rxvenants 03/08/2021Sem desenvolvimentoAVISO: O ponto principal desse livro são os personagens usarem sangue para suas magias e o livro é cheio de cenas deles se cortando. Se você é sensível a automutilação, não leia o livro ou leia com cuidado.
Eu fiquei super animada pra esse livro, principalmente porque ele seria uma recontagem de A Chapéuzinho Vermelho mais sombrio.
Eu acho que o livro tem a estética do conto da menina da capa vermelha, mas para mim, essa é de longe a única coisa que funcionou.
Não sei se vou conseguir expressar as minhas frustrações, mas vamos lá. Vem aí resenha gigante.
For the Wolf tem essa premissa (spoilers): A Primeira Filha é destinada ao trono (aqui temos a Neverah) e a Segunda (Redarys) para o Lobo (Eammon), que consequentemente é de Wilderwood (a floresta).
Basicamente, o reino era coberto de magia e monstros até os Cinco Reis barganharem com a floresta para mantê-los presos. Então a floresta criou uma prisão chamada Shadowlands e precisou de toda a magia que corria livre para manter a prisão.
Chegaram o primeiro Lobo e a primeira Segunda Filha fugindo de um dos reis e eles barganharam por acolhimento e viraram parte da Wilderwood e meio que guardiões marcados, dando sangue e magia para a floresta para acabar com as brechas causadas pelas criaturas de Shadowlands (nesse meio tempo, os reis viraram uma ameaça e tentaram pegar a magia da floresta para eles e foram presos também).
No final, eles tiveram o Eammon, morreram e ele virou o Lobo e a floresta ainda precisava de Segundas Filhas, então o reino mandava pra que os monstros não fugissem, até que chegou a Redarys e o resto é história.
A sensação que eu tive enquanto lia foi de que a autora pensou muito no universo (e ainda tem algumas falhas em relação a isso) e nos pontos impactantes que a história poderia ter e na vibe sombria e não deu a mesma atenção ao desenvolvimento das relações entre os personagens, suas histórias pessoais e até seus sentimentos.
Eu realmente cheguei no final do livro não sentindo a mínima empatia por nenhum dos personagens pois eu mal sabia o que eles sentiam e nem entendia as motivações deles para fazerem o que faziam.
O livro tenta te entregar esse sentimento de que as irmãs fariam tudo uma pela outra, mas não mostrou realmente ações de como a relação entre elas era forte. No começo, elas têm algumas cenas juntas que são bem frias e o livro meio que fala que elas são como carne e unha e você é obrigado a engolir essa relação.
E as passagens da história são cheias disso: não há nada que nos mostre momentos cruciais para conexão entre e com os personagens, mas precisamos engolir que as coisas funcionam assim. Essa situação ocorre também pra momentos importantes pro decorrer da história, em que precisamos ver os personagens sendo um pouco inteligentes e não tirando conclusões do **.
