Resenhas -

Ronaldo Thomé 18/08/2023

"A Morte Caminha com Você (...)"
Pesado e sombrio livro que me serviu de primeiro contato com a obra de Ana Paula Maia, este trabalho esconde algumas boas surpresas e flerta com o horror psicológico. No livro, vemos o dia a dia de Edgar Wilson, e seu parceiro Tomás, que trabalham como removedores de animais mortos em uma estrada. O lugar exato não é mostrado, o que confere uma certa universalidade à obra, pois percebemos que a história poderia ter acontecido em qualquer lugar do Brasil, ou até do mundo.

Um dia, a vida de Edgar é virada de cabeça para baixo quando ele encontra o cadáver de uma mulher enforcada nas proximidades da rodovia. A partir daí, vemos o absurdo descaso, o "jeitinho" e os muitos esquemas ilegais que ocorrem nos interiores do nosso País, um a um apresentados como desafios que Wilson e Tomás enfrentam para despachar o cadáver (acrescido de outro homem, levado para o depósito onde trabalham posteriormente).

O que poderia ser um simples romance de investigação policial acaba se tornando, nas mãos de Ana Paula, uma verdadeira pérola em que se mesclam o terror psicológico, o humor negro e uma poderosa crítica social. Edgar e Tomás não são investigadores; não lhes preocupa saber o que ocorreu com essas pessoas. Eles apenas querem dar um fim digno a esses corpos, e até nisso encontram (inúmeros) empecilhos.

A autora também constrói bem seus personagens: Wilson e Tomás são pessoas bastante dimensionais, capazes de atos tanto positivos como negativos (alguns, revoltantes; outros, redentores). Ambos têm passados nebulosos e guardam segredos. Você percebe que a amizade de ambos é bastante sincera, ainda mais porque (pelo menos em minha percepção) a autora os apresenta como dois solitários.

É um ótimo livro, com passagens bem violentas e perturbadoras (talvez possa despertar alguns gatilhos), que vale muito a pena para se conhecer uma autora contemporânea com um trabalho caprichado e inteligente. O final talvez possa deixar algumas pessoas confusas, mas vale a pena dentro da obra como um todo.

Indicado para: quem deseja uma boa leitura, que combine suspense, humor negro, crítica social, na qual a conclusão é triste e inescapável.

Nota: 10,0 de 10. 

Dica: leia ouvindo "Death Walks Behind You", na versão da banda Paradise Lost (para combinar com o clima macabro de algumas passagens do livro)!

rschuwenk 04/07/2023

Enterre seus mortos
Frio, rasga e corta a garganta a primeira vista. Por ser normal. O banal do dia a dia não assusta mais ninguém.

dodo 06/02/2023

enterre seus mortos, todos eles.
o paralelo entre o animal morto e a decadência do ser humano no livro, não é tão distante quanto parece.
a ana paula maia consegue se manter como uma das melhores escritoras nacionais, e a minha favorita, facilmente. usando o edgar como o principal e o seu trabalho mórbido, ela dá vida aos mortos. descreve os seus finais, nunca os seus começos.
o tomás, apesar de secundário, tem a sua importância. todos os outros personagens são ditos como algo a se pensar, e eles são sempre ligados a morte. ao final de alguém, de algo.

Juh 29/01/2023

Um livro que demonstra a dureza e perversidade da vida, dos humanos, da sociedade.

Prefiro textos mais poéticos, por isso não atribuí uma nota mais alta.

Leio, logo existo 04/12/2022

LEIA ! :)
O livro “ENTERRE SEUS MORTOS” escrito pela carioca Ana Paula Maia nos apresenta uma narrativa diferente e instigante.

Depois de ficar tanto tempo lendo textos exageradamente longos, encontrar uma história concisa e envolvente foi um grande alento para meu coração leitor (kkk). Porém, não se engane, pois o enredo do livro é denso, apesar das poucas páginas.

O enredo principal do livro conta a história de Edgar Wilson, um homem cujo trabalho é recolher animais mortos em uma rodovia para evitar acidentes. Um elemento interessante da narrativa é o fato de não sabermos exatamente onde e quando tudo acontece.

