Ana Júlia Coelho 04/05/2024Paula, de 28 anos, começa a se sentir mal por conta de uma doença genética. O quadro evolui da pior forma possível, levando a jovem ao coma. Ao lado da cama da filha dentro de um hospital, Isabel vai escrevendo em um caderno sua própria história – consequentemente, a história da filha -, esperando que Paula acorde em breve e leia suas memórias.
De início Isabel escreve de forma como que se estivesse conversando com a filha, basicamente uma grande carta com destinatário certeiro. Mesclado com lembranças do passado, Isabel também vai atualizando Paula sobre seu estado de enferma e com foi passar esses longos meses aguardando uma resposta ao tratamento. À medida que o tempo vai passando e os médicos vão demonstrando certo pessimismo com o estado da paciente, nota-se a esperança indo aos poucos embora, a ponto de a narrativa da segunda parte não ser mais destinada à Paula. Óbvio que Isabel ainda deseja que a filha acorde, mas, quanto mais o tempo passa, mais ela percebe que isso não vai acontecer.
Sobre o passado de Isabel, eu achei fabuloso a forma com que ela escreveu de forma poética e respeitosa sobre tudo o que viveu. Livros sobre memórias, biografias, eventos reais, tendem a ser mais densos, de leitura difícil, mas, enquanto lia Isabel, me senti conversando com uma conhecida e me interessando cada vez mais pela história. Desde a infância complicada até seus amores, passando por sua carreira de jornalista e pelo choque da Ditadura Militar no Chile, tudo que foi narrado é rico de emoção e aprendizado.
Acho que me identifiquei mais com a história por ser sobre alguém que morou próximo, que passou por situações que aconteceram no Brasil e que consigo visualizar com facilidade, então me senti lendo quase um livro nacional, com a qualidade de uma história traduzida. Sobre a história passada ao lado de Paula, apesar de todo o conhecimento espírita que Isabel tem, ela mostra como foi difícil aceitar perder Paula aos poucos e a resistência de abrir mão daquela presença física, mas vazia. O final me pegou, foi lindo o jeito com que Isabel narrou os acontecimentos, mas não cheguei a chorar.
Para mais resenhas, me siga no instagram @livrodebolsa