Invasão Bárbara 05/11/2023
A visão das plantas
A Visão das Plantas conta a história do Capitão Celestino, pirata e traficante de escravos do século 19. Um homem cruel e brutal que volta para a casa litorânea onde nasceu, com o intuito de passar lá seus últimos dias. Não fica claro em qual país, mas pareceu ser Portugal.
Celestino tem vários crimes na sua conta. Os dois piores foram degolar um grupo de holandeses que cuidaram dele, quando o encontraram quase morto na beira da praia, e matar sufocados um porão inteiro de escravos que viajavam no seu navio.
Ao retornar para seu primeiro lar, o capitão começa a plantar um jardim. Ver as flores e frutas que crescem sob seus cuidados, silenciosos e sem se importarem com quem ele foi ou fez no passado, passa a transformá-lo.
Os vizinhos o temem. As crianças curiosas para ouvir as lendas e o padre local fazem parte das poucas pessoas que o visitam, ainda que assustados. Enquanto o tempo passa, Celestino vai se tornando mais humano, frágil, apaixonado pelo novo trabalho e assombrado pelos seus fantasmas pessoais.
Um ponto curioso é que o pirata não tem consciência de que está se transformando, tudo que sabe é que aquelas plantas o mantém preso ali, como num cárcere. Esse amadurecimento involuntário me remeteu ao Desonra, do escritor sulafricano J.M. Coetzee, onde o protagonista encontra a redenção mesmo sem ter compreendido a gravidade dos seus atos.
A narrativa em A Visão das Plantas não é linear, intercala o passado e o presente do personagem, além de capítulos com textos curtos, quase aforismos, que para mim não funcionaram bem, eles sempre me tiravam da imersão da leitura.
Falando nisso, a autora é uma angolana que atualmente vive em Portugal, por isso algumas palavras do livro são um pouco estranhas para nós, mas nada que atrapalhe.
Ainda sobre a Djalmilia, a escrita dela é linda e sensível, e é muito interessante ver a escravidão pelo olhar de uma mulher negra e nascida na África. Ela não mostra essa tragédia da humanidade com ódio, mas com algo que pareceu ser uma tristeza melancólica. Um sentimento de perda, talvez?
O livro foi um dos ganhadores do prêmio Oceanos de 2020.
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