A rotina de recolhimento de carcaças de Edgar Wilson transforma-se completamente quando certo dia ele encontra o corpo de uma mulher morta na mata às margens da rodovia. Edgar fica incomodado com o fato do corpo não ser imediatamente encaminhado ao IML, pois o carro da polícia está quebrado. Mesmo desobedecendo as regras da empresa de recolhimento de animais, Edgar, com a ajuda de seu amigo Tomás , resolve levar o corpo para a cidade mais próxima e garantir que não fique abandonado na mata, à mercê dos predadores.

A narrativa de Ana Paula Maia é bem objetiva e fluida, contudo nos causa um certa estranheza. Enquanto o texto segue seu fluxo, ficamos nos perguntando - onde?, quando?, por quê?, como - o tempo todo. Eu ouso dizer que há em seu texto uma grande influência de realismo mágico, de reflexões filosóficas e religiosas. Esses elementos não são tão óbvios, mas permeiam todo o texto.

Sobre o personagem principal, destaco o fato de Edgar Wilson ser um homem de poucas palavras e ciente de seu papel no mundo. Ele possui seu próprio código de conduta e está conformado em viver rodeado pela morte. O amigo de Edgar, Tomás, também merece destaque. Ele é um ex-padre que foi expulso da Igreja porque assassinou um homem, vive angustiado por esse passado, mas também encara sua existência com naturalidade e resiliência. Nas cercanias da rodovia, ele é convocado pela população sempre que acham que há a necessidade da presença de um sacerdote.

A construção do espaço onde a história se desenvolve merece um olhar mais atento do leitor. Em pinceladas bem sutis é possível deduzir que Edgar Wilson está inserido em um contexto desolador. A pobreza e a tristeza estão subentendidas e nos parece que a religião é a única instituição que consola essas vidas.

Para finalizar, neste livro há um elemento que não é explorado com profundidade, mas que auxilia na construção do ambiente e seja talvez o elemento que alça a história ao patamar do sobrenatural: o sumiço dos animais. Edgar Wilson, em alguns momentos nos aponta que há pouco trabalho, pois o número de animais próximos à rodovia está diminuindo a cada dia. À medida que diminuem os animais na rodovia, o número de ocorrências relacionadas à pessoas mortas ou doentes parece aumentar. Assim, o homem que antes recolhia carcaças de animais, torna-se responsável por recolher pessoas.

O livro “ENTERRE SEUS MORTOS” possui um grande potencial interpretativo, eu não consegui dar conta de todas as camadas, mas já foi o suficiente para me encantar por essa história. Depois da leitura desse livro estou cativada pela escrita de Ana Paula Maia e quero loucamente ler outros livros dela. Recomendo a leitura.

Rafael V. 18/07/2022

Pouco para um, bom para outros
Esse primeiro livro da trilogia é um tanto quanto banal, mas a leitura caminha fácil e tranquila, o livro é relativamente curto e deixa um certo suspense para a leitura do próximo.

Me disseram que era um livro maravilhoso, achei ok.

Fernanda 24/06/2022

Enterre seus mortos Ana Paula Maia
Edgar Wilson encontra dois corpos humanos. Ele resolve tentar dar um fim descente aos corpos com a ajuda de Tomás. Gostei de como o livro é escrito, a realidade em que a história passa é bem sem esperança, ainda que Edgar e Tómas tentem fazer o que se propõe a fazer. E também vejo como uma denúncia da autora a respeito do mal funcionamento do sistema público, a corrupção e tráfico ilegal de corpos.

Christiane.Sérgio 16/06/2022

Tudo muda quando Edgar Wilson encontra, em sequência, dois corpos humanos abandonados e a partir daí ele tenta dar um fim descente a estes corpos com a ajuda do seu colega Tomás.

Uma história muito interessante que mostra a decadência do sistema público, a corrupção e tráfico ilegal de corpos. Se algo lhe parece familiar, com certeza não é uma mera coincidência.