Alguns exemplos de relações e coisas importantes que não são desenvolvidas, só jogadas na cara do leitor:
? O relacionamento entre Arick e Red (vemos os dois juntos UMA vez durante um baile e a autora diz que ele ama ela e eles já ficaram várias vezes pois ela se sentia sozinha, mas nenhum dos dois comenta ou lembra pelo menos uma vez desses momentos ou das conversas que tiveram) ? A mesma coisa com Neve e Raffe (que se beijaram DO NADA, sendo que eles conversaram que nem duas pedras) e a dinâmica Arick-Red-Neve-Raffe, que são amigos a longa data, mas nunca vi sinal disso;
? O momento em que a Red simplesmente diz, que pensou muito no que tinha visto da irmã no espelho (um espelho estilo Bela e a Fera) e tinha suspeitas que as sentinelas cuidando da floresta que sumiram tinha a ver com ela. Tipo, garota??? Não foi mencionado UMA vez sobre ela pensar nisso pra ela chegar nessa conclusão. O parágrafo menciona que ela pensou muito nisso, mas simplesmente não tinha nada disso antes;
? O relacionamento entre a Red e o Eammon, que não foi desenvolvido bem. Os dois mal falaram sobre algo além da Wilderwood e do nada eles se amam. O relacionamento parece mais ser construído a base de pena e dó (da Red para com o Lobo) e culpa (do Eammon, de não ter salvado as outras Segundas Filhas) do que amor de verdade. Foi bem bizarro, especialmente quando ela afirma nunca ter amado o Arick (que supostamente passou muito mais tempo com ela que o Eammon), mas ama o Lobo que ela mal conversa. Não é um insta-love, mas o desenvolvimento foi muito estranho e mal feito;
? Kiri, as sacerdotisas e a relação com Shadowlands e os Reis. Pelo amor de deus, eu entendo que os reinos querem os Reis de volta e eles são tipo divindades, mas COMO esse grupo, principalmente a Kiri, conseguiu tantas informações sobre a magia de Shadowlands??? Poderiam argumentar que foi de Solmir, um dos reis que escapou, mas ele escapou DEPOIS da Kiri conversar com Arick e Neve sobre resgatar os Reis e "salvar" a Red.
Eu entendo que talvez a autora quis deixar isso para a sequência (não me parece isso, pra ser honesta) e que talvez Shadowlands barganhou com ela da mesma forma que fez com Arick, mas essas são informações CRUCIAIS pro arco de For the Wolf, deveria ter sido comentado.
? Fife e Lyra, os "escudeiros" do Lobo, que tiveram suas histórias resumidas a, no máximo, 5 parágrafos (3 deles lá pros 10% finais do livro). A Lyra inclusive a gente descobre quase no final que é tipo uma lenda da cidade de onde veio, mas isso nunca é dado importância. Ela agora é livre e espero que tenha mais dela no segundo.
? As magias de Red e o desenvolvimento dela nesse aspecto: a Red por grande parte do livro só sabe falar do acontecimento quando ela tinha 16 anos que a Wilderwood colocou a magia nela e como ela tem medo da magia. E aí quando ela resolve que quer melhorar e pede ajuda pro Eammon, a coisa que ele diz é que a magia é questão de intuição... Eu fiquei BEM decepcionada. Depois ela chega à conclusão que a magia é relacionada à proximidade com o Eammon, mas graças a falha de desenvolvimento entre os dois, fica bem sem graça. Tem uma parte que ela inclusive controla a magia simplesmente do nada, sem pensar no Eammon e sem estar com ele e não há explicação de como ela fez isso.
Eu tenho diversos outros exemplos, mas acho que é suficiente pra essa resenha.
Outra coisa relacionada a escrita são as DIVERSAS repetições de cenas e as emoções quase inexistentes de todo mundo. Eu não tenho dedos suficientes pra contar quantas vezes eu li que o Eammon arrumou o cabelo ou passou a mão de sangue verde no rosto ou que as expressões ou olhares dos personagens eram "unreadable" (ilegível, não poderiam ser reconhecidas).
Me incomodou demais ler isso todo capítulo.
O relacionamento dos personagens já não foi bem explorado e aí eu acho que a autora quis manter essa aura de mistério das emoções que eles estavam sentindo, só piorando a chance de eu me conectar com eles.
Ninguém demostra nada, todo mundo tem a postura rígida e quando reagem, reagem de maneira que não pode ser lida ou de maneira "dormente". Ninguém demonstra nada e eu não poderia me importar menos com cada um deles.
Nas repetições de cena, acredito que cerca de 30 ou 40% do começo é marcado pelo Eammon sangrando e a Red salvando ele. Toda vez era a mesma coisa, eu cheguei a ficar tentada a pular alguns capítulos, pois tudo parecia mais do mesmo (também me deixou pu** como as visões da Red foram colocadas com o único intuito de achar o Eammon quando ele tava ao ponto de ser drenado ou morto, nada além disso ? pura conveniência).
