erbook 14/11/2021
Obra prima sobre a desigualdade social
?É do inferno dos pobres que é feito o paraíso dos ricos?. Essa frase condensa a espinha dorsal deste grande clássico: a desigualdade social. A leitura, embora possua muitas camadas, flui tranquilamente com diversos pensamentos existenciais da natureza humana. Victor Hugo, escritor francês, nesta obra faz críticas contundentes à aristocracia inglesa dos séculos XVII e XVIII, com rituais e solenidades estritas para o exercício do poder, comparando-a muitas vezes aos deuses gregos do Olimpo.
Gwymplaine, menino órfão, com rosto desfigurado propositalmente nos lábios, é abandonado à própria sorte pelos ?comprachicos? (traficantes de crianças), quando estão fugindo da Inglaterra. Ao procurar abrigo, sozinho, com frio e fome, encontra uma menina dormindo sobre o corpo da mãe falecida. Acolhe-a e continua a procura de ajuda num ambiente invernal e hostil, só encontrando amparo com o andarilho saltimbanco chamado Ursus, artista pobre, inteligente e solitário, amigo de um lobo chamado Homo.
Desse encontro casual ou do destino, surge uma família incomum: Ursus, Gwymplaine, Dea (a menina cega) e o lobo Homo. Esse lobo é calmo e confidente (discrição em pessoa), o que me fez lembrar da cachorrinha Baleia de Graciliano Ramos em Vidas Secas. A partir dessa família singular, Gwymplaine se torna um artista nômade que vivencia a experiência dos miseráveis de várias regiões da Inglaterra, mas deixo para a curiosidade dos leitores a apreciação das numerosas aventuras, com direito a reviravoltas no enredo e final emblemático.
Por fim, menciono que o autor faz duras críticas à brutalidade do sistema de justiça inglês no final do séc. XVII, bem como apresenta pensamento humanista em favor dos miseráveis, numa sociedade em que poucos detinham muito poder e riqueza às custas do trabalho de inúmeros infelizes. O discurso final de Gwymplaine vale o livro!