciam planar na atmosfera. Às vezes, uma auréola teimosa de nuvem mantinha?se sobre os canteiros depois de a névoa se ter dissipado. Celestino, emergindo da bruma, contemplava a condensação do tom das suas barbas. Soprava o fumo da cigarrilha para cima da auréola que, perfurada, se arrepiava com o bafo quente e se retraía como um balão tímido tocado por uma agulha. A neblina trazia até ao jardim o cheiro das algas e das ondas, cujo ronco, nos dias de tempestade, chegava até à casa. Era quando o quintal se fazia um castelo de areia, jardim erguido à beira?mar. E o velho capitão regressava por instantes à infância de menino na praia. Se começara a vida brincando aos marinheiros, a atirar?se de cabeça do pontão, acabava?a brincando aos jardineiros.? (posição 46)
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Maria4556 02/10/2021

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Comecei o livro não entendendo do que se tratava e depois percebi uma mescla de um passado cruel com um presente marcado por uma sensibilidade muito triste e melancólica.

?Temia enlouquecer do correr das horas, da cadência das ondas, a ampulheta no fundo de tudo era o seu antagonismo?
.
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?Eram chamadas à realidade, mas o que é real para um moribundo??
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Renata (@renatac.arruda) 23/01/2022

Há tempos queria ler Djaimilia Pereira de Almeida e resolvi começar com este pequeno livro, que encabeçou várias listas de melhores de 2021.

Não foi uma tarefa tão simples. Mais do que o conteúdo, a autora prioriza o trabalho de linguagem aqui e exige uma atenção redobrada para que o ritmo não seja perdido. Não é um livro que dá pra ler de forma displicente, para passar o tempo.

O livro fala sobre um idoso que viveu como capitão de navio negreiro. De volta à sua terra natal, ele não se arrepende nem sente remorsos de nada, nem de atirar pessoas ao mar ou tirar a vida de crianças, entre outras coisas. Desprovido de empatia, o único vislumbre de sensibilidade que o pirata demonstra é ao cultivar seu jardim, tendo as plantas como suas únicas companheiras. Apesar disso, não parece ser por acaso que ele passa a ter visões de pessoas que matou -- o que não é nenhum tormento, mas uma forma de não chegar sozinho ao inevitável fim.

Inspirada por uma passagem de uma crônica do livro "Os pescadores", do autor português Raul Brandão, que fala sobre um certo capitão Celestino, que viveu como pirata e morreu como santo, Djaimilia procura explorar a vida interior dessa personagem tão intrigante em um romance cheio de pequenos detalhes, fragmentos de lembranças, pensamentos e anotações costurados em uma prosa poética que quem se distrair pode acabar não captando.

Para alguns, pareceu prolixo. Para mim, soou inspirado e original -- mãos menos habilidosas falhariam miseravelmente na experimentação mas Djaimilia Pereira de Almeida mostrou ter pleno domínio do seu projeto. É um livro gracioso, que consegue extrair beleza de onde muitos só veriam horror.
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Julio.Gurgel 24/05/2021

A visão das ciladas
Há uma leva de autores portugueses (e alguns angolanos) que fazem um sucesso danado com histórias fabulescas construídas em transe poético. Geralmente são narrativas com uma pegada moral e cheias de passagens instagramáveis.

Valter Hugo Mãe, Afonso Cruz, Ana Margarida de Carvalho (para citar apenas os que eu conheço) são mestres nisso. Djaimilia, pelo visto, quis garantir sua fatia nesse bolão de mercado.

Mas o resultado é morno. O mote de A visão das plantas é legal - um ex-capitão de navio negreiro que amarga seus últimos dias na solidão e na decrepitude - o texto é bonito e tal, mas a impressão é a de que o estilo dominou a autora, e não o contrário.

Cadê a voz de Djaimilia? O texto parece qualquer coisa escrita 300 vezes por valter-hugos, afonsos e margaridas.

O ponto positivo do livro é o tamanho. Com apenas 88 páginas, dá pra passar adiante rapidinho.
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Giovana 31/03/2021

Muito bonito. Fala sobre a vida de um homem que foi terrível e que retorna a sua velha casa para viver o final de seus dias. A autora utiliza das plantas e seu universo com muita delicadeza.
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day t 28/03/2021

Enfadonho
Fazia tempo que tinha me demorado tanto num livro curto. A escrita é bem poética, e bem metafórica ? o que em certo ponto me incomoda um pouco ?, a história é interessante e bem triste. É sobre um ex capitão de navio negreiro que era muito violento ? com os negros, mas não só, também com crianças, etc. Esse capitão retorna, impune, a sua casa de quando era criança, e a casa está vazia (todos os seus familiares já não existem mais), e ele começa a cuidar do jardim, despretenciosamente. Mas vê naquele jardim um lugar de paz, onde ele consegue dar o melhor dele. E aí são 85 páginas sobre essa relação dele com as plantas, e com tudo o que ele fez, a forma como as pessoas enxergam ele, a forma como ele se enxerga. É um homem extremamente solitário, vazio, que envelhece ao lado das plantas, que lhe são o que há de mais precioso. O final do livro é bem triste.
Enfim, não gosto de dizer que um livro é ruim e, de fato, este não é um livro ruim, mas não me afetou em nada, não me prendeu, achei a leitura arrastada e esperava muito mais da história.
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@emedepaula 13/04/2021

O jardim desperta, o mar vem buscar
“Celestino tinha os pés pesados. Ninguém sabia onde estava, caminhando dentro do estômago de Deus: a floresta. Mas não apeteceu a Deus engoli-lo.”

