Fernanda631 29/12/2022
A Garota Perfeita
A Garota Perfeita foi escrita por Mary Kubica e foi publicado em 29 de julho de 2014.
Mia Dennett sempre possuiu sonhos e ambições bem diferentes das de sua família, desde cedo contrariou o desejo do pai e seguiu o caminho oposto ao que o Juiz Dennett vinha traçando para ela. Mia não faria faculdade de direito e não seguiria os passos do pai autoritário que nunca lhe dedicou o amor de que precisava, ao invés disso ela decidiu ser professora.
Isso bastou para que ela ganhasse a desaprovação completa do pai, afinal era inadmissível para um homem tão poderoso e influente, ter uma de suas filhas dando aulas para jovens carentes ao invés de advogando nos grandes tribunais, mas o juiz ainda tinha Grace Dennett, sua filha mais velha e orgulho pleno, ao contrário da irmã, Grace fez tudo certo e tornou-se uma grande advogada cuja carreira segue em ascensão.
No meio disso tudo está Eve Dennett, esposa e mãe, que não possui voz ativa dentro do seu próprio lar (se é que se pode chamar a casa dos Dennett de lar), submissa ao marido e quase sempre indiferente as filhas, Eve existe em uma vida sem cor e sem afeto. Essa é claramente a descrição de uma família esfacelada
Mia é a filha não exemplar do importante juiz Dennett de Chicago. Logo que entrou para a faculdade, ela fez questão de se desvencilhar das amarras do pai. Sonhadora, ela deixou a mansão dos pais para trás e optou por dar aula na periferia da cidade. Ela é professora de Artes em uma escola infantil de jovens humildes, e desaparece misteriosamente da noite para o dia.
Ela queria contribuir para que o mundo fosse um mundo melhor. Só que quando o assunto era romance, ela não era uma pessoa tão decidida. Seu namorado sempre tem algo mais interessante para fazer do que se encontrar com ela.
É numa noite, depois de levar mais um bolo dele, que Mia conhece Owen, ou melhor, Collin Thatcher e depois de um breve papo, eles deixam o bar em direção ao apartamento dele. O encontro dos dois não é uma mera coincidência. Collin a seguiu durante dias para mapear seus passos e concluir com êxito sua missão: sequestrá-la.
Inicialmente, por conta de suas transgressões na adolescência e seu histórico rebelde, ninguém da muita atenção ao seu sumiço, seus pais acreditam ser só mais um de seus episódios para chamar a atenção deles. Contudo, conforme o tempo passa, torna-se cada vez mais evidente que algo aconteceu a ela.
Os dias passam sem que eles continuem sem nenhuma notícia, e muitas perguntas sem resposta começam a aparecer. Se foi sequestro, porque ninguém entrou em contato? Se ela esta bem, porque não entra em contato? Meses após seu sequestro, ela é encontrada em uma cabana, e para piorar ela não se lembra de nada do que aconteceu em seu cativeiro.
O responsável pela investigação foi o habilidoso Gabe Hoffman. Apensar do juiz não confiar nenhum pouco no seu trabalho do detetive, ele estava determinado a encontrar a garota. De fato ele a encontrou meses depois, sozinha, em estado de choque, em uma cabana a muitos quilômetros de casa. Infelizmente, ela não consegue colaborar com as investigações da polícia. Algo aconteceu e seu cérebro não quer se lembrar daqueles dias em cativeiro.
Se eu precisasse resumir esse livro em uma única frase, seria: uma história intrigante que vai te conquistar nas primeiras páginas. Narrada por três personagens e forma não linear, a autora proporciona ao leitor uma visão completa sobre o antes, o durante e o depois do sequestro. Collin vai nos dizer como o sequestro se desenrolou, enquanto Eve Dennett, a mãe de Mia, e o detetive Hoffman alternam entre as investigações e a recuperação da garota.
