Thais Lima 31/07/2023
“Você não quebra, diamante ardente”
Eu confesso que hesitei muito tempo para ler esse livro. Na época que eu comprei, a autora ainda tinha Amazon outra série de livros que foi pela qual eu iniciei minha aventura no Astraverso: Casa de Inverno e Maldição (porque, segundo eu vi não lembro onde, cronologicamente essa série viria antes de Lágrimas de Diamante). A empolgação de acompanhar esse universo de transformou em frustração porque — e sinto muito confessar isso — eu achei CIM bem ruinzinho. Li o primeiro e o segundo livro, e como não gostei, acabou me travando para Lágrimas de Diamante também, que eu esperei até agora para finalmente ler.
E felizmente eu tomei essa decisão, porque caso contrário eu teria perdido uma das melhores experiências da minha vida como leitora.
O crescimento e a evolução de Alycia Carvalho nesse livro é gritante. É nítido como ela se esforçou e estudou muito para criar o universo de Niheria, e o cuidado que ela teve para o desenvolvimento dos personagens. A habilidade de criar personagens tão envolventes, que se tornam uma parte especial do leitor como se fossem reais, poucos autores dominam. E Alycia dominou tal habilidade como ninguém. Eu perdi as contas de quantas vezes eu sorri e quase chorei com os personagens, senti ódio e senti amor. O final especialmente me fez segurar as lágrimas para não chorar em público, exatamente porque consegui sentir dentro de mim a saudade, a emoção e a alegria dos personagens.
Quero fazer um adendo especial para falar sobre Alila Ame que, pra mim, foi a personagem mais bem escrita e desenvolvida nesse livro (não que a Aretta não tenha sido, mas minha relação com a Alila foi muito mais forte e impactante). Apesar do backstory da personagem não ter sido ao todo revelado na narrativa, as coisas que são reveladas e as peças que você consegue encaixar sobre ela fazem o leitor entender porque aquela pequena criatura, envolta em tristeza e melancolia, é tão temida e tão poderosa. Os POVs da Alila partiam meu coração, porque eu sei como é sentir sozinha em um lugar onde parece que todos odeiam você. Eu não tive como não me identificar com ela.
Aretta também foi uma personagem que eu gostei muito (e a que eu mais temi odiar, visto que eu não consegui gostar da protagonista de CIM). Apesar de Aretta ser teimosa e bastante irritável, esses traços da personagens podem ser irritantes mas de uma forma que se torna compreensível. Aretta é determinada, focada e obstinada, e tem uma personalidade muito forte que acaba resultado em um coração que guarda mágoa e tem dificuldade de olhar ao redor e enxergar a outra perspectiva, quando está com raiva e se sentindo traída. No entanto, a autora molda esses traços da personagem lentamente, e diante de tudo que ela passou, sua falta de escolhas e a personalidade dura, se torna muito crível que ela demore tanto a finalmente abaixar as defesas e enxergar o outro lado da moeda. Aretta não é uma pessoa ruim, mas um pouco difícil de lidar. É uma pessoa com defeitos de qualidades, e gostei bastante que a autora criou uma protagonista humana que comete erros e pode ser irritante várias vezes, mas ainda assim ser uma protagonista que te fazer conseguir enxergar sob a ótica dela.
Todos os personagens são bastante convincentes. Nehra e Ishan também são perfeitos (meus queridinhos), mas darei destaque somente à Alila e Aretta nessa resenha HAHAHAHAHA. Mas saibam que todos os personagens são fabulosos.
O livro também tem uma boa dose de romance, mas fiquei aliviada que a trama romântica é desenvolvida em paralelo, e não atrapalha a narrativa principal como MUITOS livros de fantasia com romance fazem, sobrepondo o romance à trama fantástica. Lágrimas de Diamante se preocupa mais em desenvolver os aspectos políticos e fantasiosos de sua história,, entregando um universo bem estruturado, convincente e bastante rico em detalhes. Sim, você vai entrar no universo de Niheria sem entender nada. Mas vai terminar entendendo tudo, porque as respostas são dadas gradualmente ao decorrer da narrativa, sem tornar a história chata com páginas e páginas seguidas de explicações.
A única coisa que senti falta foi um glossário no livro com as espécies e subespécies. São muitas, e não consegui decorar todos os nomes. Acho que a autora poderia considerar incluir esse material no livro, ajudaria muito pessoas esquecidas como eu. São muitos termos diferentes e isso pode acabar confundindo o leitor.
Bem, esse livro determinaria se eu daria mais uma chance à Casa de Inverno e Maldição, que está sendo reescrito pela autora. E a resposta é sim, eu lerei CIM reescrito. Compreendo que a primeira versão de CIM foi escrita numa época em que a autora era mais inexperiente e ainda estava explorando a escrita fantástica, mas acho que ela deixou mais do que provado de que ela estudou, se esforçou e aprendeu muito. Tenho certeza agora que a nova versão de CIM vai me encantar, tanto quanto Lágrimas de Diamante.
Posso dizer sem medo que Alycia Carvalho é uma das maiores escritoras da fantasia nacional. Mal posso esperar para ler os próximos livros da série Erytheia!