E falando sobre os personagens, eu sinto que todo mundo teve a personalidade de uma porta. Ninguém se destaca.
Eu poderia falar sobre o Eammon e a Red, mas sinto que gosto mais da ideia deles na minha cabeça do que o que foi colocado no livro, então nem sei o que dizer.
Eu não me conectei com nenhum deles e na metade, eu meio que tava torcendo pra Wilderwood acabar com tudo.
As narrações da Neve especialmente foram um saco. Ela era muito menos interessante que aqueles ligados à Wilderwood (que é o melhor personagem dessa história).
Já sobre outro aspecto que me incomodou, foram as constantes variações entre "esses personagens são super dotados de inteligência" e "burros pra um c**alho".
Em alguns momentos, parecia que o Lobo era o grande conhecedor da verdade (sem falar da Red descobrir da ligação da irmã com Shadowlands do nada), em outros os personagens não conseguiam ver o que estava na frente deles.
? O "Arick" chegou RASTEJANDO FALANDO COM VOZ DAS CRIATURAS DAS SOMBRAS no portão do Keep e a Red magicamente não sabia que era um monstro;
? Nunca passou pela cabeça da Red mandar algo ou ir até a irmã falar que ela não tava sendo coagida a ficar lá, mesmo quando ela soube que poderia. Quando ela descobriu que a irmã estava fazendo merda, ela decidiu transar e esperar uns dias pra ir no reino parar tudo sabe-se lá por qual motivo (não querer deixar o Eammon, poupe-me);
? Neve ficou meio que obcecada pelo poder, mas ao mesmo tempo não. Eu não entendi se ela queria ou não mais de Shadowlands, pois ao mesmo tempo que parecia que sim, ela ficava com o pé atrás com várias coisas. No final, ela meio que ficou em cima do muro. Mais de "qualquer coisa", mais de nada, de nenhum sentimento real, bom ou ruim;
? Depois da batalha final (que foi BEM morna), Red barganha com a criatura Eammon-Wilderwood pra ele voltar e ele volta. Ficou totalmente sem sentido os personagens terem se "preocupado" tanto, sendo que era só barganhar de novo com a floresta. Foi uma solução rápida demais e simples demais. Se era só pedir pra tudo voltar, o Eammon nem precisava ter passado o inferno do livro inteiro tentando manter a Red longe de ter raízes da floresta nela e morrer sem sangue. Era só ele tirar a marca dela, virar o bicho e voltar ao normal depois.
Eu exagero na situação, mas foi nesse sentido que tudo poderia ter acontecido.
Enfim, não quero me estender muito mais, mas parece que essa preocupação da autora de manter a atmosfera sombria só causou problemas para os desenvolvimentos tanto da história, quanto da reação do leitor com ela.
Eu senti diversas vezes que cenas importantes tiveram seus impactos excluídos por conta da falta de cuidado com a expressão de pensamentos mais humanos. Os personagens raramente apresentam dúvidas sobre quem são e suas existências e isso pesa quando precisamos acreditar que eles são impactados por suas decisões e as coisas que acontecem ao seu redor.
Fiquei bem brava, bem decepcionada e até cansada desse livro. Não gostei nada do sentimento que fiquei de ter lido a ficha dos pontos mais importantes e do universo da autora do que uma verdadeira narrativa emocionante.
Bom, é isto. Vai ter continuação e eu com certeza não vou ler. Eu não vou aguentar um livro inteiro da Neve.
P.S.: NÃO GOSTO de comparar histórias, mas difícil ler esse livro e não pensar nas semelhanças das florestas de For the Wolf e Enraizados de Naomi Novik e tudo que Enraizados faz de melhor. Gosto muito de florestas vivas em livros e sinto que se você chegou ao final desse textão e quer uma recomendação, deveria dar uma chance ao livro de Naomi.