A narrativa de A Garota Perfeita se alterna de acordo com as perspectivas da mãe de Mia, de seu sequestrador e do investigador responsável pelo caso. Assim, de acordo com saltos cronológicos que alternam os meses em que Mia esteve desaparecida com os subsequentes ao seu retorno, pouco a pouco vamos compreendendo sua história.
O início de cada capítulo identifica o narrador e o momento da história, que é dividido em antes e depois de encontrarem a Mia. As histórias se desencontram, mas sempre guiando o leitor a um mesmo ponto. Essa narrativa intercalada costuma me agradar muito, mas aqui, ela só me fez ficar aflita. Eu queria descobrir qual seria a sequencia dos acontecimentos, e por conta disso acabei devorando o livro rapidamente.
O mais interessante foi não ter Mia como narradora, que é uma característica esperada em um thriller psicológico. O leitor vai conhecê-la através dos olhos daqueles que a cercam, ao mesmo tempo em que conhece a fundo a vida dessas pessoas. E é aquilo, conhecer alguém pela visão de outra pessoa sempre trás uma dose de subjetividade.
O que primeiramente chamou minha atenção em A Garota Perfeita foi o fato de não termos a voz de Mia na narrativa como já mencionei, e sim das pessoas que a rodeiam. Diferentemente do esperado no gênero, são as outras personagens que contam sua história e é o psicológico delas o explorado pelo leitor. Dessa maneira, aos poucos compreendemos as relações familiares entre Mia e seus pais, as motivações e a vida do sequestrador, e a própria conduta do investigador do caso. E conhecemos Mia apenas pela visão desses personagens.
Durante toda a história senti falta do ponto de vista de Mia, mas começava a me resignar com essa ausência quando de repente, eis que surge um capítulo, assim do nada, narrado por Mia, e olha que é algo pesado. A autora deixou ao encargo de nossa protagonista a responsabilidade de nos mostrar qual foi a real de tudo a verdade que ela viveu, como já disse antes, não trata-se de algo inimaginável, e justamente por isso mexeu comigo, como assim isso nem sequer passou pela minha cabeça?
Até quando eu cheguei no último capítulo, e a reviravolta final fez com que eu visse o livro com outros olhos, e compreendesse todas as artimanhas de Mary Kubica. Fui surpreendida como poucas vezes fui, em termos de mistérios em um livro.
No geral, A Garota Perfeita foi uma leitura que me prendeu e me cativou, e conseguiu me surpreender por completo ao seu final, fazendo com que tudo antes dele tenha valido ainda mais a pena. Misturando suspense ao mergulho da psique humana, o livro faz com que reflitamos sobre bem, mal e loucura, além de nos fazer olhar para as decisões de cada personagem sem chegarmos, ao certo, a uma opinião final sobre elas.
O final do livro é surpreendente. Se você é daqueles que gosta de conferir as últimas páginas no meio da leitura, já deixou um aviso: não faça isso. A autora guarda o desfecho até o último segundo e você não vai querer perder a oportunidade de ficar de queixo caído.
A garota perfeita é uma trama até simplista que desperta as sensações mais inesperadas e contraditórias, conforme conhecemos as histórias e as cargas dos personagens, nos vemos reféns de uma afeição pegajosa que não nos abandona nem mesmo após o término da leitura.
Conforme conhecemos os dois lados da moeda se torna impossível não tornar-se solidária aos dramas vividos tão intensamente nessas páginas, seja uma mãe que vê sua filha desaparecer, um garotinho abandonado pelo pai que assumiu para si a responsabilidade de cuidar da mãe doente (quem será esse?) ou uma garota ignorada e desprezada pelo pai.
Essas e tantas outras são cargas distintas, mas que provocam a mesma dor e solidão, personagens quebrados e perdidos que após o sequestro de Mia Dennett viram o trem de suas vidas finalmente entrar nos trilhos ou descarrilhar completa e irreversivelmente de uma vez por todas.