Evy 05/04/2023"Todas as vidas são únicas e incomparáveis"Sabe quando uma história é tão boa que você não sabe por onde começa a falar dela? É o meu caso com Parthenon Místico. Tem tantas particularidades e pontos importantes a serem citados dessa obra na resenha, que eu estou com medo de deixar alguma coisa passar. Peço desculpas de antemão se acontecer, mas vou tentar colocar tudo que me encantou em palavras que nem de longe farão jus a essa obra.
A obra se passa no Brasil do século XIX, em Porto Alegre dos Amantes, onde a tecnologia a vapor permitiu a existência de carruagens sem cavalos (nem amei!), máquinas voadoras e prodigiosos robôs autômatos. Esse cenário compõe o subgênero literário da ficção científica conhecido como Steampunk, que traz obras literárias ambientadas no passado, no qual os paradigmas tecnológicos modernos ocorreram mais cedo do que na história real. Ou seja, temos em mãos, uma narrativa retrofuturista criada pelo premiado autor Enéias Tavares.
É valido ressaltar a qualidade narrativa e o cuidado que o autor teve com os mais pequenos detalhes dessa história que a tornam tão única, já que, apesar de ser uma obra contemporânea, a grafia utilizada na história acompanha o século no qual ela está inserida, trazendo inclusive uma nota introdutória onde o autor se desculpa por quaisquer falhas robótica nesse retorno temporal. Isso atrelado a construção de personagens fantásticos e ao enredo entregue em "noitários" (estou apaixonada) que são espécies de diários onde os personagens vão deixando suas impressões de situações e momentos, torna, como já falei, essa obra, especialmente única.
Para os amantes da literatura brasileira, um olhar mais atento vai trazer à luz alguns personagens já conhecidos de outras obras nacionais, além dos originais criados para compor esta série transmídia que é a Brasiliana Steampunk presente não só neste livro, como em Lição de Anatomia (também lançado pela Darkside Books), série de TV e quadrinhos. São personagens inusitados, extremamente diversos em vivências e estilos que se unem para criar uma sociedade secreta chamada Parthenon Místico em prol de um único objetivo: enfrentar a Ordem Positivista Nacional, uma organização criminosa que defende a eugenia e a pureza da raça branca.
Encontramos nesta obra então relatos de muito preconceito com negros, mulheres, índios, homossexuais e todos aqueles que fogem à "normalidade" e "superioridade" imposta pela Ordem Positivista, que inclusive faz experimentos tenebrosos nestas pessoas de forma não voluntária no intuito de comprovar suas convicções. É contra isso que o Parthenon Místico luta, buscando a igualdade social, racial e de gênero. Tentam expor os crimes hediondos através da publicação de um almanaque, mas são chamados de anarquistas e caçados. Importante ressaltar também, o cuidado do autor com a representatividade no livro. Os personagens que compõe o Parthenon Místico, embora lutem por um objetivo comum, são extremamente diferentes entre si: negros, brancos, indígenas, robôs, idosos, jovens, e o casal protagonista que é homoafetivo. Isso agrega valor a história com vivências bastante significativas e importantes.
Ambientação nacional e temporal perfeita, personagens incrivelmente bem construídos, enredo fluído e extremamente envolvente e abordagem de temas importantes e necessários é o que você vai encontrar nesta obra incrível que me fez rir e chorar. Falar mais que isso pode estragar a experiência de leitura, então vou apenas finalizar ressaltando, e correndo o risco de chover no molhado, a qualidade da edição da DarksideBooks que traz ilustrações dos personagens, mapas, e qrcode com conteúdos inéditos e transmidiáticos para enriquecer a leitura.
Sem mais, super recomendo a leitura!
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