Eu estava completamente equivocado. Julguei mal a grandeza desse pequeno livro. Reli algumas passagens e realmente reavaliei minha leitura [enquanto ainda está fresco na memória]. A língua causa sim um estranhamento pela aderência à um português mais arcaico, mas isso é um dos pontos que torna esse livro tão bonito. E a história é de um refinamento ímpar. Djaimilia conseguiu algo grande. É ótimo ter contato com livros que talvez não serão best-sellers, mas qual conteúdo certamente transcenderá os tempos. Belíssimo.
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Wanessa Braga 23/01/2022

A vida das plantas
Não gostei.
É sobre Celestino, um velho capitão de navio negreiro que volta pra sua abandonada casa e passa seus últimos dias cuidando do seu jardim. Foi chato ler e grazadeus o livro é bem curtinho pois só assim eu consegui terminar.
Tenho certeza que o livro tá coberto de metáfora que infelizmente não soube captar. ?
Talvez vocês tenham mais sorte que eu.
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Verissimo 10/07/2022

O homem que encarna
E o homem encarna aqui no que deposita seu amor. Nas plantas, na terra, lá sua própria relação com essas coisas.
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Hono 29/04/2024

Musgo, muco, mocô: um breve comentário.
Vou começar pelo final: o Padre Alfredo deseja os tesouros do Capitão Celestino?
De qualquer jeito, o que é atado em vida dificilmente é desatado na morte.

Esse é livreto muito sensível, cada leitor vai sentir à própria sorte as palavras doces da autora, mesmo que o teor sempre seja amargo e rançoso.

Uma dica aos Navegantes: 'Dias Perfeitos', 2024, e 'Meu Pai', 2020, são filmes que podem ajudar a traduzir o lado sensorial do livro para aqueles que tiverem dificuldade na leitura, assim como eu.
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Lurdes 06/02/2022

A Visão das Plantas é uma leitura ao mesmo tempo terna, revoltante, comovente e perturbadora.

Não é para menos.
Nosso protagonista é um ex capitão de navio negreiro, com um passado de crueldade que pesa sobre suas costas e suas lembranças.

Ao fim da vida, quase cego e iniciando um processo de demência, ele retorna à casa onde cresceu e passa a cultivar um jardim.

Capitão Celestino, este é seu nome.

Os vizinhos conhecem as histórias aterradoras e muitos evitam, até mesmo, passar por sua calçada. As crianças vivem um misto de medo e fascinação. Algumas poucas vizinhas, em consideração à memória de sua mãe, ainda se permitem alguns gestos mais generosos, como alcançar algum alimento.
A única visita que Celestino recebe é do Padre Alfredo, que gostaria que ele se confessasse e se arrependesse de seus pecados.
Mas Celestino não está arrependido. Ou está?
A delicadeza e cuidados dedicados às suas plantas teriam tornado Celestino um homem melhor?
Não é o que parece.
A dureza, instalada nele, está de tal forma solidificada que não pode ser extinta.
O que resta a Capitão Celestino é dedicar às plantas o afeto, cuidado e preocupação que ele nunca teve por nenhum ser humano.
E o que ele recebe de volta?
Flores viçosas, com cores e odores inebriantes que passam a ser sua razão de viver.
Mas as plantas não se importam.
Se não o julgam, tampouco podem lhe oferecer qualquer sentimento de carinho ou agradecimento pelos cuidados.
Elas vivem, crescem, florescem, não por, ou para ele, mas porque é de sua natureza.
Quando iniciei a leitura me senti muito incomodada porque não conseguia aceitar uma escrita tão bonita e poética com um protagonista tão escroto.
Estas contradições deixam a leitura ainda mais intensa.
Uma sacada de mestre usar da delicadeza para denunciar a barbárie.
Terminamos o livro com um aperto no coração.
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Elza.Fatima 05/11/2021

Achei linda a escrita da autora, uma escrita poética . Conta sobre o fim da vida de um velho pirata comerciante de escravos .
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Mari 25/10/2021

Não gostei muito!!
Este livro não faz o meu estilo. Tem uma escrita poética e nada me prender. Infelizmente um livro que não funcionou comigo. Mas resolvi terminar porque o livro é bem curto.
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Elisana 20/11/2021

Diferente
A proposta é um tanto diferente. Apresenta uma linguagem poética, as descrições se aproximam bastante de poemas mesmo. Eu achei um tanto confuso. Primeiro livro da autora que leio.
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